É TUDO VERDADE: Após 20 anos, diretor revê luta dos índios Corumbiara
Foto: Divulgação
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A naturalidade com que a câmera entra no protegido universo dos índios Corumbiara é o grande triunfo do documentário Corumbiara, de Vincent Carelli, integrante da mostra competitiva do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários. O cineasta e indigenista retoma o massacre ocorrido em 1985 e refaz uma trajetória de vinte anos cujos efeitos se refletem no presente.
Carelli consegue a confiança dos índios, o que é fundamental para amenizar e naturalizar a presença da câmera. Ela registra o cotidiano, o idioma, os métodos, o comportamento, o medo e a luta de uma família de quatro pessoas, únicas restantes de uma etnia.
O trabalho do documentarista começou em 1986, quando ele foi para Rondônia buscar provas do massacre dos índios, no qual o Estado, recém saído das mãos dos militares, se omitiu inteiramente. "Com esse tema, conseguiria dar ao vídeo a função de militante", diz o cineasta no início do documentário.
Essa foi a perspectiva inicial de Carelli. Os anos se passaram, muitas frustrações e alegrias entraram na conta do cineasta. E o trabalho que ele apresenta em Corumbiara é o recolhimento das imagens acompanhadas de reflexão e análise, em primeira pessoa, das experiências vividas e da situação política do índio no Brasil.
A respeito das imagens como registro, o cineasta consegue imagens valiosas de um pedaço que ajuda a entender o que é o Brasil. Para um espectador urbano, o filme apresenta, sem romantismos, como eles tentam tirar os males interiores, se aproximam de quem querem casar, suas rixas e a alegria de reencontrar parentes que consideravam mortos. Documento, registro em imagens.
Mas há a outra perspectiva, que não pertence ao passado, mas sim à História, ou seja,
Ameaças à bala, corrupção, poder político, silêncio dos moradores são alguns componentes que explicam porque os proprietários de fazendas não são punidos. E isso se reflete ao longo das quase duas horas de Corumbiara. Discussão mais que atual, já que o STF decidiu pela manutenção recentemente pela manutenção da reserva Raposa Serra do Sol.
O documentário tem um tom similar ao emocionante Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, que volta após 20 anos para documentar os personagens militantes que participaram de uma experiência artística. Corumbiara tem a mesma habilidade narrativa e duas grandes portas de entrada: o registro de uma parte do Brasil e os caminhos políticos. A decisão é do espectador.
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