Índios agora querem ‘oficializar’ pedágio na Transamazônica

comissão de indígenas, liderada pelo cacique João Bosco, não revela, mas informações extra-oficiais dão conta de que com a corrida do ouro no município de Apuí, que atraiu gente de todo o Brasil, esse valor ultrapassou R$ 100 mil mensais...

Índios agora querem ‘oficializar’ pedágio na Transamazônica

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

Humaitá (AM) - Indígena da etnia Tenharim, que desde novembro de 2006 instituíram a cobrança de pedágio na rodovia Transamazônica, km 140, sentido Humaitá – Apuí, agora lutam para tornar oficial a cobrança, que já rende de R$ 60 mil a R$ 80 mil mensais. * A comissão de indígenas, liderada pelo cacique João Bosco, não revela, mas informações extra-oficiais dão conta de que com a corrida do ouro no município de Apuí, que atraiu gente de todo o Brasil, esse valor ultrapassou R$ 100 mil mensais. Segundo o cacique, a coordenação do pedágio está sob a responsabilidade de Valmir Parintintin, “que mora na cidade”. *Inicialmente os cerca de 1600 indígenas, que se dividem em seis aldeias localizadas na Reserva Tenharim – Marmelo, bloquearam a Rodovia como forma de protesto contra a falta de recursos, que segundo a Comissão que lidera o movimento, não estavam sendo repassados pela Funai. *Com a intervenção da Polícia Rodoviária Federal, e depois de vários momentos de tensão, os indígenas decidiram suspender o bloqueio, mas instituíram o pagamento obrigatório de pedágio que vai de R$ 20 para veículos pequenos até R$ 140,00 para caminhões e carretas. *A organização do pedágio é impressionante. Usando coletes pretos da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, as equipes de seis a oito “fiscais”, se posicionam em dois trechos curtos da rodovia. No primeiro é feito o pagamento e emitido o recibo, que deve ser apresentado no segundo pedágio, para que a viagem possa continuar. A cobrança é feita 24 horas. *Na última quinta-feira (08), O repórter fotográfico do jornal O Curumim, Ronaldo Bom Stark, fez o registro do exato momento em que o repórter Elias Pereira, fazia o pagamento do pedágio. Sem saber que estava sendo fotografado o indígena cobrou calmamente e sem pressa preencheu o recibo. Com um mini-gravador o repórter Elias Pereira registrou a conversa, já que naquele momento a reportagem foi proibida de fotografar ou gravar a cena. *A reportagem também esteve na aldeia Mafuí, “base de operações” do cacique João Bosco, onde ouviu com exclusividade aquele líder indígena. Sereno e falando com grande conhecimento de causa, o cacique revelou planos ousados, que surpreendem até mesmo a quem conhece com profundidade a questão das rodovias do sul do Amazonas. *PLANOS OUSADOS *Por mais de uma hora, João Bosco Tenharim, revelou que já foram encaminhados ofícios ao Ministério da Justiça, Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes – DNIT e Ministério do Meio Ambiente, pedindo a legalização do pedágio. *A reportagem teve acesso aos documentos. As cartas 94/COIAB/2006 e 90/COIAB-2006, estão assinadas pelo Representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, Francisco Avelino Batista. Da conversa com o cacique e dos documentos, conclui-se facilmente que há uma orquestração muito bem orientada por pessoas, que, claro, não residem no coração da selva amazônica. *Segundo João Bosco, a estrada Transamazônica foi responsável por inúmeros males desde doenças, dizimação e até a aculturação de seu povo. “No entanto agora precisamos dela e por isso estamos cobrando para poder recuperar e até construir pontes”, revela. *Rápido nas palavras o cacique tenharim, que concedeu a entrevista em um barraco que serve como escola, revelou também que para reforçar o pedido de oficialização do pedágio, já foram encomendados estudos antropológicos, que estão a cargo, segundo ele, de antropólogos da Universidade de São Paulo – USP. *Com relação ao investimento dos recursos decorrentes da cobrança do pedágio, João Bosco Tenharim revelou que a comissão pretende investir 10% do valor na recuperação da rodovia e pontes e 90% na melhoria das aldeias. *Ele diz que os índios não confiam no governo federal e que a própria Funai está “pisando na bola” com eles. “A Funai de Brasília diz que repassa dinheiro à Regional, mas esse recurso não chega pra gente”, denuncia o cacique. *Por isso estão também reivindicando autonomia para a Finai de Humaitá, inclusive com chefia indígena, como forma de se “libertarem” da Regional de Porto Velho e terem um contato direto com Brasília. *Sem nenhum receio o cacique afirmou também que uma vez regularizado o pedágio, há uma forte possibilidade de aumento no preço cobrado, sobretudo para caminhões e carretas, “que são quem mais destroem a estrada”, afirma o chefe indígena. *AGRICULTURA MECANIZADA *Independente da regularização do pedágio, o cacique revela outro plano que demonstra o quanto a mentalidade capitalista tem mudado a rotina dos indígenas. Eles querem dar início à agricultura mecanizada, “aproveitando as terras que são nossas e que estão ociosas”, disse João Bosco. *Segundo ele, os indígenas mais antigos, que praticavam a agricultura de subsistência, estão morrendo e os jovens não querem mais fazer isso. “Resta a agricultura mecanizada com aluguel de máquinas e tratores”. *Eles querem que o governo federal “facilite” as coisas no sentido de que sejam liberados recursos para aquisição de tratores e implementos agrícolas, para o inicio dessa atividade. João Bosco, porém, não diz onde os Tenharins irão buscar tecnologia e know how necessários para o plantio, já que a agricultura. *Enquanto os indígenas falam em agricultura mecanizada, dezenas de agricultores de Humaitá, que dedicaram a vida a essa atividade e reúnem não só equipamentos como também anos de experiência, estão em sérias dificuldades, inclusive muitos já abandonaram o campo. Humaitá, que já produziu mais de 10 mil hectares de soja, hoje vive apenas da lembrança desse tempo. *ILEGAL *O jurista Arnoldo Wald, autor de livro sobre o assunto, afirma que “a cobrança apenas é legítima quando o usuário da rodovia tem algum benefício que não encontra em estrada comum, como iluminação, conservação permanente, sinalização, ambulâncias de plantão, rapidez, segurança e conforto. Dizem os especialistas que nenhum país do mundo cobra pedágio pelo uso de rodovia em má conservação ou mesmo "pelo uso de uma estrada convencional, ainda que mantida em boas condições". *A Reportagem do jornal O Curumim encaminhou e-mail à Superintendente Regional do DNIT no Amazonas, Circe Maria Lima Gandra Baptista, questionando a cobrança do pedágio e perguntando que providencias estão sendo tomadas, mas até então não houve resposta.
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?
Você ainda lê jornal impresso?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS