ALERTA: 3ª onda da Covid-19 em RO mata menos, mas contamina mais

Com dificuldades no atendimento das unidades públicas, hospitais particulares também estão lotados por causa de surto de doenças

ALERTA: 3ª onda da Covid-19 em RO mata menos, mas contamina mais

Foto: Divulgação

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Já não bastasse o medo e as dificuldades para encontrar atendimento para a Covid-19, Rondônia também enfrenta um surto de gripe/influenza (H3N2). 
 
O resultado da busca por consultas e testes está resultando em filas gigantescas nas unidades básicas de saúde em Porto Velho. Quem tem plano de saúde, busca atenção em hospitais e clínicas particulares. 
 
Porém, até nesses locais, teoricamente com mais profissionais, estão sofrendo com o alto número de casos das doenças virais. Os relatos são os mais variados, como da funcionária pública federal Eliana Santos, de 29 anos.
 
“Na primeira semana do ano em casa estavam todos bem gripados. Minha mãe estava um pouco mais debilitada, então levei ela em um hospital particular e eu fui para outro, pois temos planos de saúde diferentes. Cheguei por volta das 20 horas. Estava lotado, com muitas crianças e adultos. O atendimento estava bem desorganizado. Três pessoas apenas no balcão, que não estavam dando conta de atender as pessoas por ordem de chegada. Fiz a triagem bem rápido”, afirmou ela
 
Mesmo com muito incômodo pelos sintomas, Eliana teve que aguardar por quase quatro horas sem ser atendida. 
 
“Estava tossindo bastante e várias outras pessoas ao redor também. Fiquei em contato com minha mãe por telefone, que também disse que lá estava lotado. As crianças, notei que foram atendidas bem rápido pelo pediatra de plantão. Já os adultos, a cada 50 ou 60 minutos chamavam um. Fiquei lá até umas 23:30h. Ainda pedi o número da ouvidoria do hospital para denunciar a falta de educação dos atendentes e fui embora”. 
 
A servidora pública federal queria mesmo era que sua mãe fosse atendida, já que ela tinha sintomas mais acentuados, além de comorbidades.
 
“Minha maior preocupação era minha mãe que tem doenças crônicas, mas ela me falou que havia pouco tempo que tinha sido atendida. Conseguiu bater um raio-x do tórax e estava aguardando para retornar com o médico. O local estava, realmente estava lotado, já que havia apenas um médico no pronto socorro e os pacientes reclamando da demora. As enfermeiras tentavam acalmar o pessoal. Quase 2 da manhã, enfim minha mãe foi chamada novamente. O médico avaliou o raio-x e disse, que por muito pouco, ela não estava com pneumonia. Então, passou medicação e solicitou um exame da Covid, que deu negativo”.
 
Por incrível que pareça, apesar da grande procura, Eliana só conseguiu ser atendida na UPA da zona Sul, mesmo com plano de saúde de cobertura nacional.
 
“No outro dia eu estava me sentindo ainda pior com uma queimação no peito, nas costas e a tosse seca constante. Resolvi ir em outro hospital, que também atende meu convênio. Cheguei lá umas 17:30h, também estava lotado. Fiz a ficha e fiquei aguardando até 20 horas. Não fiz nem a triagem que geralmente é mais rápida. Um enfermeiro disse que não estavam chamando ninguém para atendimento, porquê o pronto socorro estava com muitas pessoas. Continuei esperando por mais alguns minutos e resolvi ir embora”, relatou.
 
Querendo ser atendida, Eliana viu com a melhor alternativa naquele momento, procurar um hospital público. A mulher estava sentindo um mal-estar e precisava conversar com um médico. No local, apesar do movimento, a experiência que teve foi bem diferente da que estava esperando.
 
“Fui na UPA da zona Sul. Cheguei umas 21:30. Fiz a ficha e logo fui chamada para a triagem. Minha senha era a 323, estava na 269. Pensei que iria sair de lá somente no outro dia, mas para minha surpresa, o atendimento foi rápido. Tomei a medicação e fui para casa. Lá eu não fiquei olhando o horário, mas cheguei em casa às 23:30h. Me arrependi de não ter ido antes na UPA”, avaliou.
 
Gastos
 
Já a falta de plano de saúde e o desespero ao contrair uma doença ainda desconhecida por boa parte da ciência, leva as pessoas ao sistema privado de saúde, com altos gastos, e consequentemente, dívidas gigantescas a serem pagas. Tanto que ainda há vaquinhas virtuais para quitar tratamento de dezenas de pessoas conhecidas ou não.
 
Foi o caso do jornalista e advogado Adércio Dias, de 56 anos. Ele contraiu a Covid-19, procurou o sistema público de saúde, pressionado por muitos casos, mas não conseguiu melhorar de saúde. Ele não tem assistência de um plano pago.
 
“Tive sintomas muito fortes como febre, dor de cabeça, dor no corpo e tosse. Isso após pegar uma chuva muito intensa lavando o quintal. À princípio, não sentia dificuldade respiratória. Como eu não fico doente com frequência, não sabia nem onde procurar atendimento. Amigos me orientaram a fazer exame da Covid. Fui até um posto na zona Sul, onde havia uma fila de 10 ou 12 pessoas. Passei por todas as triagens e cerca de uma hora e meia depois, fui atendido por uma pessoa que não era médica. Fiz o relato e a pessoa me encaminhou a um médico. Ele, relativamente jovem, nem me permitiu fazer exame de Covid e disse que não era Covid. Perguntou se eu possuía recursos para comprar um medicamento para tosse e me liberou. Tomei o medicamento que comprei com meu próprio recurso, mas não melhorava”, pontuou Adércio.
 
As testagens tanto para a covid-19 como para Influenza tem levado muitas pessoas aos hospitais privados
 
Vendo a situação piorar o advogado resolveu buscar ajuda na rede privada. A angústia e a insegurança de não saber como lidar com a doença, estavam causando pânico nele. Mas o socorro que esperava se tornou uma grande frustração.
 
 
“Procurei por exames de Covid nos postos, mas não tinha de imediato. Era preciso entrar em uma fila de alguns dias. Decidi fazer exame particular e deu positivo. Voltei no posto, mas me disseram que não teria atendimento, pois meu exame era particular e que eu deveria procurar a rede particular”, lamentou.
 
Sem evolução positiva do quadro clínico e sem poder ser atendido na rede pública, ele viu como única alternativa procurar um hospital particular.
 
“Nesse momento o meu estado de saúde já começava a piorar. Um médico da rede pública até me receitou cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e tratamento em casa. Eu cheguei a tomar uma primeira dose desses remédios, mas só piorava. Decidi por conta própria procurar atendimento na rede privada. Paguei R$ 300 pela consulta. A médica fez todos os exames iniciais (pressão, oxigenação, batimentos cardíacos) e tirou sangue. Paguei mais outros R$ 500 de exame. Em seguida, me encaminhou para um médico que já tratava outros pacientes da Covid e alertou que ia ficar caro, já que eu não tenho plano de saúde”, disse.
 
Situação
 
Adércio ainda explicou a sensação de não ter a possibilidade de não conseguir fazer a tarefa mais básica, com o elemento mais abundante que tem no planeta: respirar.
 
“Eu já sentia dificuldades de respiração, como se estivesse nadando no mar, sem possibilidade de chegar à margem. Tinha certeza de que morreria afogado. Eu não tenho plano de saúde, mas disse que pagaria o tratamento, que custaria, a princípio uns R$ 5.000 por dia. Imediatamente, o médico recomendou internação no isolamento e um tratamento adequado com antibióticos e vários outros remédios injetáveis. Fiquei 8 dias internado no isolamento, onde só entravam os profissionais para aplicar a medicação, fornecer alimentos e fazer a limpeza do ambiente. Não cheguei a ser intubado, mas precisei respirar com cilindro de oxigênio”, explicou.
 
Ele conta que venceu a doença, mas perdeu peso, e precisou se submeter a uma bateria de exercícios para se recuperar das sequelas da covid-19.  
 
“Durante a internação perdi uns 10 quilos. Teve dias que não conseguia falar, perdia a voz e o ar no meio da segunda palavra. Aspirava o ar, mas parecia que o ar não vinha. Também perdi a mobilidade física. Sentia tontura a cada 2 passos. Depois de 4 dias internado começou a recuperação. Em 8 dias tive alta, ainda com muitas sequelas. Levei uma receita com medicamentos para tomar em casa, repouso de 30 dias e fisioterapia. Aos poucos recuperei a respiração, a voz e os movimentos físicos. Em 30 dias terminou a medicação”, declarou.
 
O advogado Adércio Dias teve covid-19 e precisou recorrer a tratamento em hospital privado
 
Adércio acredita que se não tivesse procurado a rede privada, teria morrido. Ela observa que os custos do tratamento foram altos e que a maioria da população não teria condições de arcar com os valores.
 
“Eu penso que se eu tivesse ido para hospital público, teria sido intubado ou morrido. Posso dizer que fui muito bem atendido no hospital privado. Paguei mais de R$ 30 mil, parte em dinheiro e parte no cartão de crédito. Mas o tratamento total custou mais de R$ 40 mil reais. Na minha opinião, o único ponto negativo da rede privada é o fatiamento do atendimento”, disse 
 
 
As duas experiências relatadas, mostram que terceira onda da pandemia de covid-19 chegou e com força em nosso estado, em especial, em Porto Velho. Infelizmente, tanto os hospitais públicos quantos os privados estão precisando se desdobrarem para atender a demanda que desde dezembro passado aumentou bastante.
 
 
Falsa segurança
 
 
No Hospital da Unimed, na capital, os atendimentos aos casos de Covid-19 e/ou Influenza tiveram um crescimento espantoso, desde o final do ano passado. Isso acabou forçando a cooperativa a se reestruturar para dar conta da demanda.
 
Para a administradora hospitalar da Unimed, Nayara Nogueira, a covid-19, apesar de todos os pesares causados pela doença, tem sido um aprendizado para toda a equipe. Isso, em especial, para quem atua na linha de frente no combate.
 
Para admininstradora do hospital da Unimed, Nayara Nogueira, na capital, a terceira onde da covid-19 se deve ao fato de as pessoas terem relaxado nas medidas de segurança
 
“Acompanho desde março de 2020, quando começou a covid-19. 2020 foi um estágio, para nós, do que seria a covid-19. No início era tudo muito novo. Não sabíamos como lidar. Veio a 1ª onda, depois veio a 2ª onda, foi aí que trabalhamos com toda a experiência. Implantamos novos leitos de UTI, aumentamos de 10 para 20 leitos”, contou.
 
Nayara observa que essa 3ª onda, está acontecendo não apenas pela capacidade de contaminação da nova variante Ômicron, mas também porque as pessoas tiveram uma sensação de segurança com o avanço das vacinas e diminuindo os outros cuidados.
 
 
Negacionistas
 
 
“Passaram a se descuidar devido as vacinas, a queda no número de mortos e os sintomas deixaram de ser tão graves. Assim, em dezembro de 2021, houve um aumentou em 34 % no número de atendimentos no nosso Pronto Socorro para síndromes gripais”, disse.
 
Segundo ela, foi necessário o reforço na equipe de atendimento. Porém, observou, mesmo com aumento no número de positivados, não aumentou o número de pacientes na UTI ou nas enfermarias e os sintomas são mais leves. Hoje, de cada 100 exames feitos para covid-19, a maioria testa positivo.
 
O hospital da Unimed, em Porto Velho, teve que reforçar a equipe para atender o aumento no número de pacientes
 
Mas esse aumento no número de contaminados tem feito as equipes de profissionais de saúde se sobrecarregarem. Além disso, muitos desses funcionários e médicos também estão se contaminando. 
 
“Hoje, cerca de 20% da nossa mão-de-obra está afastada para tratamento da covid-19. Ainda bem que, graças as vacinas, não temos muitos pacientes internados. Mas se continuar assim, vai sobrecarregar de novo o sistema de saúde. As pessoas não podem se descuidar das orientações do Ministério da Saúde tanto para o Covid como para as demais Síndromes Gripais”, finalizou.
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