A escolha do inimigo público número um parece necessidade premente de certos governantes, quando as coisas não vão bem e poucos ou quase nada são os motivos para comemorações.
Assim, a presença de um Judas, que todos podem malhar, constitui a oportunidade de descarregar agressividade e ficar mais leves. Daí o aparecimento, na sociedade brasileira, de bodes expiatórios dos pecados para os quais, frequentemente, eles têm concorridos.
Muitas vezes, os próprios dirigentes desenham o perfil do inimigo público número um e fustigam a opinião pública a maltratá-lo, no exercício de expiação que, longe de resolver os problemas, acaba por agravá-los.
Ainda agora, porém, pode-se ratificar um desses episódios. Trata-se da mudança na base de cálculo para pagamento de horas extras a servidores da prefeitura, sob o débil argumento de contenção de despesas.
A medida atingiu, em cheio, a área da educação. Mais uma vez, a acorda arrebentou do lado mais fraco. Matéria postada no RONDONIAOVIVO revela que algumas escolas e creches da Zona Leste da capital estão sem professores, desde segunda-feira (01.06), por conta de mais essa insensatez palaciana. Desestimulados, os profissionais da educação não têm motivos para desempenhar sua árdua, mas gratificante missão.
Mais uma vez, a administração Sobrinho peca por excessiva leniência e absurda negligência, quando acredita que a redenção do setor público está no corte de benefícios pagos a servidores. Esse argumento, de per si, consagra a completa incapacidade do governo petista e lança à lata de lixo qualquer preocupação humanitária e, sobretudo, qualquer resquício de respeito aos que prestam serviços à municipalidade.
Se, eventualmente, há pessoas ganhando mais horas extras do que o usual, como justificou um petista graduado, nada obsta, porém, que a prefeitura faça uma triagem, evitando, destarte, que os justos paguem pelos pecadores.
Agora, o que se não pode admitir é que, por causa de uns poucos, todos sejam tratados como estorvos, que impedem o desenvolvimento do município. O prefeito não pode deixar-se levar pela melopéia infame de assessores e bajuladores despreparados, que insistem em tratar o funcionalismo como capacho.
Esse é o retrato do município de Porto Velho, mergulhado numa crise de competência sem precedentes, com os sistemas educacionais e de saúde em frangalhos, obras inconclusas e buracos espalhados pelos quatro cantos da cidade, além de servidores sendo espezinhados e mal remunerados.
É notório o atual contraste entre o discurso político modernizador e moralizador e a realidade deplorável que temos hoje. É chocante o predomínio de interesses mesquinhos na gestão da coisa pública, o que mostra o baixo nível da nossa cultura política.
Com a mudança na base de cálculo da hora extra, que antes incidia sobre a remuneração e, agora, passa a ser calculada em cima do vencimento, quem recebia oitocentos reais por mês terá de se conformar com míseros cento e cinqüenta reais.
Enquanto isso, o prefeito dana-se a criar cargos comissionados e funções de confiança, inchando a folha de pagamento da prefeitura, com a contração de apaniguados políticos, com a complacência de muita gente, inclusive de instituições como o próprio SINTERO, sempre ágil no gatilho quando se trata de colocar o governador Ivo Cassol contra as cordas, quando ele resolve contrariar eventuais interesses dos profissionais da educação. Deveria fazer o mesmo com o prefeito Sobrinho, o carrasco de servidores municipais.