Entre os anos de 2021 e 2022, a ineficiência e incompetência da bancada federal de Rondônia custaram caro à população. Enquanto os parlamentares se ocupavam em defender o então presidente Jair Bolsonaro (PL), deixaram de lado questões essenciais para o estado, como a concessão da BR-364. O resultado? Pedágios foram impostos sem garantias reais de duplicação, e audiências públicas fundamentais para o futuro da rodovia ocorreram sem transparência.
Em entrevista recente, o professor, jornalista e advogado especialista em Ciência Política, Samuel Costa, criticou duramente a postura dos parlamentares rondonienses, afirmando que "a bancada de Rondônia passou mais tempo defendendo Bolsonaro do que os interesses do nosso estado. Como resultado, a concessão da BR-364 avançou sem debate adequado e sem garantias concretas de duplicação, prejudicando diretamente a população."
Um dos episódios mais emblemáticos dessa omissão foi a suposta audiência pública realizada em Porto Velho no dia 11 de fevereiro de 2022, que discutiu a concessão da BR-364. Apesar da importância do tema, não há registros de ampla publicidade sobre o evento, e nenhuma divulgação relevante foi encontrada em jornais ou sites de grande circulação. A ausência de transparência reforça a impressão de que a bancada federal não priorizou o debate público e democrático sobre a concessão.
Segundo Costa, essa estratégia seguiu um padrão comum à época: restringir a divulgação ao Diário Oficial da União (DOU), um meio técnico e de difícil acesso à população. "Essa falta de transparência impediu que os rondonienses tivessem voz na decisão sobre a BR-364. Colocam no DOU, e quem quiser que procure. Isso não é publicidade de verdade", criticou o especialista.
A situação reflete bem a lógica expressa na célebre frase do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (PL): "enquanto ficam distraídos, passa a boiada." Enquanto os 8 deputados federais e os 3 senadores de Rondônia se ocupavam em disputas ideológicas e na defesa incondicional do governo Bolsonaro, a concessão da BR-364 avançava sem garantias concretas de duplicação. O resultado é sentido até hoje pelos motoristas: uma rodovia perigosa, tarifas elevadas de pedágio e incerteza quanto às melhorias estruturais prometidas.
Embora o contrato de concessão previsse um cronograma de duplicação, faltavam mecanismos sólidos de fiscalização para garantir a execução das obras. Situações semelhantes já ocorreram em outros estados, onde concessões rodoviárias resultaram na simples instalação de praças de pedágio sem que as melhorias esperadas fossem entregues no prazo estipulado.
Para Samuel Costa, o descaso da bancada federal de Rondônia com essa pauta demonstra como agendas políticas nacionais foram priorizadas em detrimento das necessidades locais. “O papel dos parlamentares é defender o povo de Rondônia, mas o que vimos foi uma bancada incompetente, ocupada demais com disputas ideológicas, enquanto a BR-364 era concedida sem garantias para os usuários da rodovia", criticou.
A conta dessa lambança na concessão da BR-364 tem donos bem definidos: os 8 deputados federais e os 3 senadores eleitos por Rondônia. Foram eles que deixaram o estado à mercê de um contrato mal negociado, com pedágios altos e sem compromissos sólidos de duplicação.
Diante desse cenário, Costa alerta que é preciso vigilância e mobilização para evitar que os erros do passado se repitam. “A população precisa cobrar transparência e participação em decisões tão importantes. Se não houver fiscalização e pressão popular, a ‘boiada’ vai continuar passando, e quem paga o preço somos nós, que dependemos da BR-364 todos os dias”, concluiu.