INDÍGENAS: Lançado livro com o objetivo de preservar memórias dos anciãos Zoró

Os dois volumes de "Zoró: Antes de ver o branco - Jalaj Ikinie Ãbaka" foram lançados dias 6 e 11 de dezembro nas aldeias Duadjurej, Anguj Tapua, Tamali Syn e Zawaxurej, localizadas na Terra Indígena Zoró. A obra é bilíngue (português/Zoró).

Os livros são de autoria de Panderewup Zoró, liderança Zoró, e de Ligia Neiva, servidora da Funai. Eles apresentam relatos dos anciãos Zoró sobre a vida antes e durante o contato com a sociedade envolvente.

O objetivo das publicações, segundo os autores, é salvaguardar as memórias dos anciãos Zoró em língua materna e em português para as gerações atuais e futuras. Os livros serão distribuídos prioritariamente às escolas das aldeias.

Como nasceu a ideia do livro

A obra surgiu, segundo Ligia Neiva, do desejo do líder Zoró, Pãderewup, que com apenas quinze anos de idade precisou ir para a cidade, aprender com rapidez a balbuciar palavras na Língua Portuguesa para se expressar e pedir socorro para o seu povo. “Não havia mais como esperar”, diz a autora.

“O seu povo acabara de ter contato com a sociedade envolvente, ainda muito doente das pandemias de sarampo, tuberculose e gripe, teve que buscar força para lutar contra os inimigos invasores de suas terras”, afirma Lívia.

Ainda segundo ela, os embates foram desafiantes, uma demonstração de força, resistência e união entre os povos da floresta, como Gavião, Arara, Suruí, Zoró, Cinta Larga, juntos garantiram a retirada dos invasores e a demarcação da terra Zoró - Decreto 265 de 29/10/1991.

Projetos Culturais

O registro dos relatos dos anciãos ocorreu por meio da Chamada de Projetos Culturais de 2021, uma iniciativa do Museu/Funai que visa apoiar projetos de iniciativa dos povos indígenas em parceria com as unidades descentralizadas da Funai.

Os registros feitos durante a execução do projeto deram origem ao livro e também a vários vídeos, que estão disponíveis no Canal do YouTube do Museu (@museudoindiorj).

Quem são as autoras

Nascido em 08/10/1970, na terra indígena Zoró, município de Rondolândia/MT. Filho de Panzylyp e Xipitut Zoró, do clã Zabeawj, ficou órfão de pai ainda na infância, quando Xipitut se acometeu de uma doença muito grave que não era conhecida pelos Zoró.

A partir de então, viveu sua infância ao lado de Papaju Zoró, seu tio materno, que ajudou a cuidar e educar de Panderewup e seus outros cinco irmãos. A viúva Panzylyp e seus filhos acompanhavam Papaju em suas trajetórias, quando ainda eram nômades, passaram a morar juntos na aldeia Bubyrej para se protegerem das doenças, com os cuidados e medicamentos que a Funai oferecia.

Lígia Neiva

Ela nasceu na pequena vila de Tabajara, distrito de Inhapim/Minas Gerais, filha de Custódio Neiva e Aldina Maria Neiva. Viveu a infância e adolescência em Coronel Fabriciano/ MG. Em janeiro de 1984, em visita a tia materna na cidade de Cacoal/RO, reencontrou a conterrânea Ceí, na Fundação Nacional do Índio (Funai), quando teve o primeiro contato indígena das etnias Suruí e Cinta Larga.

Quando despertou o desejo de conhecer mais sobre os povos indígenas, por isso, no dia 01/03/1984, aceitou um convite da amiga para compor o quadro de funcionários da FUNAI, ocupando uma vaga de professora na frente de contato Serra Morena no Parque Indígena do Aripuanã, na região de Juína/MT.