Além de contar em detalhes os acontecimentos que o levaram ao exílio, Gullar relata sobre sua viagem a União Soviética para participar de um curso, os romances que viveu, sua passagem por Londres, Paris e Chile
Foto: Divulgação
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O poeta e dramaturgo Ferreira Gullar e o jornalista Alex Solnik tem algo em comum. Ambos foram perseguidos nos anos 1970, no período mais negro da ditadura civil-militar no Brasil. Gullar precisou fugir no país e Solnik, preso em casa por policiais do famigerado Doi-Codi, Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna, órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão do governo brasileiro durante a ditadura que se seguiu ao golpe militar de 1964.
Ambos relatam em livros a experiência. Gullar faz relato contundente na obra "Rabo de foguete, os anos de exílio". Em pouco mais de 200 páginas, o poeta conta os problemas e desafios enfrentados quando soube que estava sendo processado e procurado pelos órgãos de repressão. Precisou de uma rede de amigos para o ajudar em sua fuga, inclusive usando disfarce para escapar de ser preso, quem sabe, se o fosse, acabaria torturado ou morto.
Além de contar em detalhes os acontecimentos que o levaram ao exílio, Gullar relata sobre sua viagem a União Soviética para participar de um curso, os romances que viveu, sua passagem por Londres, Paris e Chile, justamente no período em que o presidente Salvador Allende sofreu golpe de estado e o país ficou sob à ditadura sanguinária de Augusto Pinochet. Ou seja, saiu da frigideira para cair no fogo.
Já o jornalista Alex Solnik, ao ser preso em casa, a época com pouco mais de 20 anos, quando um policial fingiu ser o pai de um amigo, mas ao sair para conversar, dois homens o agarraram, agrediram e o colocaram num veículo sem identificação. Foi preso como subversivo e passou 45 dias preso numa cela com outro rapaz, que ele denomina O.R, sistematicamente torturado dia e noite.
Solnik não foi torturado, mas viveu o terror psicológico de ser levado para a sala onde aconteciam as maiores atrocidades, conforme lhe contou o companheiro de infortúnio. O.R. foi colocado no "pau de arara", tomou choques eletrônicos com fios desencapados nas partes íntimas e ainda pior, na famigerada "cadeira do dragão", que explica em detalhes como funcionava.
O título do livro de Solnik, "O dia em que conheci Brilhante Ustra", o militar que comandava as prisões e as torturas. Ustra é o grande herói da vida de outro ser abjeto, que infelizmente por quatro anos esteve na Presidência da República. Não vou citar o nome, pois é desnecessário. Fica a indagação: como uma pessoa pode clamar aos quatro ventos, inclusive à mídia, ser um torturador o seu ídolo? Não sei quem é o pior.
Talvez incentivados pelo merecido sucesso do longa "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, cuja narrativa traz à tona a história da prisão e assassinato do engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva, algumas editoras resolveram publicar esses relatos. Inclusive, saiu outro livro sobre o período. "Crime sem castigo, como os militares mataram Rubens Paiva", da jornalista Juliana Dal Piva, para desespero daqueles que querem a volta da ditadura militar para se perpetuar no poder.
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