HOLOCAUSTO C4N!B4L: No cinema fez metade do público ir embora e uma outra parte vomitar - Por Marcos Souza

HOLOCAUSTO C4N!B4L: No cinema fez metade do público ir embora e uma outra parte vomitar - Por Marcos Souza

Foto: Reprodução

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O que mede hoje dentro bom senso cinematográfico que já não tenha ultrapassado todos os limites dentro do bom gosto? Nada.
 
Existem filmes considerados de extremo mau gosto e que fazem sucesso no meio alternativo e tem seu público, como “A Centopeia Humana” (2009), filme nojento sobre um experimento escatológico que une lábios com o ânus em um grupo de cobaias ou o “Serbian Filme – Terror sem limites” (2010), filme que envolve pedofilia e necrofilia e que teve a sua exibição proibida no Brasil em 2011. 



 
Esses filmes são fáceis de achar nos meios alternativos, mas não aconselho, a experiência é traumática ou asquerosa em todos os sentidos, pois são filmes feitos para chocar, com um fiapo de história e uma linha narrativa com base em efeitos grotescos. Mas, como eu escrevi, tem o seu público. 
 
Nos anos 80 teve um filme que quebrou barreiras dos limites possíveis do que se pode chamar do bom gosto cinematográfico e era uma explosão de violência, filmado na selva amazônica – do território colombiano. 
 
“Holocausto Canibal” (Cannibal Holocaust/1980), filme italiano do diretor Ruggero Deodato, um clássico do terror e que foi realizado como um mockumentary (pseudocumentário) que relata a aventura de quatro documentaristas desaparecidos na selva amazônica, que tem os rolos do filme que faziam encontrados por um antropólogo que liderou um grupo de resgate. O filme mostra através desses rolos – após revelados - o que aconteceu de fato com eles e não é nada bonito.
 
 
Quando eu era um jovem mancebo e rato de cinema, o cartaz desse filme vez ou outra voltava para a frente do Cine Lacerda com um aviso de que esse era a produção cinematográfica mais violenta já feita e que tudo era apresentado na tela era real. E eu acreditei de fato. 
 
O filme foi exibido em uma daquelas sessões noturnas que eram dedicadas só a filmes de terror. Fui com dois amigos da escola assistir. Tinha 18 anos, e isso ajudou, pois na bilheteria já exigiam a sua identidade e a bilheteira ainda avisava sorrindo: “espero que tenha estômago”. 
 
Não entendi. Mas durante a projeção compreendi totalmente. 
 
O filme é apresentado como um documentário de uma jornada de busca, quando mostra um antropólogo da Universidade de Nova Iorque, Harold Monroe, que resolve montar uma equipe de resgate para ir até a floresta amazônica procurar quatro documentaristas americanos que sumiram e não deram mais notícias. Eles estavam produzindo um documentário sobre tribos indígenas canibais cujo título seria “The Green Hell” (O Inferno Verde).
 
 
O filme gasta a sua primeira hora mostrando esse resgate, quando Monroe com a ajuda de um jovem da tribo dos Yacumo e de dois guias – Chaco e Miguel - conseguem encontrar a tribo após vários dias de caminhada na selva. Ali em meio ao tratamento hostil dos índios ele descobre que os documentaristas tiveram conflitos com aquele povo. Para piorar duas tribos canibais estão em guerra – os Yanomami e os Shamatari.
 
Sem ainda saber o paradeiro das pessoas que procurava, graças a sua intromissão para salvar um grupo de jovens índios Yanomamis ele acaba sendo aceito na tribo, com certa desconfiança, até que algumas índias o levam a um local considerado como santuário, e lá ele encontra os resto dos cadáveres dos documentaristas, já em adiantado estado de decomposição. Após confrontar a liderança da aldeia para levar os corpos e o material cinematográfico – equipamento e os rolos dos filmes -, Monroe acaba trocando um gravador de voz e é obrigado a participar de um ritual canibal.
 
Uma vez de volta a Nova Iorque, o antropólogo descobre que a equipe era bastante mal intencionada na selva no tratamento com os nativos e os animais que encontravam. Ao revelar os filmes e assistir o material, aí entra sacada do filme, pois o que passamos a ver é o registro do dia a dia da equipe no meio da selva. Os problemas que enfrentam como sede e fome. Logo de cara já perdem o guia no início da jornada quando ele é picado por uma cobra e amputam a sua perna, mas a sua situação piora e é abandonado por todos. 
 
Depois disso rola uma sequência brutal envolvendo uma tartaruga viva – morta nas filmagens – tem uma pessoa queimada viva, tem uma sequência de estupro, um empalamento envolvendo uma jovem nativa por não ser mais virgem, quando a sua família a mata. 
 
As cenas vão se tornando cada vez mais violentas e inesperadas.
 
O diretor coloca como estivéssemos em um found footage a partir das cenas registradas, sendo dessa forma um dos primeiros filmes desse estilo e que consagrou, por exemplo, o terror “A Bruxa de Blair” (1999), pois as filmagens perdidas e agora sendo assistidas pelo antropólogo funcionam como flashbacks.
 
Para tornar tudo real as cenas são tremidas, com lente aberta e imagens detalhadas da violência plástica que vai rolando. O diretor utiliza de todos os artifícios possíveis para deixar tudo real, com muito sangue cinematográfico, truques de montagem e membros do corpos feito com borracha ou espuma. 
 
 
Mas vamos lembrar que estamos nos anos 80 e esses truques pareciam incríveis. Porém todos os animais mortos no filme foram reais. 
 
O diretor Ruggero queria chocar e proporcionar um espetáculo mais próximo do real possível, utilizou todos os artifícios possíveis e impossíveis, inclusive se tornando irascível nas filmagens pela sua postura de exigir muito do elenco e da produção quando estava filmando na Colômbia. O elenco era feito por atores americanos e italianos, muitos nunca haviam pisado numa selva. 
 
A consequência da realização de “Holocausto Canibal” e o seu lançamento no cinemas provocou uma das maiores polêmicas no entretenimento, pois o diretor logo que exibiu o filme na Itália foi acionado juridicamente, com um juiz mandando apreender os rolos e também deter Ruggero, sob a acusação de ter feito uma obra recheada de “obscenidade”, como um filme snuff (aquelas produções toscas dos anos 70 que filmavam cenas reais de mortes e eram exibidas em locais clandestinos).
 
A acusação derivava de um rumor de que alguns atores estavam realmente mortos e as suas mortes foram registradas no “documentário”. 
 
Vale ressaltar o faro de marketing do diretor italiano, pois na época quando ele montou o elenco obrigou a todos a assinar um contrato de sigilo sobre os bastidores do filme e os atores não poderiam fazer outro filme pelo período de um ano, enquanto “Holocausto Canibal” estivesse sendo exibido.
 
As consequências desse estratagema foi que com o sumiço dos atores de fato a impressão que tinha é que eles haviam morrido. A promoção do filme foi negativa, pois ele acabou sendo proibido na Itália, no Reino Unido e até na Austrália, sendo que em outros países a sua proibição se decorreu devido à sua representação gráfica de violência brutal, agressão sexual e manter as cenas de seis mortes com violência real contra os animais silvestres. Nesse caso dos animais, contou o diretor na época que um dos atores se retirou do set de filmagem quando matara o quati, e um outro ator recusou matar o porco, obrigando um dos produtores a fazer o serviço sujo. 
 
 
Outro momento tenso foi que teve um ator também, Perry Pirkanen, que chorou durante a morte da tartaruga e alguns membros da equipe vomitaram quando um macaco foi morto nas filmagens. O diretor, Deodato, disse que todos os animais mortos no filme foram consumidos tanto pela equipe de produção quanto pelos nativos que participaram.
 
DE VOLTA A EXIBIÇÃO NO CINE LACERDA
 
 Na noite que fui assistir o filme no Cine Lacerda e após receber uma advertência num gracejo da bilheteira, tinha dentro da sala umas 15 pessoas, eu e meu amigos ficamos nas cadeiras centrais na 4ª fileira, próximo a tela. 
 
Confesso que o fato da cópia ser um pouco ruim, tinha alguns riscos e o som falhava em alguns momentos, não atrapalhou, mas após uma hora de filme quando entrou na parte que mostrava as gravações dos documentaristas tudo ficou mais tenso.
 
Na cena da tartaruga quatro pessoas levantaram das cadeiras e saíram da sala. Ao fundo eu ouvi alguém vomitar. Ao olhar para trás eram três moças passando mal e saindo do cinema com as mãos nas bocas. 
 
Pela primeira vez na minha vida senti um mal estar dentro da sala de um cinema, aquilo era muito nojento. De extremo mau gosto. 
 
Meus amigos queriam ir embora, mesmo achando asqueroso preferi ficar. Eles disseram que iam para a lanchonete e me aguardariam. 
 
Fiquei e fui até o final. E Confesso que foi uma experiência que não quis mais repetir. 
 
O cinema era a minha fuga da realidade, o meu canto do prazer. E aquele filme, “Holocausto Canibal”, me deu um choque de realidade que demoraria um certo tempo para esquecer. Aquilo me chocou. 
 
Anos depois o assisti em vídeo e já via tantos defeitos que eu me perguntava como pode ter me surpreendido.
 
“Holocausto Canibal” pode ser encontrado no Youtube com legenda em espanhol ou pode se ver os cortes com as cenas mais chocantes. Eu recomento que se assista o filme completo, mas é para poucos e marcou uma época.  
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