'TRUE CRIMES': Documentário chocante mostra crime familiar sem precedente

“Homicídio nos EUA: Os vizinhos do lado” foi lançado em 2020 pela plataforma de streaming Netflix

'TRUE CRIMES': Documentário chocante mostra crime familiar sem precedente

Foto: Divulgação

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Documentários chamados de “True Crimes” – crimes verdadeiros – tem espaço garantido em plataformas de streaming – Max, Prime, Globoplay e Netflix -, eu assisto muitos, pois a questão nesse caso de entretenimento é saber quem é a vítima, as motivações do criminoso (a), como foram as investigações, as reviravoltas do caso e consequências – prisão, julgamento e sentença. 
 
A forma como é contado, mostrado, com entrevistas dos envolvidos, imagens ou reprodução dos locais onde ocorreram os fatos, dependendo o crime alguns podem ser consideradas chocantes – seja a vítima ou motivações.
 
Um dos casos mais absurdos que assisti e acompanhei foi esse documentário extraordinário – “Homicídio nos EUA: Os vizinhos do lado” - dirigido por Jenny Popplewell e lançado em 2020 pela plataforma de streaming Netflix. Que me consterna pela história dos assassinatos da família Watts em 2018, ocorridos em Frederick, Colorado (EUA).
 
 
A diretora narra a história do ponto de vista da vítima em muitos momentos e depois sob o ponto de vista da investigação, principalmente na delegacia. Mas a dinâmica em utilizar áudios com confissões e a desconstrução do principal suspeito durante o processo de resignação é de fazer cair o queixo pelo disparate da motivação.
 
Esse documentário é feito com vídeos caseiros da família, imagens de câmeras de segurança da família e da polícia, também com vídeos de câmera corporais dos policiais e prints e imagens disponibilizadas nas redes sociais. Além de fotos que serviram como base para a promotoria do caso.
 
Como um homem dito de família, pai amoroso e que parecia ser um marido dedicado cometeu uma monstruosidade que o levou a ser condenado a cinco penas de prisão perpétua, três consecutivas e duas concorrentes sem liberdade condicional?
 
Vamos ver logo no início através de imagens (fotos e vídeos) publicadas nas redes sociais de Shanann Watts como a sua vida familiar era perfeita.  Marido bonito e duas filhas pequenas lindas - Celeste, de 3 anos, e Bella, de cinco anos. Cenas de família como brincadeiras na hora do café da manhã ou no jardim. Todos sempre rindo e felizes.
 
Ela morava num bairro muito bom, classe média alta, com casas grandes e bonitas. O local perfeito e ótima vizinhança. 
 
No dia 13 de agosto de 2018 pela manhã uma amiga de Shanann a liga insistentemente para saber se está tudo bem, pois ela tem uma consulta médica e está grávida de 15 semanas. Quando ela percebe que Shanann não vai atender resolve ir à casa da amiga.
 
No local está tudo fechado, porém o carro de Shanann está na garagem.  Ela tenta falar com o marido, Chris Watts, que não atende. Tornando tudo mais esquisito. A amiga então chama a polícia para averiguação. 
 
 
Com a chegada da polícia no local percebe-se que tem algo estranho. O policial tem uma câmera corporal acoplada ao seu uniforme e que registra todos os movimentos.  Ele avisa que só pode entrar na casa com autorização do dono, no caso Chris.
 
Mas Chris chega em seguida em sua caminhonete e cumprimenta o policial e a todos querendo saber o que houve.  Logo é explicado que a sua esposa não compareceu a uma consulta e sumiu, assim como as crianças.
 
Chris diz que tentou falar com Shanann pelo celular, mas ela não o atendeu.  Ele permite que a polícia entre na casa e a amiga da sua esposa também. Logo descobrem coisas estranhas como o celular dela largado no balcão da cozinha, os lençóis das filhas que sumiram e a aliança do casal que ela largou na cômoda. 
 
Chris desconfia que a mulher pode ter saído de casa com as meninas para ficar sozinha, pois de madrugada eles tiveram uma "conversa emocional" e ela ficou chateada.
 
O policial então vai verificar a câmera de segurança do vizinho para saber se mostra Shanann saindo com as filhas. Nas imagens da TV dá para ver Chris logo cedo movimentando a sua caminhonete em frente a garagem da casa e se preparando para sair.
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Ele acompanha ao lado da TV e parece nervoso. Diz ao policial que não sabe o que aconteceu e que realmente saiu cedo de casa para o trabalho. Quando ele sai o vizinho fala baixinho para o policial que Chris está estranho e agitado.
 
A partir daí a polícia registra o desaparecimento de Shanann e as meninas. Incluindo a própria polícia que divulga cartazes de busca e notifica os vizinhos.
 
 
DESAPARECIDAS
 
Chris chega a dar entrevista a emissoras de TV pedindo que Shanann volte para casa e traga as filhas. O caso acaba criando uma comoção na cidade e mobiliza a mídia local.
 
O documentário mostra esse processo em duas linhas narrativas, uma delas focando como era e estava a relação do casamento de Shanann e Chris. 
 
Nessa linha narrativa acompanhamos o ponto de vista dela que é justamente que faz com que vejamos como era a sua intimidade e ficamos tocados de como ela era uma mulher amorosa e fortemente ligada à família.
 
Mostra sua relação com as meninas e o conflito que tinha com a sogra. O ponto de virada do relacionamento dela com o marido dá quando fica 30 dias fora visitando os pais em outra cidade e Chris não vai por causa do trabalho. Nesse período Shanann tem um desentendimento com a sogra por causa de uma das meninas e resolve ficar o resto do mês na casa dos pais. 
 
Em relatos dela gravado em áudio ou mensagens para a sua melhor amiga, ela vai narrando o distanciamento estranho do seu marido, a mudança de comportamento - principalmente a frieza com as filhas e com ela.
 
A sua perda excessiva de peso e dedicação à musculação a faz suspeitar.  E se torna mais agravante quando ele vai até Shanann e as filhas e ela percebe que Chris está tão indiferente que evita até fazer sexo com ela.
 
 
Na outra linha narrativa, através de vídeos da polícia vamos acompanhar os depoimentos de Chris após o desaparecimento. Na sua primeira tentativa o policial joga direto com ele e pergunta se ele sabe onde está a esposa e as filhas.
 
Nega e fala de suas suspeitas sobre uma possível fuga da esposa com as meninas para alguma cidade próxima ou sequestro. 
 
Uma psicóloga forense fala com ele e o faz passar pelo detector de mentiras. Novamente, agora através dela, insiste em saber o paradeiro da mulher e as crianças. Chris persiste em dizer que nada sabe.
 
Então após algumas horas ele é comunicado que não passou no teste do detector e que deveria falar a verdade. Chris parece indignado e insiste que falou toda a verdade. Quando pede para chamar o seu pai na delegacia.
 
Um corte.
 
Surge na tela a foto de uma mulher, Nichol Kessinger. De lingerie e pose sensual na porta do banheiro. Ao fundo tem um espelho e refletido nele a imagem, quase uma sombra, mas é nítida o suficiente para reconhecer a figura de Chris segurando um celular. Ele tirou a foto.
 
Nichol vai ser uma peça chave da investigação.
 
Sem spoilers. Assista, pois é a partir desse outro ponto de virada que entra a perplexidade do crime e os detalhes chocantes.
 
Confesso que toda vez que assisto me dá tanta raiva pela capacidade que o ser humano tem em construir e destruir, da forma mais torpe o que de mais bonito foi capaz de fazer.
 
Absurdo. 
 
Os relatos finais de Shanann que consegue juntar as peças para confirmar a traição do marido e o modo como ela tenta encarar essa situação é surpreendente. 
 
O final no julgamento é um soco no estômago. Basta dizer que uma das fotos do processo criminal mostra uma cova rasa e ao fundo dois tanques de óleo cru, num local distante.
 
Ao final vem talvez a mais cruel demonstração de brutalidade causada pelas redes sociais e pessoas que a utilizam, com seus julgamentos midiáticos em busca de views ou apenas pelo prazer de chocar, acusando a vítima de ser a principal causadora dos crimes. Só vendo.
 
Direito ao esquecimento

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