ESPECIAL - Equipamentos para o Hospital Regional de Cacoal estão sob ingerência política, senador estaria "travando" recursos - Fotos e Vídeo

A romaria de ambulâncias na Br364, pode acabar no final de março, data prevista pelo Governo do Estado para a inauguração do Hospital Regional, que está em fase final de construção...

ESPECIAL - Equipamentos para o Hospital Regional de Cacoal estão sob ingerência política, senador estaria

Foto: Divulgação

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Rondônia, 23 de Fevereiro de 2010, 11h30, Rodovia Federal Br 364. Uma ambulância está parada no trecho entre Cacoal e Presidente Médici, no local conhecido como Bola Branca. Ao lado, numa barraca que vende água de côco gelada, estão quatro pessoas, o motorista, a assistente de enfermagem e a mãe de um jovem de 20 anos, que diagnosticado com dengue está sendo enviado para o Cemetron – Centro de Medicina Tropical de Rondônia em Porto Velho.
 
Para chegar a capital, mais de 450 quilômetros ainda separam o rapaz de Alta Floresta do Oeste do atendimento médico especializado. O município de Cacoal ficou cerca de 40 quilômetros para trás. O atendimento poderia ser realizado na referida cidade, que há cerca de 20 anos aguarda a conclusão da obra do Hospital Regional. Durante este tempo, quase a idade do jovem que era transportado na ambulância, quatro governadores estiveram no comando do Estado e cogita-se que cerca de 100 milhões foram “enterrados” na obra.
 
Mas o jovem que seguia para tratamento na Capital não estava em situação mais confortável que milhares de outros usuários do sistema de saúde de Rondônia. Os casos de alta complexidade são atendidos apenas na Capital e por isso o Hospital de Base e o João Paulo II ficam superlotados. Com a inauguração do Hospital Regional de Cacoal, a demanda será dividida e
a Capital, com uma população cada vez maior, terá um fôlego.
 
A romaria de ambulâncias na Br364 pode acabar no final de março, data prevista pelo Governo do Estado para a inauguração do Hospital Regional, que está em fase final de construção, tendo totalizado mais de 85 por cento de conclusão das obras com previsão de entrega em meados de março.
 
De acordo com engenheiros contratados pelo consórcio Santo Antônio Energia, que constrói o hospital como compensação social da Usina, a unidade de saúde será moderna, equipada com três grandes enfermarias, uma pediatria e seis centros cirúrgicos, construídos em uma área total de 18.500 metros quadrados. Duzentos e cinquenta homens trabalham em ritmo acelerado para concluir a construção o quanto antes, “é uma prioridade a conclusão dessa obra porque o governo informou que a situação na Capital está crítica em função do aumento da demanda, portanto, nossa parte estamos fazendo e trabalhando para entregar a obra no prazo”, informou um dos engenheiros da “Santo Antônio”.
 
Mas o longo histórico de interferências políticas na obra do Hospital Regional de Cacoal parece não ter fim e o povo de Rondônia pode sacolejar mais um tempo nas ambulâncias que fazem a “ponte” entre capital e interior.
 
Equipos
 
Apesar das obras de construção civil estarem dentro do cronograma, falta ainda a parte mais importante e cara, os equipamentos. Como se trata de uma unidade que vai atender casos de alta complexidade será necessário muito dinheiro.
 
No apagar das luzes de 2009, no dia 29 de dezembro, foi editada a portaria nº 3313 do Ministério da Saúde, que habilitava diversos Estados e Municípios a receberem recursos federais destinados à aquisição de equipamentos e material permanentes para unidades de saúde. Quarenta e cinco convênios são descritos no Diário Oficial da União, no valor total de mais de 180 milhões de reais. (Veja documento anexo ao final da matéria)
 
Rondônia está no rol de beneficiários, com duas rubricas no valor total de R$12.784.000,00 ( Doze milhões, setecentos e oitenta e quatro mil reais), dinheiro suficiente para equipar o Hospital Regional e iniciar o atendimento a população.
 
O Governo do Estado, através da Sesau – Secretaria de Saúde e o Fundo Estadual de Saúde enviou sua proposta ao MS ainda no ano passado e aguarda a liberação do recurso para cumprir o prazo estipulado.
 
Os recursos já são de Rondônia e segundo informou a assessoria de comunicação do Ministério, “ninguém tira esse dinheiro do Estado”. Mas, eles esqueceram do “fator político”. Como se trata de ano eleitoral, as disputas políticas se sobrepõem ao interesse público e aí, a coisa começa a complicar e desanda para a irresponsabilidade.
 
Nos bastidores políticos, corre a informação desde o mês passado, que o senador Valdir Raupp, recém eleito vice-presidente nacional do PMDB, estaria “emperrando” a liberação dos recursos para equipar o hospital de Cacoal. A informação já chegou ao município e até mesmo no canteiro de obras. Vários trabalhadores questionaram sobre essa possibilidade com a nossa reportagem.
 
Os motivos
 
Valdir Raupp foi governador de Rondônia entre 1994 e 1998, e nesse período o hospital regional de Cacoal estava com as obras paralisadas. Foi feita uma tentativa de retomada, que foi embargada pelo Tribunal de Contas da União em função de problemas na planilha orçamentária. Na sua tentativa de reeleição, Raupp foi reprovado nas urnas pelos eleitores de Rondônia. No pleito de  2002 conseguiu se eleger senador.
 
Agora em 2010 serão disputadas novamente duas vagas ao Senado, com Raupp e Fátima Cleide (PT) tentando a reeleição. Com o governador Ivo Cassol de olho em uma vaga e com grande aceitação popular, Raupp teme não ser reeleito e ficar fora do cenário político exatamente quando ele conseguiu uma das maiores conquistas de sua carreira, que foi assumir a vice-presidência nacional de seu partido.
 
Como têm ciência da importância do hospital para todo o Estado, Raupp vem “segurando” os recursos em Brasília com uma “forcinha” do Ministro da Saúde José Gomes Temporão, também do PMDB, para evitar que Cassol inaugure o hospital antes do prazo de desincompatibilização do cargo, agora em abril. Com o governador fora do palanque, os louros seriam divididos entre os parlamentares.
 
Fala Brasília
 
A reportagem do Rondoniaovivo.com entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber o motivo da demora na liberação dos recursos para equipar o Hospital Regional de Cacoal.
 
De acordo com a assessoria de comunicação, “o dinheiro está liberado para o governo do Estado, faltando apenas alguns pareceres da área técnica para que seja efetivamente depositado na conta do Estado”.
 
Essa burocracia vem atrasando a compra dos equipamentos. Mesmo com a obra em andamento, segundo os engenheiros, diversos materiais poderiam estar sendo instalados. Ainda de acordo com a assessoria do Ministério da Saúde, “o processo está tramitando dentro da normalidade, mas não será possível estipular uma data para a conclusão do procedimento”. Isso significa dizer que, apesar dos esforços por parte do governo em concluir uma novela que dura quase 20 anos, alguns capítulos ainda podem ser reescritos.
 
A obra
 
O Hospital Regional de Cacoal começou a ser construído em 1991. Logo em seguida teve sua obra paralisada e desde então foram feitas sucessivas tentativas de conclusão, tendo sido embargada por diversas vezes. Com a construção das usinas do Madeira e a rede pública de saúde cada vez mais inchada na capital, o governo do Estado negociou com o consórcio Santo Antônio Energia uma compensação no valor inicial de R$ 30 milhões para concluir o Hospital de Cacoal. O objetivo é descentralizar o atendimento de alta complexidade e reduzir a distância percorrida pelos pacientes do interior que buscam atendimento na Capital.
 
O hospital tem 198 leitos, estação de tratamento de esgoto e uma rede de água filtrada, “o usuário vai poder beber água de qualquer torneira sem medo”, explicou o capataz responsável pelo gerenciamento da obra. O HRC também vai contar com usina de oxigênio e ar-comprimido, além de uma sala exclusiva para os motoristas das ambulâncias, “isso não tinha no projeto original”, explicou o capataz, “mas como íamos demolir o escritório que construímos para a engenharia após a conclusão das obras, sugeri ao engenheiro chefe que deixasse a sala para os motoristas das ambulâncias, já que no original não constava e eles teriam que ficar pelos corredores ou dividindo espaço com outros profissionais”, destacou.
 
O HRC também conta com um auditório grande, todo sonorizado, onde serão proferidas palestras e uma ampla biblioteca. Todos os cômodos do hospital possuem sistema de interfone, o que permite a comunicação e localização instantânea entre os profssionais.
 
Realizando um sonho

Durante o deslocamento entre Porto Velho e Cacoal, nossa reportagem encontrou nove ambulâncias, de municípios diferentes. O motorista da ambulância de Alta Floresta, disse que faz a
viagem de 530 quilômetros até oito vezes por mês, “mas temos outros motoristas na prefeitura, trabalhamos por plantão”, explicou.

 

Em Ouro Preto do Oeste, outro veiculo oficial num posto de gasolina, desta monta, uma Van da Sembes – Secretaria Municipal de Bem Estar Social de Vilhena que estava retornando com lotação máxima para sua cidade. De acordo com o motorista, seus passageiros eram pacientes já tratados na capital. Dividiam a cabine, parentes dos “ex-doentes”.
 
Normalmente na ambulância se desloca, além do motorista, um técnico de enfermagem, o paciente e um acompanhante. A maioria da frota de ambulâncias atualmente é composta de carros "pequenos", como o Saveiro, que não tem ar-condicionado na "cabine do adoentado". Diárias e combustível aumentam a conta dos combalidos sistemas de saúde municipais. A segurança veicular e de passageiros na viagem pela BR 364 até a capital que está localizada no extremo "norte"  do estado, na fronteira com o Amazonas, também tem que ser levada em conta. Deve-se dar celeridade na liberação dos recursos dos equipos, que entre vários benefícios imediatos aos usuários do sistema de transporte ambulatorial, também vai diminuir a quilometragem do "rally" diário dos abnegados motoristas profissionais da saúde, na "corrida da vida" em Rondônia.
 
A BR 364 está tomada pelos buracos e na maioria dos casos, o longo percurso agrava o quadro clínico dos pacientes. As distâncias entre cidades em Rondônia são muito grandes e o HCR vai polarizar as regiões Sul e Centro do Estado, desafogando a rede de saúde da Capital.
 
Como a prefeitura de Porto Velho irresponsavelmente se recusa a construir um pronto-socorro, a obrigação ficou com o Estado, que vem se desdobrando para cumpri-la.  A maioria das pessoas com que a reportagem conversou pelo caminho, considera a conclusão das obras do HRC como um sonho realizado.
 
E o único obstáculo na realização desse sonho é o fator político, que se sobrepõe ao interesse coletivo. A conhecida “politicalha” que aflora em anos eleitorais até no meio de rodovias federais.
 
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