BRIAN DE PALMA: Três filmaços de suspense do melhor sucessor de Hitchcock - Por Marcos Souza

BRIAN DE PALMA: Três filmaços de suspense do melhor sucessor de Hitchcock - Por Marcos Souza

Foto: Divulgação

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O diretor Brian De Palma é com certeza um dos melhores diretores do movimento cinematográfico chamado “A Nova Hollywood", que iniciou no final dos anos 60 e se popularizou nos anos 70, revolucionando a indústria cinematográfica americana. Outros diretores que fizeram parte incluem Martin Scorsese, William Friedkin, Steven Spielberg (no início de sua carreira com os clássicos “Encurralado” e “Louca Escapada”), George Lucas e Francis Ford Coppola.
 
Qual mudança radical que esse movimento propôs e que mudou os rumos de fazer filmes no cinema norte-americano? Esses cineastas, que foram chamados de "movie brats" - um termo que ficou bastante popularizado pela crítica de cinema Pauline Kael - geralmente faziam um cinema autoral, utilizando os recursos técnicos que tinham à disposição na época para criar cenas e takes diferentes com uma abordagem mais urbana, que buscavam refletir de forma crua a realidade que queriam mostrar.
 
Alguns críticos de cinema consideram esse movimento nos anos 70 como o mais profícuo e criativo. Filmes como “A Conversação” (Coppola), “Operação França” (Friedkin), “Taxi Driver” (Scorsese), entre tantos outros convergem para esse cinema mais realista, às vezes brutal, violento e com emulações do cinema clássico adaptado para o tempo que viviam.
 
E um dos diretores mais criativos foi Brian De Palma, não um gênio, mas pelo fato de ser fanático pelos filmes do mestre do suspense Alfred Hitchcock, e conhecer cada take, sequência de seus filmes mais famosos, como “Psicose”, “Janela Indiscreta”, “Um Corpo que Cai” e “Festim Diabólico”, Brian conseguiu escrever e dirigir seus melhores filmes influenciados diretamente pelo mestre britânico e que são verdadeiras aulas de técnicas de cinema, com uma criatividade narrativa espetacular.
 
Vou listar três grandes filmes de suspense que estão disponíveis na plataforma de streaming da curadoria MUBI, que valem a pena assistir (e muito). Sendo que um deles pode ser assistido no YouTube, dublado.
 
 
CARRIE, A ESTRANHA (1976) – Considerado por muitos como a melhor adaptação de um livro do escritor Stephen King, um romance de terror que marcou por ser o primeiro trabalho publicado por ele, se tornando um sucesso estrondoso. Brian De Palma ficou fascinado pela história de uma adolescente criada por uma mãe fanática religiosa, que odeia e repudia sexo. Carrie é criada de forma isolada, mesmo frequentando uma escola comum para adolescentes, onde sofre bullying das meninas.
 
 
Carrie (Sissy Spacek, excepcional) sofre a sua menarca no banheiro coletivo das meninas e é humilhada por muitas delas, que riem e fazem piadas da sua condição, até ser acolhida pela treinadora e professora de educação física. Desse início tenso, vamos conhecendo aos poucos a história familiar dela, que sofre com as severas punições da mãe, Margaret (Piper Laurie, perfeita), que vive de pedir caridade aos vizinhos pregando a Bíblia. Enquanto isso, Carrie vai apresentando estranhos sinais de um poder de telecinese que faz com que se reprima num mundo só seu, porém sonha em ter uma vida normal e que fuja das regras fanáticas da sua genitora.
 
Uma das meninas que fez bullying com Carrie se arrepende, Sue (Amy Irving), e, tocada pela condição introspectiva de sua colega, pede ao seu namorado, Tommy (William Katt), que a convide para o baile da escola, o evento festivo de encerramento do ano letivo, muito concorrido pelas garotas e onde são escolhidos o rei e a rainha daquele ano.
 
Como ato conspiratório, Chris (Nancy Allen, musa do diretor), em sua vilania arma um plano para humilhar Carrie no meio da festa, junto com o seu namorado marginal, Billy (Travolta, antes de estourar com “Os Embalos de Sábado à Noite”). A partir daí, ficamos na tensão com a preparação da armadilha para a festa e os momentos de conflitos entre mãe e filha, que provocam ainda mais o surgimento maior dos poderes telecinéticos de Carrie.
A sequência do baile de formatura é ainda, até hoje, uma das mais brutais e chocantes já realizadas para o cinema, com o diretor De Palma dando uma aula de suspense e choque, dividindo a tela para mostrar duas cenas simultâneas ao mesmo tempo, em ambientes diferentes.
 
 
Tecnicamente o filme é primoroso, marcou também a primeira colaboração do diretor com o seu maestro de trilha sonora, Pino Donaggio — que emula muito bem as suntuosas e clássicas orquestrações do maestro Bernard Herrmann, autor das trilhas dos melhores filmes de Hitchcock.
 
O filme teve uma sequência em 1999 ("The Rage: Carrie 2"), um telefilme em 2002, e um remake para cinema em 2013. Todos ruins. Por incrível que pareça, houve um musical da Broadway baseado na história. 
 
 
VESTIDA PARA MATAR (1980) – Esse é um dos filmes que mais emula o trabalho do diretor Hitchcock, onde o diretor De Palma claramente homenageia os filmes “Um Corpo que Cai” e “Psicose”, contando a história de uma mulher insatisfeita sexualmente, Kate Miller (Angie Dickinson). Ela faz terapia com um psicólogo famoso, Dr. Robert Elliot (Michael Caine, em um de seus melhores momentos), e que trata de distúrbios sexuais e problemas de relacionamento.
 
 
Tentando entender o momento em que está vivendo, com um filho adolescente e um marido bem-sucedido e que vive para o trabalho, mas já sem o mesmo ímpeto amoroso no relacionamento, Kate até tenta ponderar sobre a sua condição de insatisfação sexual e como isso pode afetar o seu futuro.
Logo que ela sai do consultório, resolve fazer um passeio pelo museu de artes. Ela logo acaba se aproximando de um homem charmoso e desconhecido. Em suas voltas pelos corredores do museu, entra num flerte que resulta numa tarde de amor em um hotel — até ter uma revelação avassaladora e que pode afetar o seu casamento.
 
Porém, ocorre algo inesperado no elevador do prédio e que tem como testemunha uma garota de programa, Liz Blake (Nancy Allen, musa e então esposa do diretor), que vira suspeita para um policial linha-dura, detetive Marino (Dennis Franz).
 
O filho de Kate, o jovem estudante e considerado gênio, Peter (Keith Gordon, que depois virou diretor de filmes de terror), entra na história e se alia a Liz, quando resolve investigar o Dr. Robert, que é obrigado a lidar com um psicopata trans (sim, isso mesmo) que ataca as mulheres — pacientes suas — com uma navalha roubada de seu consultório.
 
 
Com essa premissa, De Palma utiliza longos planos-sequência — como as cenas do museu, que lembram muito “Um Corpo que Cai” — e utiliza recursos narrativos engenhosos, como time lapse, a partir da câmera de Peter, que fica instalada em um ponto estratégico para a sua investigação. Os momentos tensos são absurdos e conclui com uma revelação chocante.
 
 
UM TIRO NA NOITE (1981) – Esse é um dos melhores filmes já realizados por De Palma, com roteiro e direção, e uma equipe técnica primorosa. Além do seu colaborador musical Pino Donaggio (maestro), tem a direção de fotografia do excepcional Vilmos Zsigmond (responsável por filmes como “Amargo Pesadelo”, de John Boorman, e “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, de Spielberg, que lhe valeu um Oscar), e volta a trabalhar com John Travolta e Nancy Allen.
 
Um técnico de som de filmes de baixo orçamento, Jack Terry (Travolta), resolve sair à noite e gravar, em uma ponte próxima à rodovia e a uma floresta, sons, captando para um gravador — ele arquiva esses sons para usar nos filmes que participa. Porém, nessa noite, ele grava o áudio de um acidente que acaba resultando em um carro caindo no rio. Ele consegue salvar a tempo uma moça de dentro do carro, Sally (Allen).
 
 
No hospital, Jack descobre que o motorista do veículo é o governador McRyan, que era o candidato favorito para ganhar as prévias das eleições americanas para presidente dos EUA. Ao saber que ele e Sally não podem comentar nada a respeito do acidente ocorrido, pois o governador era casado e tinha pretensões políticas, Jack fica sabendo que McRyan morreu no acidente, e ele tem certeza de que ouviu um tiro antes de o carro cair no rio. Porém, a perícia vai indicar que foi apenas um estouro de pneu.
 
Como gravou o acidente em áudio, Jack tem certeza do tiro. Logo descobre, pela imprensa, que um fotógrafo que também estava próximo ao local conseguiu filmar o acidente — Manny Karp (o ótimo Dennis Franz) — e teve os fotogramas do registro do acidente publicados numa revista. Juntando os fotogramas com o áudio, Jack consegue provar que, de fato, houve um tiro. Com isso, vai tentar mostrar que há uma conspiração política ocorrendo nos bastidores das eleições presidenciais.
 
De Palma enxuga essa conotação política com um suspense de tirar o fôlego, ao mostrar que, por trás de tudo isso, um psicopata — Burker (John Lithgow, sinistro) — entra na história para mudar os rumos da investigação que o técnico de som vem fazendo.
 
O filme tem várias sequências brilhantes e é uma verdadeira aula de cinema, com o diretor utilizando o recurso da tela dividida, sobreposição de imagens e uso de slown motion (câmera lenta) no clímax final do filme. Um dos pontos altos e a do take de montagem do áudio com os fotogramas feitos por Jack numa moviola, para provar o tiro, é tão bem feito, caprichoso, que quem assiste se pergunta como o diretor escreveu essa cena no roteiro. 
 
 
O título original, Blow Out, faz uma referência direta ao clássico do diretor Michelangelo Antonioni, Blow-Up – Depois daquele Beijo (1966), uma obra-prima, que tem uma sequência de ampliação de fotos sensacional.
 
O filme não deixa de ser uma reconstrução de suspense que lembra muito Hitchcock, principalmente pelo filme “Um corpo que cai” (1958), mas também uma homenagem impressionante ao diretor italiano Antonioni.
 
O final do filme é triste e irônico, mas a sequência dos fogos de artifícios com a busca de Jack por Sally em meio a uma confusão na rua e culminando num telhado, onde pode ocorrer um crime, é de tirar o fôlego. Esse filme está disponível também no YouTube, dublado.
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