INFELICIDADE: Apresentador de Ariquemes explica fala sobre estupros devido às roupas das vítimas

Colocação aconteceu após pergunta de telespectador que queria saber como evitar violência sexual

 

Na última segunda-feira (31), o apresentador de Ariquemes, Wilson Rodrigues, mais conhecido como Pica-Pau, deu uma sugestão que causou grande repercussão nas redes sociais.

 
Após uma pergunta de um telespectador sobre como evitar estupro, Wilson Rodrigues falou que: “É só você usar roupa curta normal e ir numa festa de gente decente que tu não vai”.
 
Apresentador Pica-Pau
 
Pica-Pau deu a “dica” ao vivo, no programa Plantão de Polícia, da RedeTV de Ariquemes, ao comentar uma operação da Polícia Militar, que encerrou uma festa clandestina em razão da pandemia, envolvendo bebidas alcóolicas e menores.
 
Conforme vídeo publicado nas redes sociais e em um canal na internet, Wilson Rodrigues ainda fez críticas a campanhas virtuais que utilizam hashtags para chamar atenção às causas das mulheres.
 
“A cultura do estupro é um dos problemas estruturais que mantém as mulheres em perigo ainda hoje, pois ao acreditar que a culpa do estupro é da vítima, muitos homens se valem disso para cometer esses crimes e contar com a impunidade. A partir do momento que falas que responsabilizam a vítima são propagadas, as pessoas que as levam à opinião pública estão reforçando a crença que mulheres são sim culpadas por serem violadas”, protestou a presidente da Associação Filhas do Boto Nunca Mais, Anne Cleyanne Alves.
 
Pica-Pau ainda seguiu culpando as vítimas por usarem roupas curtas demais.
 
“Tem umas menininhas de 13 e 14 aninhos que se ‘maqueia’ e veste umas roupas muito comportadas… Não tem o short jeans? Elas não usam o short, usam o cós do short. Ficam parecendo rapariga, moça, e vão para esses ‘lugar’, dessas festinhas, enche a cara, fica bêbada, cai na piscina, morre ou enche a cara e é estuprada por um monte de moleque”, disse ele.
 
Explicações
 
Em contato com o Rondoniaovivo, Wilson Rodrigues ainda tentou explicar os motivos da colocação.
 
 
“Isso é o pessoal da lacração. Tudo começou por causa da galerinha que foi participar de um evento que ‘moiou’. Não pelo Pica-Pau apresentador de Ariquemes, Rondônia, mas pela Polícia Militar. Onde os pais, a mãe que não sabia onde a filha estava, que ia tomar um tereré na casa da amiga e ia dormir lá. Mas descobriram que elas estavam em uma festa particular, em uma fazenda com piscina”, comentou ele. 
 
Pica-pau ainda detalhou o que tinha no local, segundo informações de participantes e dos policiais. 
 
“Festa regada à drogas, prostituição e álcool. As drogas eram maconha, papel [LSD], bala [ecstasy], entre outras. Meninas de 13, 14 anos. Cerca de 60% dos presentes menores de idade! Inclusive quem organizou a festa era um menor de idade. No meu comentário, distorceram e cortaram o vídeo. Queriam achar um culpado, pois não iam culpar o policial militar. Não! Essa pessoa fui eu e o povo tacou o pau em mim”.
 
Ainda de acordo com o apresentador, a maioria dos ataques foi feito por familiares dos envolvidos ou por perfis falsos nas redes sociais.
 
“Fui olhar, só tinha fakes. Ou aquele que eu já falei aqui na TV por ser preso com maconha, por roubo, tudo né... E as menininhas quase nuas, embriagadas. Eu falo porquê sou pai de uma menina de 07 anos de idade. Meu comentário não saiu do nada, só sobre vestimenta. São pessoas que querem ganhar likes e fama. Vocês lembram do hashtag Mexeu com uma, Mexeu com Todas? Acabou!”.
 
 

 
E repetiu o que ele teria dito no programa: “Meninas de 13 aninhos, chapadas, com umas roupinhas, com maquiagem parecendo biscate, em tempo de serem estupradas. A roupa não define a mulher. Larga de serem idiotas, de vocês postarem o que vocês não sabem!”.
 
Dados
 
Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública feito em parceria com a Unicef (órgão das Nações Unidas para a Infância) divulgado em 2021, revelou que cerca de 100 crianças e adolescentes de até 14 anos são estupradas por dia no Brasil.
 
Na maioria das vezes o estupro ocorre na residência da vítima e é praticado por pessoa conhecida. Não há qualquer associação do crime à roupa no perfil traçado das meninas que representam 86% das vítimas de estupro.
 
O mapeamento mostrou que 179.277 estupros ocorreram entre 2017 e 2020 e que a subnotificação torna o cenário de violência sexual contra menores ainda mais grave.
 
“Muitas dessas crianças quando denunciam são desacreditadas, exatamente por essas crenças que só são estupradas pessoas que se colocam em risco. Quando se trata de mulheres adultas, a crença que ela buscou a violação a coloca em mais vulnerabilidade ainda, pois essa violência é relativizada e a vítima acaba sofrendo mais violências psicológicas ao denunciar e ter suas roupas, companhias e escolhas questionadas. A associação Filhas do Boto Nunca Mais entende que a culpa do estupro é somente do estuprador”, pontuou mais uma vez Anne Cleyane.
 
 
Sem apoio
 
A direção da RedeTV Rondônia, que é uma das empresas do Sistema Gurgacz de Comunicação (SGC), divulgou nota condenando a colocação do apresentador Wilson Rodrigues.
 
A RedeTV Rondônia repudia a expressão machista do apresentador Pica-Pau, pois não condiz com a linha editorial adotada. Como a emissora de Ariquemes opera de forma terceirizada, respondendo civil e criminal pelos atos de seus colaboradores, estaremos acionando administrativamente no que é competência das partes no contrato de arrendamento”.
 
Já o próprio Pica-Pau divulgou uma nota de repúdio da emissora onde trabalha, com a seguinte legenda: “Atenção lacração, agora acabou o mimimi”.
 
“A RedeTV Ariquemes em respeito à todos os telespectadores, informa que, não compactua com a opinião do apresentador. O comunicador Pica-Pau foi infeliz em suas colocações após a exibição de uma matéria na edição desta segunda-feira (31/01)”.
 
A nota ainda segue que “o apresentador já se retratou com o público, pedindo desculpas na edição desta terça-feira (01). A direção da emissora já tomou medidas administrativas cabíveis sobre o caso”.
 
 
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