Sol Vermelho e o Desenvolvimento que Mata - Por Luciano Tenylson Nogueira Costa

Luciano Tenylson Nogueira Costa

Sol Vermelho e o Desenvolvimento que Mata - Por Luciano Tenylson Nogueira Costa

Foto: Divulgação

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Nesta época do ano os céus de vastas partes da região Amazônica estão infinitamente mais poluídos do que as grandes concentrações industriais do mundo. O ar está irrespirável e o acúmulo de poeira e fumaça se assemelha ao fog londrino ou a um grande incêndio de proporções apocalípticas. É a Amazônia, o outrora pulmão do mundo, ardendo sob o fogo das queimadas tão comuns nos meses de julho a setembro. Há dois anos estivemos quase livres desta praga, que volta com toda a força agora.
 
Será que é por causa das campanhas eleitorais? A fiscalização arrefeceu? Aeroportos são fechados, estradas são bloqueadas, a visibilidade para a navegação nos rios não tem o alcance necessário e aumentam consideravelmente nos hospitais os casos de doenças respiratórias em crianças e velhos principalmente. O calor, apensar das friagens, associado à baixa umidade do ar cria a sensação de se morar no inferno. Porto Velho, que não tem nem nunca teve uma boa qualidade de vida, piora ainda mais este item nesta época do ano. Estamos sufocados e pedimos socorro urgente. Haja poeira! Haja fumaça! Haja calor na cidade! Haja carniça e bichos mortos! Haja descasos das nossas autoridades! Haja congestionamentos. Haja conformismo de nossa parte!
 
Ano após ano a história se repete sem que se tomem medidas ou qualquer tipo de providências. As autoridades fazem vistas grossas ao problema como se isso não tivesse absolutamente nada a ver com ninguém. E se assim fosse, por que o Estado gasta verdadeiras fortunas para manter "elefantes brancos" como o Sivam, o Ibama, Sema, Ministério do Meio Ambiente e tantas outras siglas espalhadas pela burocracia estatal, mas que na prática nada ou quase nada fazem pelo controle ambiental? É estarrecedor constatar como a inoperância de tantos funcionários públicos afeta grande parte dos brasileiros. Deveria ser vergonhoso alguém, nesta época do ano, afirmar que é funcionário de qualquer destes órgãos.
 
Quem se envaidece de trabalhar numa repartição que se diz defensora do meio ambiente diante de tanta poeira, fumaça e descaso? Como se não bastasse a época da seca, onde a baixa umidade por si só já é um grande risco à população, os poderosos nos impõem este terrível castigo, que é conviver com a fumaça e sofrer com problemas respiratórios num lugar onde até o sistema de saúde privado está em crise, devido à falta de profissionais, imagine-se como está a saúde pública. Mas os discursos de campanha dizem exatamente o contrário. Estamos derrubando menos e queimando menos. Estatísticas que mentem. Estatísticas que enganam. Pode?
 
Mas as conseqüências não param por aí. Numa época em que o mundo está preocupado com o efeito estufa e os grandes e graves desastres ambientais, uma verdade quase inquestionável nos atormenta: a de que os brasileiros não sabemos cuidar das nossas florestas. Somos habitantes da Amazônia e vamos nos responsabilizar pela sua extinção. Afinal, poderemos ser acusados de estar destruindo um patrimônio que afeta toda a humanidade. A tese de internacionalização de toda esta região ganha força nas ações estúpidas de se atear fogo ao mato para se fazer uma simples limpeza de área ou mesmo derrubar a floresta para abrir pastagens. Mas quem faz isto talvez o faça por pura ignorância.
 
O que se questiona é por que o Estado e as autoridades nada fazem para deter ou mesmo amenizar o problema. Estamos vivendo o ciclo das hidrelétricas e o dinheiro está jorrando neste pedaço de Brasil. Mas vale a pena desenvolver destruindo o meio ambiente como os rondonienses estamos fazendo? Inovamos na previsão do tempo: FUMAÇA. Por isso os outros riem de nós, da nossa estupidez. De sermos rondonienses e amazônidas estúpidos que não sabemos conviver com a natureza.
 
E o triste é que não se pode muito confiar nas autoridades responsáveis pela defesa do ecossistema amazônico. Vários candidatos nestas eleições são grandes pecuaristas que já se assumiram contra qualquer tentativa de defender o meio ambiente. As previsões mais otimistas indicam que este ano de 2010 vai superar todas as expectativas em termos de devastação ambiental.  Daqui a pouco cessarão as queimadas, pois não haverá mais floresta para ser transformada em cinzas a exemplo do que aconteceu com a Mata Atlântica, o Cerrado e tantas outras reservas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo afora.
 
A cor do nosso sol parece, inutilmente, indicar o perigo iminente que estamos correndo caso nada seja feito. Impressionante a inércia do poder público, que mesmo em época de campanha, faz vistas grossas ao problema, e nem sequer ouvimos notícias ou iniciativas efetivas no combate às queimadas já que o discurso é sempre o mesmo: "Nunca o Estado cresceu tanto quanto agora, são usinas hidrelétricas, pontes, indústrias, etc.". Nessa hora temos que pensar, que desenvolvimento é esse? Quem são os latifundiários capazes de queimar suas terras em detrimento da saúde do povo? E o poder público está cego? É claro que todas as respostas são tão óbvias quanto a origem das verbas de campanha. Não podemos ficar calados...
 
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