Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Twitter, a postagem foi curtida 2 mil vezes até o dia 14 de abril e depois foi deletada. No Instagram, os conteúdos somavam mais de 4 mil curtidas até 18 de abril. Até a mesma data, a postagem registrou 59 mil interações no TikTok, entre curtidas, compartilhamentos e comentários.
Como verificamos: Pelo Google, buscamos notícias publicadas pela imprensa profissional sobre a possível compra de ações das companhias Heineken e Coca-Cola pelo empresário Bill Gates. Em seguida, entramos em contato com as assessorias de imprensa da Coca-Cola, da Femsa e da Fundação Bill e Melinda Gates.
A Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros (Autoriteit financiële Markten – AFM), reguladora do mercado financeiro da Holanda, também foi procurada. Por fim, revisitamos checagens do Comprova sobre a tecnologia mRNA, utilizada em vacinas contra a covid-19, e procuramos os autores das postagens.
Não há notícia de que Bill Gates tenha comprado ações da Coca-Cola Company, empresa dona do refrigerante Coca-Cola.
Na verdade, foi noticiado recentemente que o empresário adquiriu, em 17 de fevereiro de 2023, uma participação minoritária na Heineken Holding NV, acionista controlador da segunda maior cervejaria do mundo, por cerca de US$ 902 milhões.
Segundo a Bloomberg, o fundador e filantropo da Microsoft comprou 3,8% da Heineken Holding, de acordo com um documento da
Autoridade Holandesa para Mercados Financeiros, totalizando 6,65 milhões de ações, em sua capacidade individual, e outros 4,18 milhões de ações por meio da
Fundação Bill & Melinda Gates. A AFM foi procurada pelo Comprova para confirmar a informação, mas não retornou.
O nome do refrigerante aparece nessa história porque Gates adquiriu a participação no mesmo dia em que a Femsa, engarrafadora e distribuidora da Coca-Cola, lançou uma venda de € 3,7 bilhões em ações vinculadas a parte de suas participações na Heineken. Pouco antes, a Femsa havia anunciado planos de se desfazer de sua participação na cervejaria por motivos estratégicos.
Conforme o site de investimento Seu Dinheiro, em 2007, há 16 anos, o empresário comprou uma participação avaliada em US$ 392 milhões (R$ 2 bilhões no câmbio atual) na Femsa. Sete anos antes, a mexicana havia vendido sua cervejaria para a Heineken.
O Comprova também solicitou à Femsa, à Fundação Bill e Melinda Gates e à Coca-Cola informações sobre possíveis venda e compra de ações e se Gates detém ações na empresa que fabrica o refrigerante. A Coca-Cola respondeu informando ser uma empresa de capital aberto nos Estados Unidos e que não comenta movimentações de acionistas.
A Femsa não respondeu e a Fundação Bill e Melinda Gates
enviou nota ao Comprova sem fazer referências à compra de ações e afirmando que são falsas as alegações de que Bill Gates está inserindo mRNA em bebidas e que ele faça parte de uma “Nova Ordem Mundial”.
Não há registro de alteração na fórmula da Coca-Cola
Os responsáveis pelas postagens não apresentam quaisquer provas de que a Coca-Cola tenha mudado a composição da bebida tradicional que leva seu nome. Ao Comprova, a empresa garantiu que não houve qualquer alteração recente na fórmula do produto. Uma nota sobre o assunto foi publicada no
site da companhia, acrescentando que todos os ingredientes utilizados nos produtos são seguros, aprovados pelos órgãos regulatórios e constam no rótulo das embalagens.
O último registro de
mudança de fórmula da tradicional bebida ocorreu em de 23 de abril de 1985, há mais de 35 anos. À época, a alteração não foi bem aceita pelos consumidores e a fórmula original foi retomada poucos meses depois, em 11 de julho de 1985.
A assessoria de imprensa da Coca-Cola Femsa declarou que as alegações feitas nas redes sociais são inverídicas e explicou que utiliza o termo “DNA KOF” em sua comunicação interna como forma de traduzir os valores e comportamentos que envolvem seus colaboradores. A expressão foi utilizada nas peças desinformativas como “prova” de que se pretende alterar as informações genéticas das pessoas por meio da bebida.
Vacinas não alteram o DNA das pessoas
Não há sentido em afirmar que inserir vacinas com mRNA em refrigerantes possibilite o controle do DNA, isso porque nem mesmo os imunizantes aplicados nas pessoas para o combate da doença são capazes disso.
A falsa afirmação de que o mRNA pode alterar o DNA passou a ser amplamente difundida após a aprovação de duas vacinas contra a covid-19, da Pfizer e da Moderna, que usam a tecnologia. A alegação foi desmentida várias vezes ao longo da pandemia de coronavírus. O Comprova já explicou que as vacinas de mRNA são desenvolvidas para não interferir no DNA humano e que não há qualquer evidência de que sejam capazes de causar danos genéticos.
O mRNA é uma molécula existente no corpo humano e que leva informações até o núcleo das células para produção de proteínas. Os laboratórios responsáveis pelos imunizantes produziram mRNAs sintéticos, que contêm uma parte da informação genética do novo coronavírus. No nosso corpo, esse RNA vai fazer com que produzamos uma proteína que alerta o sistema imunológico para criar anticorpos.
Sobre alegações desta natureza, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já se posicionou informando que as vacinas que empregam em sua tecnologia o código genético do vírus Sars-CoV-2 não são produtos de terapia gênica porque não utilizam cópias de genes humanos para tratamentos de doenças.
Bill Gates é alvo frequente de teorias conspiratórias devido aos investimentos filantrópicos na área de saúde, incluindo para o combate ao coronavírus. O Estadão Verifica demonstrou, por exemplo, que uma postagem editou vídeo do empresário para sugerir conspiração envolvendo vacina da covid-19 e que um trecho de outra fala dele foi modificado para desacreditar segurança dos imunizantes.
O que diz o responsável pela publicação: No Twitter, o conteúdo foi postado pela conta @VitimasVacinas, que não possui qualquer identificação de quem seja o responsável e não permite o envio de mensagens. Posteriormente, o tuíte foi apagado. O vídeo no Instagram foi gravado por Cristiane Luz. Ao Comprova, ela disse ter se baseado em sites de jornalismo independentes e páginas do Twitter, além dos próprios conhecimentos espirituais sobre o tema, encerrando o contato em seguida.
O que podemos aprender com esta verificação: Os posts têm ar de teoria conspiratória ao sugerirem que um empresário mundialmente conhecido estaria planejando controlar a humanidade. Também envolvem os nomes de duas gigantes do ramo de bebidas. Caso essas empresas, ou mesmo o bilionário, estivessem agindo de má-fé contra os consumidores, o fato certamente teria ampla divulgação.
Nesse contexto, é importante destacar que a imprensa profissional é uma fonte de informação confiável, portanto, bastaria uma busca pelo assunto para encontrar notícias nesse sentido. Sobre o funcionamento da tecnologia em vacinas, há farto conteúdo não só na imprensa, como também nos sites das agências que regulamentam esses produtos e em fontes oficiais dos governos, que devem ser consultadas.
É importante também que o leitor fique atento a conteúdos muito mirabolantes, como este, e se perguntar se faz algum sentido o que é afirmado na publicação. Bastaria uma simples pergunta, como “É possível colocar DNA em um refrigerante?”, para desconfiarmos do conteúdo.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo
WhatsApp +55 11 97045-4984.