CRÔNICA - O borracho cantante na Cordilheira – Por Nonato Melo e Silva

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Foto: Divulgação

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Atravessava os Andes em um ônibus quase vazio de Mendoza, cidade argentina de bom vinho, em direção à capital chilena Santiago. Paisagem exuberante e estradas sinuosas, cruzando túneis estreitos à beira de imensos precipícios que traziam calafrios. Viajando entre montanhas titânicas de cuja pele rochosa escorria neve tornada água, com casinhas próximas a outras em diferentes níveis de altura, interligadas por senderos estreitos, ondulando-se nas cercanias e gerando inevitáveis questionamentos de como aquelas pessoas se locomovem por ali naquele sobe e desce,  diariamente. Um leve sereno, quase chuva, caindo no chapéu preto com uma pena multicor, da senhora indígena puxando pela mão ingênua do possível netinho curumin. 

Fico ali, observando da minha poltrona confortável, por trás do vidro da janela, aquele viver montanhez dos resistentes Mapuches, ou o que a selvagem colonização fez restar deles. Tento idealizar a vida dos habitantes das casinhas, na mobilização por daquelas veredas, no frio, nas histórias...

Súbito um passageiro alcoolizado começa a cantar alto lá atrás... Mas a canção andina fica tão suave em sua voz rústica porém melodiosa, falando de uma certa Maria Dolores e da distância, de amor simples, algo silvícola, que se nutre de um beijo há muito roubado, que superou tragédias e vive para reencontrá-la...  Penso comigo, olhando no firmamento o solitário condor, que nada poderia ser mais apropriado para aquela paisagem altiplana do que a canção lá atrás. Me incomoda o funcionário da  empresa ir até o indígena e o interromper polidamente. Volta a sua cabine, junto ao motorista, e o cantante retoma a música, agora baixinho. Depois fica só no assovio, igualmente terno, até se calar e dormir. Durmo também, considerando o que perdem as pessoas que não viajam.

 

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