Moradores do bairro Triângulo, em Porto Velho, participaram ontem (dia 4) de uma reunião com representantes do Ministério Público Federal e Ministério Público do Estado de Rondônia. Eles reclamaram de “falta de transparência” no andamento do Projeto Igarapé Grande, que está sendo feito pela prefeitura e prevê a realocação das famílias do bairro. Depois da reunião, o procurador da República Ercias Rodrigues de Sousa e a promotora de Justiça Tâmera Padoin visitaram o bairro e verificaram a situação das casas.
As reclamações dos moradores são quanto à falta de esclarecimentos sobre a saída das famílias do local e onde serão realocadas. Eles alegaram há especulação de que cerca de 300 famílias terão que deixar a área para que seja feito um projeto de urbanização. Os moradores apresentaram mapas da área abrangida pelo projeto, mas informaram que não têm certeza sobre o perímetro que será afetado. Por conta desta situação, alguns relataram que não sabem se terão que sair ou não do bairro.
Os moradores também se queixaram quanto aos critérios para a concessão de apartamentos que estão em construção. Segundo eles, há famílias que terão ganho com a mudança de casa, mas outras sofrerão perdas em relação, principalmente, a espaço, uma vez que a área interna dos apartamentos é estimada em aproximadamente 47 metros quadrados.
Outra preocupação é quanto a coletas de assinaturas dos moradores. Segundo os relatos, funcionários da prefeitura têm pedido assinaturas durante reuniões sobre programas de saúde (prevenção a DST/Aids, por exemplo), entre outras, e também em visitas de porta em porta. Os moradores temem que essas assinaturas sejam colocadas em listas de presença de reuniões que não existiram para tratar do projeto de urbanização.
O procurador Ercias Rodrigues e a promotora Tâmera Padoin foram enfáticos ao afirmar que a política pública é definida pelo poder publico constituído – no caso, a prefeitura – e que há fundamentação jurídica para a retirada das casas porque muitas delas se encontram em áreas de preservação permanente ambiental. “O que se pode discutir é o aspecto de cidadania, dignidade e perdas materiais e imateriais, como cultura e modo de vida”, afirmou o procurador.
Ercias Rodrigues também disse que não se pode tratar realidades diferentes da mesma forma, referindo-se a famílias que têm casas mais estruturadas e outras que vivem em habitações mais modestas. “A mudança para apartamentos nos prédios em construção tem que ser discutida. O que observamos é que falta diálogo com os moradores que serão afetados”, declarou.
Parte da história
Após a reunião realizada na Casa da Cidadania, unidade do MP estadual, o procurador e a promotora foram ao bairro Triângulo para conhecer algumas casas. Lá foram informados que há residências da época da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e que permanecem pouco alteradas. Entre as casas visitadas estava a do ex-ferroviário José de Oliveira Filho, 74 anos, um dos moradores mais antigos do bairro Triângulo. “Aqui há muitos filhos de ferroviários”, disse.
Outra residência visitada foi a de Eliseu Shockness, que mostrou fotos antigas de seu pai e familiares, de uma geração de ferroviários. Os moradores afirmaram que a perda histórica pessoal e familiar será grande e que isto intensifica um sentimento de desrespeito do poder público para com eles.
O procurador e a promotora agendaram uma reunião com a secretária de regularização fundiária de Porto Velho, Fernanda Kopanakis, para a próxima segunda-feira, às 9h. O MPF e o MP pretendem acompanhar todas as etapas do processo de realocação dos moradores do bairro Triângulo.