Aos 29 anos, Sabrine Matos, fundadora da Plinq, lembra exatamente o momento em que decidiu criar a plataforma. Ela assistia a uma reportagem sobre uma jornalista assassinada com onze facadas. “O namorado dela tinha um extenso histórico criminal e ela não sabia”, conta. A indignação tomou conta da sala. A mãe reagiu de pronto: “Olha, você devia fazer alguma coisa.” Foi ali que a ideia ganhou forma uma ferramenta capaz de ajudar mulheres a se protegerem antes que a violência aconteça.
A Plinq nasceu com a proposta de permitir que mulheres chequem, de forma rápida e simples, se alguém possui antecedentes criminais. “A gente se considera uma plataforma de prevenção”, explica Sabrine. “É muito comum ouvir: aconteceu algo e ela não sabia.”
Como funciona o filtro de riscos
O serviço opera exclusivamente com dados criminais. “Eu não mostro processo trabalhista, não mostro processo cível. Só mostro processos criminais, porque o foco não é expor a pessoa de maneira desnecessária”, afirma a fundadora.
A tecnologia por trás da Plinq utiliza informações consolidadas por fornecedores que coletam dados diretamente em tribunais de todo o país. A empresa trata apenas o mínimo necessário para entregar o resultado das consultas — uma opção pensada para evitar acúmulo de informações sensíveis e reforçar o caráter preventivo da plataforma.
“Nosso armazenamento é praticamente nulo, porque nós não temos interesse em ter posse desses dados”, explica Sabrine. Tudo é processado de forma ágil, com foco exclusivo no objetivo: identificar riscos.
Expansão e novas ferramentas de segurança
Entre janeiro e fevereiro do próximo ano, a startup lança seu aplicativo, que trará novas funções voltadas à proteção e à interação entre usuárias. Paralelamente, a empresa negocia versões regionalizadas do serviço com governos estaduais, em parceria com secretarias de segurança uma tentativa de ampliar o alcance e integrar a solução a políticas públicas de prevenção à violência.
Hoje, a Plinq oferece dois formatos: consulta única e assinatura anual ilimitada. Sabrine enxerga o negócio como um serviço privado de segurança, com função social evidente, mas com sustentabilidade comercial.
Da carona ao romance: “É para qualquer interação da vida”
A empreendedora já recebeu mais de cem relatos de usuárias que descobriram situações potencialmente perigosas graças à plataforma. Um dos casos mais marcantes envolveu uma mulher que viajava por um aplicativo de carona: ao pesquisar o motorista na Plinq, encontrou uma condenação por homicídio.
Em outro episódio, uma usuária interessada em um colega da academia resolveu fazer uma busca preventiva e encontrou no nome dele um extenso histórico criminal. A consulta foi o suficiente para que ela se afastasse.
“Não é só para encontros amorosos”, reforça Sabrine. “É para qualquer interação da vida.”
A própria fundadora usa o serviço regularmente. “Pelo menos uma vez por sema
na”, diz. Para ela, a Plinq ultrapassa a lógica de produto e se transforma em uma rotina de cuidado, fruto de um cenário em que muitas mulheres ainda precisam desenvolver estratégias próprias para suprir a falta de garantias públicas de segurança.
“Se eu conseguir evitar que uma mulher passe pelo que tantas outras passaram sem saber, já valeu”, afirma.