Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – GREVE POLÍTICA Uma das poucas categorias profissionais do pedaço com o patamar de coordenação compatível com as mobilizações reivindicatórias que convoca, a dos servidores do setor educacional (organizada sob a chancela de Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Rondônia – Sintero) invariavelmente tem sido acusada de fazer “greves políticas” todas as vezes que, sem ter mais para onde correr, lança mão do derradeiro recurso que a Lei lhe faculta para tentar resolver suas pendências. Obviamente, não está sendo diferente agora, quando a greve em curso convocada pelo Sintero avança pela segunda semana, conforme as lideranças do movimento, acusando um percentual de adesão maior do que nos primeiros dias da paralisação. Em que importe o Sintero ter divulgado à exaustão que a categoria estava sendo mobilizada para reivindicar “reposição salarial, unificação do plano de carreira, gestão democrática nas escolas, aumento do valor do auxílio saúde, retorno do auxílio saúde para os aposentados e a implantação do Plano Estadual de Educação”, tão logo resultaram esgotadas as tentativas de diálogo com o Executivo estadual, o governo e áulicos de toda sorte apressaram-se em trombetear que a greve é política. A iniciativa, como chega a ulular, objetiva desqualificar o movimento, tentando-se passar para a opinião pública a idéia de que as reivindicações dos professores e demais funcionários do setor são simples pretextos para o Sintero fazer política contra o governador e sua administração. O que poderia ser até uma meia verdade, de fato, não chega a tanto, porquanto se trata do mais esfarrapado sofisma. Claro que a greve é política. Não apenas esta, mas todas, desde que Lysistrata comandou as mulheres de Atenas e de Esparta para forçar seus maridos a encerrar a Guerra do Peloponeso - que estava destruindo as duas cidades. Quando os homens voltavam das batalhas, sedentos de amor, as mulheres se recusavam a fazer sexo e, assim, atenienses e espartanos impuseram-se a paz. 2 – TRANSPERÊNCIA ABSOLUTA Esta, se não foi a primeira, com toda certeza ficou conhecida como a mais celebrada greve da humanidade, mas isso é outra história. O fato é que inexistem mobilizações por demandas – como no caso das mulheres gregas – ou por direitos – como no caso dos trabalhadores em educação de quem se fala – que não sejam eminentemente políticas. O buraco é mais embaixo. Proclamado pelos papas, reconhecido universalmente como característica dos regimes democráticos e conquistado a duras penas, o direito de greve é inalienável para todos os trabalhadores, seja no serviço público ou no âmbito privado.Base da independência sindical, sem ele os sindicatos dos trabalhadores do setor público ficam como que desarmados frente ao Estado. Assim, consagrada pela Constituição (art. 9º, I, II), a greve torna-se um recurso legítimo e legal quando esgotadas demais formas de negociação. Nesse sentido, quem quer que possa ser considerado medianamente informado, se não está a par por inteiro, certamente já deverá ter ouvido falar nas tentativas do Sintero de encaminhar as negociações de suas demandas com o governo, porquanto desde o início do ano, quando protocolou as reivindicações em fevereiro e solicitou, em seguida, audiências com autoridades para abertura do processo de negociação, a imprensa vem sendo sistematicamente abastecida com informações sobre todas as etapas do processo. Aliás, nesse particular, de transparência é que não se pode reclamar quando se falar do Sintero. Para não depender exclusivamente da reprodução espontânea dos comunicados (releases, no jargão especializado) que distribui, a entidade mantém uma coluna – “Informe Sintero” – em jornais e sites de notícias, com periodicidade regular, por intermédio da qual qualquer pesquisa ligeira constatará que a categoria tentou, por várias vezes, o diálogo com o governo, sem sucesso. Desse modo, ficou-se sabendo que a decisão da categoria de que poderia entrar em greve foi comunicada ao governo com grande antecedência. 3 – RECURSO EXTREMADO Por essas e por outras, a ninguém é dado o direito de duvidar “absolutamente” do Sintero diante do argumento segundo o qual “a greve dos trabalhadores em educação é legal, justa e legítima, pois todas as formalidades foram respeitadas”. O “absolutamente” aí aspado vai por conta da carga de subjetividade que se possa inferir quanto à eqüidade do movimento, já que o respeito às formalidades pode assegurar apenas o quanto ele é legal e legítimo. Para se tentar saber até onde é ou deixa de ser justo, carece refletir um pouco sobre o que significa fazer educação neste país, sabendo-se que no mais recorrente dos conceitos, isso quer dizer dedicar a vida à busca do conhecimento, à reprodução e difusão das idéias, à descoberta do passado, consolidação do presente e criação do futuro de uma nação, de resto, uma escolha séria, complexa e difícil. À essa dedicação e ao trabalho intenso nem sempre correspondem o reconhecimento e os resultados perseguidos. Sucessos e fracassos muitas vezes ficam restritos, se não às paredes das salas de aulas, aos limites da comunidade pedagógica à qual a maioria dos trabalhadores em educação pertence. É sabido que todo jovem que escolhe o caminho da produção de educação tem freqüentemente dentro de si um mundo de sonhos e ideais, sejam aqueles que lhe falam de suas possibilidades criativas, sejam aqueles de colaborar para a construção de um mundo melhor. Nesse mundo que perde a cada dia o encantamento do sonho e das perspectivas de ampliação da vida e da consciência, escolher a educação parece, às vezes, uma forma sutil de auto-aniquilamento. Menos mal que, na maioria delas, a chance de realização suprema. Entretanto, lidar com a dificuldade de verbas, o desgaste no desvio de tarefas, a desvalorização do trabalho, salários defasados, jornadas exaustivas, além dos estereótipos que sufocam uma carreira não raro incompreendida e os conflitos vários - tudo é um imenso desafio. Convém considerar que a greve do Sintero pode ser apenas um recurso extremado para tentar superar parte disso.
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