CRÍTICA – “Tropa de Elite” mostra problema social como espetáculo - Por Marcos Souza

CRÍTICA – “Tropa de Elite” mostra problema social como espetáculo - Por Marcos Souza

CRÍTICA – “Tropa de Elite” mostra problema social como espetáculo - Por Marcos Souza

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

O filme nacional de maior repercussão atualmente é “Tropa de Elite” (Brasil/114 minutos), dirigido por José Padilha (o mesmo diretor do documentário “Ônibus 174”), e já se encontra em cartaz atualmente em todo o Brasil, inclusive aqui, em Porto Velho, no Cine Rio (Rio Shopping). Além de ser o filme brasileiro mais pirateado dos últimos tempos, calcula-se que já foram vendidos mais de um milhão de cópias, o que acabou provocando a antecipação do lançamento nos cinemas uma semana antes do programado, é também o mais comentado em rodas de discussões. “Tropa de Elite” é baseado no livro “Elite da Tropa”, do sociólogo Luiz Eduardo Soares, com auxílio dos ex-oficiais do BOPE (Batalhão de Operações da Polícia Especial), André Batista e Rodrigo Pimentel, e narra as experiências vividas pelos dois durante a permanência no esquadrão da tropa de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Antes de mais nada, referente à copia que se encontra em exibição no Cine Rio é lamentável que a mesma esteja em condições precárias, além dos famosos riscos nos fotogramas o som é dos piores, os canais de vozes dos personagens estão destoantes e por vezes sem sincronia. Muito ruim. O filme também tem uma seqüela insuportável deixada nos espectadores mais exaltados e que tiveram acesso à versão pirata do DVD. Alguns vão as sessões de cinema antecipando cenas chaves do filme contando em voz alta. No dia em que fui assistir o filme, um imbecil, acompanhado de algumas moças bonitas, fazia questão de falar alto, gritar os bordões ditos pelos personagens e que se tornaram célebres, como “põe na conta do Papa”, “missão dada é missão cumprida”, “faca na caveira” e “nunca serão, jamais”, antes das cenas ocorrerem, estragando muitas vezes o impacto. Com certeza mais um “estraga prazer” de cinema e que freqüenta salas de exibições só pelo prazer de querer chamar a atenção. Como pesquisa fui na casa de um conhecido que possuía o DVD pirata do filme para ter um parâmetro das duas versões que estão disponíveis no mercado, a pirata e a oficial. As mudanças que observei foram sutis, mas de grande efeito, a mais notável de todas foi que grande parte da narrativa em off mudou da primeira versão para a oficial, onde o dinamismo e até o texto, mais direto, ficou mais contido, ainda que afiado em alguns momentos. O filme tem que ser assistido antes de tudo como diversão, espetáculo, e como tal tem uma proposta comercial atraente e com um tema de interesse popular, a ação da polícia nas favelas cariocas em combate ao tráfico de drogas nos morros. Por outro lado é polêmico e assustador, por mostrar sem concessões o modus operantis de policiais do BOPE junto à comunidade pobre, sem esconder que tortura e mata, por vezes até com sarcasmo, como mandar executar um bandido e mandar “debitar” na “conta do Papa”. O drama central do filme é focar no momento delicado na vida do capitão Nascimento (Wagner Moura, em mais uma ótima atuação) que entra num processo de conflito com sua consciência devido a chegada do primeiro filho, enquanto lida com a violência do tráfico no morro e se vê obrigado a encontrar um substituto para a sua posição na hierarquia da tropa de elite, com as mesmas características e postura no combate ao crime nos morros cariocas, ou seja, incorruptível e duro. Nascimento então enxerga em dois aspirantes, André Matias (André Ramiro) e Neto Gouveia (Caio Junqueira), a possibilidade de encontrar um substituto à altura. Só que ele precisa sobrepor os defeitos de ambos, enquanto Matias é metódico e organizado, Neto é mais explosivo e passional com a profissão que escolheu. Enquanto narra o encontro e o treinamento dos dois aspirantes, Nascimento mostra os meandros do processo de corrupção da polícia, que conta com a inoperância do Estado. Outro foco que polemiza é quando deixa em aberto as situações de estudantes de uma faculdade vizinha a favela da Babilônia, onde ocorrem os momentos mais críticos, que são assíduos consumidores de maconha e cocaína. Em uma seqüência de grande repercussão, numa batida do BOPE na favela em um ponto de venda de drogas, o capitão Nascimento pega um estudante, esfrega o seu rosto no ferimento a bala de um traficante morto e explode de raiva, culpando-o por ser responsável pela morte do mesmo já que é consumidor. A mensagem é clara: a classe média é responsável pela manutenção do tráfico. Em outro momento, em uma passeata de “paz”, organizada por estudantes, um policial revoltado porque perdeu o amigo, também policial, exprime seu ressentimento contra a hipocrisia da mobilização “pacifista”, pois as mesmas pessoas que a integram, são as mesmas que consomem drogas e, por conseguinte, sustentam o tráfico. Vale dizer que “Tropa de Elite” explica a mobilização que existe das pessoas da classe média em criar e manter ONGs nas favelas que em alguns casos, como o que é mostrado no filme, serve para acobertar a propalada “consciência social” do pessoal do morro. Apesar de uma participação curta no filme, impressiona a atuação de impacto do ator Fábio Lago, como o chefe do morro, Baiano, e do ótimo Milhem Cortaz como o corrupto e patético capitão Fábio. O roteiro escrito por Bráulio Mantovani (que ajudou a escrever o roteiro do filme “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles), Rodrigo Pimentel e também pelo diretor José Padilha, ao mesmo tempo que tenta apontar as corruptelas da polícia convencional, não poupa vistas para a tropa de elite da PM, que se mostra implacável na sua forma de fazer justiça, mesmo que para isso torture e mate. Chega inclusive a humanizar a figura do policial, no drama pessoal do capitão Nascimento com sua mulher e a vinda do primeiro filho. O filme pode dividir opiniões e provocar mal estar em algumas cenas, inclusive no que diz respeito na reação da platéia que ri em muitos momentos de tensão, quando o correto deveria ser a perplexidade. Mas, o filme tem uma edição nervosa e dinâmica em suas seqüências de ação, e tecnicamente é muito bem feito. Como espetáculo é um dos melhores filmes nacionais dos últimos tempos, como mensagem a sua contundência é provocante e deve acirrar discussões. Para mim, um dos melhores filmes do ano. Marcos Souza é editor-chefe do site Rondoniaovivo.com
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS