No início da manhã do último dia 17 de agosto um forte estrondo, seguido de uma fissura que provocou rachadura, deslizamento de cascalho e parcial destruição de uma galeria de concreto assustou moradores localizados na avenida Farqhuar, no bairro São Sebastião, zona Norte de Porto Velho. O desmantelo de tal destruição atingiu em cheio uma grande extensão da obra de infra-estrutura da nova via que fará a interligação dos bairros Balsa e Nacional com o centro da capital, obra realizada pela Prefeitura (Processo 162/PGM/2008), orçada em R$ 685.788,55, utilizada com recurso Federal (através da Caixa Econômica Federal), conforme contrato de repasse 194.119-99/2007.
Com prazo de sete meses para ser entregue após o início das obras, o ritmo de trabalho no canteiro diminuiu bastante após um acidente de percurso na infra-estrutura nunca mencionado ou divulgado pela Prefeitura, ou mesmo esclarecido em nota oficial, mas devidamente abafado, apesar da magnitude dos estragos e que comprometeram toda a obra, postulada com a maior concentração de aterro da história da administração atual do chefe do executivo municipal.
O Rondoniavivo.com teve acesso a um sigiloso relatório elaborado pela empresa responsável contratada para realizar o serviço, a R.R. Serviço de Terceirização, que fez uma análise detalhada do ocorrido no local após o acidente e apontou uma série de falhas de estrutura e principalmente falta de estudo adequado por parte da engenharia da Prefeitura de Porto Velho, que, conforme o documento, o projeto básico era de sua responsabilidade.
AS FALHAS E REGISTROS
No relatório da empresa existem apontamentos firmes sobre a falha gritante da Prefeitura na projeção da obra. “(...) em total desobediência às normas técnicas vigentes tais serviços deixaram de ser feitos colocando em risco a continuidade das obras”, descreve o documento.
Um morador, vizinho da obra, que vislumbrava a sua realização desde o início, logo depois do aparecimento da rachadura que tomou conta da via, provocando o deslizamento de toneladas de cascalho sobre algumas taperas abandonadas e cobrindo parcialmente parte da mata ciliar próximo ao Canal dos Tanques, registrou o estrago causado pela racha com a sua máquina fotográfica digital. Segundo ele, logo após o aparecimento da rachadura, rapidamente uma equipe que estava no canteiro de obras providenciou em tempo hábil que “carradas e carradas” de cascalho fossem jogadas sobre as crateras abertas fazendo um remendo paliativo na via e que serviria como “maquiagem” até a reparação ser feita.
Porém, mesmo com aterro colocado sobre as crateras um trecho considerável ficou descerrado, justamente no local onde se encontra a galeria de concreto – um bueiro celular duplo medindo 3,00 x 3,00m – utilizada para escoar as águas do Canal dos Tanques.
De acordo com relatório a falha naquela situação é gravíssima, com alto teor de risco. “Assim o projeto indicou a construção de uma galeria de concreto destinada a receber um elevadíssimo aterro, sem se preocupar em fazer qualquer sondagem, indicando apenas a remoção inexpressiva da camada e execução de enrocamento de pedra argamassa desprezando o fato de que ABAIXO DELA SE ENCONTRAVA MAIS DE 20 METROS DE SOLO MOLE.”
O espantoso é que existe um erro de planejamento tão grotesco que outro dado é mais taxativo sobre a falha ocorrida. Para dar uma idéia, para o que foi realizado especificamente naquele trecho o tipo de solo que lá se encontra, servindo de fundação para o grande aterro e para a galeria, ilustra-se que um solo pode ser considerado mole quando durante tal estudo de sondagem apresenta penetração de pelo menos 30 cm a cada 02 (dois) golpes. O relatório aponta que o solo encontrado embaixo da galeria, onde houve o rompimento, é do enorme aterro, apresenta pontos onde obtém-se penetração de mais de 40 cm para apenas 01 (um) golpe.
FALTA DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO
A empresa se abstém da culpa pela má elaboração do projeto por parte da Prefeitura em cima da execução da obra que acabou resultando em um grande prejuízo, pois grande parte do serviço executado anteriormente terá que ser refeito. “(...) ao que tudo indica tais fatos podem ser atribuídos à falta de estudos que obrigatoriamente deveriam ter feito parte do projeto básico, à cargo da Prefeitura de Porto Velho. (...)”, aponta o relatório da empresa.
O documento ressalta que uma das falhas mais recorrentes do projeto foi a falta de previsão de ações básicas consideradas altamente necessárias pelo porte da obra e que para a execução haveria necessidade de procedimentos como contenções, ensecadeiras, corta-rios, visto que as obras foram na ocasião executadas em cima de um banhado, que somente agora teve sua regularização providenciada pela Prefeitura.
A obra com previsão de entrega de sete meses deve demorar mais tempo, pois segundo consta à prática, a reparação deverá levar ainda mais verba pública com a dilatação do prazo determinado em contrato.
O caso deverá ser investigado pelo Ministério Público e todo o projeto da obra deverá ser analisado criteriosamente por técnicos que apontarão, de forma oficial, todas as falhas encontradas na ambiciosa e necessária extensão da avenida Farqhuar ligando o centro com a zona Norte da cidade. (Marcos Souza)