O grande desafio: Construir a Democracia sem socos nem provocação - Por Antônio Serpa do Amaral Filho

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Foto: Divulgação

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Socar jornalista é atingir o fígado da democracia. Agir provocativamente no exercício do jornalismo é esmurrar a dignidade dessa importante e necessária profissão No dia mundial do Desafio, o quebra-pau foi intenso no mundo da política municipal. O jornalismo levou um contra-vapor da intolerância e a democracia recebeu uma paulada do jornalismo provocativo. O comentado soco que Roberto Sobrinho teria supostamente desfechado no jornalista Paulo Andreoli não é novidade na política nacional. A democracia brasileira é filha da brutalidade. “É pra abrir mesmo, e eu prendo e arrebento quem for contra a abertura política” –falou colericamente o General João Baptista de Figueiredo, logo após ser empossado presidente da república. Antônio Carlos Magalhães costumava dar patadas a três por quatro nos jornalista que não tolerava. Tanta perversidade dedicou a adversários e pessoas da mídia que ganhou a alcunha de Toninho Malvadeza, o tinhoso –o tranca-rua. Na Ditadura Militar, o jornalista Vladimir Herzog pagou com a vida nos porões do regime, depois de ser submetido não a socos, mas a cruéis sessões de tortura pelos seus algozes, militares pertencentes ao aparelho repressor do DOI-CODI. O jornalista Inácio Mendes, editor do periódico “O Combatente”, que circulava aqui em Porto Velho, apanhou mais que cachorro de peruano do exército brasileiro, que via nos seus escritos a sombra vermelha do comunismo soviético. O deputado e também jornalista Carlos Lacerda, o corvo, a mando de Getúlio Vargas ou de seu Anjo Negro –Gregório Fortunato- foi alvo de uma tramóia que ficou conhecida como “o Atentado da Rua Toneleros”, escapando com vida, mas tendo o pé vazado por um balaço que deveria acertar seu coração. O pistoleiro contratado era de péssima pontaria. Em termos de Democracia, todos nós estamos em período probatório. Ainda tem gorila rugindo feito leão. Na semana passada o Comandante Militar da Amazônia, General Augusto Heleno, meteu os pés pelas mãos e esbravejou como se fosse o rei da selva. Levou um puxão de orelha de Nelson Jobim e ficou quieto no seu canto. Embora por cautela todo mundo saiba que é preciso andar pisando em ovos, tem muita gente aloprando e pisando no tomate. Neste contexto específico, para ser justo, é preciso dizer que há figuras desastrosas em ambos os lados: tanto nas hostes políticas quanto na turma do jornalismo. Cada macaco no seu galho é a regra sine qua non da convivência harmoniosa ou tolerante das diversas tribos urbanas no quintal do estado democrático de direito. Socar é verbo anômalo na gramática da democracia. E se o verbo é anômalo, o ideal é que o sujeito da oração seja inexistente – não havendo portanto a figura do socador. Por outro lado, informar é verbo abundante, conjuga-se em diversos modos, tempos e pessoas. E é aí que reside o desafio: fazer jornalismo em modo elevado, compromissado com a coragem ética, a missão cidadânica e o dever-direito de bem informar a comunidade não é pra qualquer um. Quanto à pessoa, a conjugação do verbo informar deve se pautar pela grandeza do jornalista, pelo seu preparo técnico, pela sua capacidade de análise e interpretação dos fatos, e por uma relação eqüidistante mas respeitosa com a fonte, com as autoridades e com o público leitor. Nem sempre é assim aqui neste torrão de fim de mundo. Tem gente da imprensa que se acha o fino da bossa e escolhe, quanto ao modo, o viés mais politiqueiro e fuxiqueiro possível, produzindo um jornalismo em falas de candinhas e de picuinhas provincianas. Esses mesmos profissionais apresentam-se como jornalistas menores, orgânicos, funcionais e suspeitos aos olhos dos leitores que parecem não estar entendendo nada, e no entanto acompanham atenta e criticamente as peripécias dessas figurinhas carimbadas. Para alívio geral, são poucos. A maioria trabalha com afinco, enaltece e dignifica o nobre ofício midiático. Socar jornalista é atingir o fígado da democracia. Agir provocativamente no exercício do jornalismo é esmurrar a dignidade dessa importante e necessária profissão, e é também faltar com respeito ao agente político no exercício da representatividade popular. Não que isso justifique o ato violento, mas cria ambiente propício e humanamente quase inevitável a sua ebulição no imbróglio travestido de entrevista. O respeito se impõe a ambos os contendores. A dicotomia “algoz” e “vítima” pode ser apenas um ato maniqueísta da peça teatral intitulada “As Cortinas da Falácia”. Construir a democracia sem socos nem provocação é o grande desafio que a estória outorgou a todos nós.
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