Um dos filmes mais premiados no Oscar esse ano, "O Segredo de Brokeback Mountain", inicia temporada neste sábado no Cine Veneza. Saiba mais sobre o filme e a polêmica sobre o seu tema, a relação homossexual entre dois cowboys modernos.
*Por: Marcos Souza
*Quando lançado no ano passado, “O Segredo de Brokeback Mountain” (Brokeback Mountain/EUA/2005), do diretor chinês Ang Lee, já chegava com um polêmica em torno da sua história, que mostrava, a grosso modo, o relacionamento homossexual entre dois cowboys. Isso na terra do Tio Sam, onde o mito do cowboy se tornou referência nos anúncios da Marlboro, e a instituição do “velho oeste” se mantém íntegro através dos velhos filmes, principalmente os clássicos do diretor John Ford, foi uma ousadia.
*Pois é, o filme finalmente vai ser exibido em Porto Velho a partir desse sábado, no Cine Veneza, nos horários de 19h00 e 21h30, e foi um dos mais premiados do Oscar esse ano, numa disputa acirrada com pelo menos seis filmes de peso, “Crash”, “Munique”, “O Jardineiro Fiel”, “King Kong”, “Memórias de uma Gueixa” e “Syriana - A Indústria do Petróleo”.
*Baseado na história de Annie Proulx, originalmente publicada na revista The New Yorker, em 13 de outubro de 1997, ”O Segredo de Brokeback Mountain” é um dos mais belos filmes da última temporada, seguindo a narrativa com um estilo depurado numa fotografia estilizada e bonita, mas sensível e apta a linguagem acadêmica do diretor Ang Lee, que tem se mostrado um mestre em retratar relações familiares intensas em dramas contundentes, como o fez em “Tempestade de Gelo” (Ice Storm/EUA/1997).
*O filme narra a história de Jack Twist (Jake Gyllenhaal) e Ennie Del Mar (Heath Ledger), dois jovens que se conhecem no verão de 1963, após serem contratados para cuidar de ovelhas em Brokeback Mountain. Jack deseja ser cowboy e está trabalhando no local pelo 2º ano seguido, enquanto que Ennie pretende se casar com Alma (Michelle Williams) tão logo o verão acabe. Vivendo isolados por semanas, eles se tornam cada vez mais amigos e iniciam então um relacionamento amoroso. Ao término do verão cada um segue sua vida, mas o período vivido naquele verão irá marcar suas vidas para sempre.
Ang Lee então situa a drama na relação entre os dois, devidamente bem comportados, com suas respectivas famílias, em manter as aparências perante a sociedade e reprimindo intensamente o sentimento que um sente pelo outro, principalmente no que ocorreu no passado e se tornou segredo em suas vidas.
*O roteiro de Larry McMurtry e Diana Ossana, premiado com Oscar esse ano, foi escrito no final da década de 90, tendo permanecido durante anos sem conseguir financiamento para ser rodado.
*Uma curiosidade sobre o filme é que durante as filmagens o ator Heath Ledger rodou uma cena em que entrava nu em um lago. O diretor Ang Lee cortou as cenas em que aparecia nudez frontal do ator, mas um paparazzi conseguiu tirar fotos com uma câmera digital durante a realização desta cena. As fotos com a nudez do ator foram publicadas em algumas revistas americanas e também na internet.
*O filme esteve cotado para ser dirigido pelos diretores Joel Schumacher e Gus Van Sant, dois notórios cineasta que são assumidamente gays. O primeiro é o diretor de bons filmes, como “Tigerland” e “Um dia de Fúria”, assim como tolices como dois filmes do Batman, e Gus Van Sant, dirigiu recentemente a pérola “Elephant”, Palma de Ouro em Cannes de 2004.
*
OSCAR E PRÊMIO “MORAL”
*O filme ganhou três Oscars esse ano, melhor trilha sonora, roteiro adaptado e direção, e estava muito cotado para levar o de melhor Filme do ano, até por uma questão de lógica e estatística, pois raramente o diretor que ganha o prêmio de melhor direção perde na categoria de melhor filme. Na festa o filme estava sendo ovacionado a cada prêmio recebido, ou seja, já havia conquistado a simpatia de boa parte da platéia da festa de premiação, formada por atores, diretores e produtores, mas na hora da mais cobiçada estatueta da noite, o prêmio foi para “Crash, No Limite”, do diretor Paul Haggis – roteirista do brilhante “Menina de Ouro”, filme do ator/diretor Clint Eastwood e grande vencedor do Oscar de 2005.
*Em primeiro momento o prêmio parece ter sido merecido, pois “Crash” figurou na lista dos melhores do ano passado da crítica especializada. Mas em um ano atípico para o Oscar onde filmes com conceitos menos comerciais (até King Kong, apesar de ser um “blockbuster” e ainda por cima refilmado pela segunda vez, tinha a marca pessoal do seu diretor, Peter Jackson) e num formato “quase” independente foram o mote para a seleção, com o depuro de qualidade que só se via em festivais como o Sundance, “O Segredo de Brokeback Mountain” foi uma grata surpresa, até pelo tema da “homossexualidade”, um tabu entre os membros mais conservadores da Academia.
*O filme já havia provado suas qualidades técnicas e artísticas, não só pela premiação conquistada, como os elogios da crítica, não só americana como européia, então faltava somente a Academia dar o prêmio máximo e quebrar de vez o tabu sobre o tema, o que acabou não ocorrendo. Mas, para fãs de cinema, já havia pistas durante a festa de que o prêmio não seria entregue ao “filme gay” de Ang Lee, pois durante a cerimônia homenagens “esquisitas” e fora do contexto, como para os “filmes Noir” e “filmes Épicos”, foram apresentadas. Coincidentemente, considerados “filmes para macho”.
*Ficou então o “prêmio Moral” para “O segredo de Brokeback Mountain”, ou seja, a indicação à categoria e o seu favoritismo, que quebrou quando se abriu o envelope e o filme citado era outro.
*NÃO PERCA, o filme está em cartaz no Cine Veneza.
*
*Marcos Souza é editor de cultura do site e cinéfilo.