1 – GARÇOM AVANÇA
Das duas, uma: ou o prefeito Roberto Sobrinho (PT), de Porto Velho, botou na cabeça a idéia de que está reeleito – ou seja, para ele, participar do escrutínio de outubro seria mera formalidade – ou não está nem aí para a eventualidade de um resultado adverso – quer dizer, no que lhe diz respeito, ganhar ou perder a eleição tanto faz como tanto fez. Essa é, pelo menos no entendimento de um número cada vez maior de partidários do PT e até de alguns petistas, a impressão que não quer calar na medida em que se observa que todas as iniciativas mais significativas desta campanha eleitoral estão sendo protagonizadas pelos concorrentes, mormente pelo mais caviloso e perigoso deles – que vem a ser o deputado federal Lindomar Garçom, candidato do PV ao Palácio Tancredo Neves.
O fato é que, enquanto Garçom ocupa os espaços mais generosos da imprensa primeiro com uma mega-concentração de pessoas na convenção partidária municipal que deliberou sobre chapas e coligações e, depois, com um não menos espalhafatoso arrastão eleitoral pela rua comercial mais tradicional do município (Sete de Setembro) – acerca do qual os meios de divulgação mais ranzinzas estimaram em “mais de duas mil” a quantidade de participantes, Roberto Sobrinho seguidamente deixa de comparecer às reuniões de bairros agendadas pelo pessoal da sua aliança, constrangendo em conseqüência candidatos responsáveis pela organização dos encontros.
Enquanto isso, não bastasse Garçom ficar correndo solto disparado na dianteira, os veículos de comunicação dão conta de que o candidato do PSDB, o ex-deputado federal Hamilton Casara, faz corpo-a-corpo no Cai N’Água; o candidato do PC do B, o vereador cassado Davi Chiquilito, inaugura comitê no bairro 4 de Janeiro (e aproveita para apresentar os planos de governo); o postulante do PSB, deputado federal Mauro Nazif, percorre os bairros instalando sub-comitês da campanha; o pretendente do P-SOL, Adilson Siqueira, ocupa página de jornal para falar sobre seus projetos.
2 – CADÊ SOBRINHO?
Aliás, confira o leitor os jornais da Capital que circularam do final da semana passada para cá e lá vai encontrar notícias sobre as campanhas da Professora Sônia (que postula a Prefeitura de Jaru pela coligação PT-PCdoB), de João da Muleta (idem pela aliança do PMDB), do Padre Franco (Cacoal pela coligação PT-PMDB-PDT), de Glaucione Rodrigues (Cacoal, pelo PSDC – duas notícias: “Folha de Rondônia” e O ESTADAO), de Carmem Gon (Jaru, pela aliança PTB-PPS-DEM), de Maria da Penha (Buritis) e até de Miltinho Pereira (Itapuã, pelo PSDB-PPS, com direito a foto de Cassol garantindo apoio). Lindomar Garçom, então, faturou com direito a foto nas edições de domingo. Mas nem sinal de Sobrinho.
Ou seja, se não há notícia sobre a campanha do candidato à reeleição na Capital é, por suposto, porque ele não a está fazendo. Falar nisso, Garçom também saiu na frente quanto à publicação de santinho permitida na imprensa escrita – jornais. Até o final da semana, só ele e Alexandre Brito (PTC), este na companhia da candidata a vice Silvana Davis (PSL).
Enfim, encontra-se até uma pá de notícias de campanhas de candidatos a vereador. Tem “Manezinho Comunista”, tem “Mauro do Procon”, tem o “DJ Moisés” e por aí vai. Entre tantas na disputa nessa raia, destaque-se uma notícia postada em alguns dos sites de maior audiência do pedaço dando conta de que o petista Edson Silveira levou “dezenas de pessoas, no sábado, pela manhã, numa caminhada pela Avenida Jatuarana”, e outra – na edição desta terça-feira deste O ESTADÃO - relatando visita da também petista Epifânia Barbosa à sede provisória da Escolinha Esportiva “Meninos de Rua”. Tudo documentado com fotos, mas nem nestas e nem nos textos há indícios de Sobrinho, não obstante ambos seus ex-secretários.
Há quem diga que boa parte da culpa – senão toda - é da assessoria. Os assessores é que, preocupados em preservar a imagem do Chefe (ao menos na cabeça deles), estariam impedindo Sobrinho de comparecer às reuniões eleitorais nos bairros.
3 – HIPÓTESES VÁRIAS
Quando há um encontro agendado, eles chegam na frente para fazer avaliações. Caso considerem que a aglomeração não justifica a presença do prefeito, ligam para a chefia imediata detonando o compromisso. O responsável pela organização do encontro – em geral um candidato a vereador da aliança situacionista – fica sem ter onde meter a cara.
Um experiente aliado da coligação petista explica que está tudo errado. Segundo ele, essas reuniões habitualmente são organizadas ou por um candidato a vereador ou por um cabo eleitoral familiarizado com a gente do lugar. Como por ali o organizador é figura carimbada, a expectativa da área é sobre o convidado principal. Enquanto ele não dá sinal de vida, a galera permanece quieta no seu canto, vendo televisão ou coisa que o valha, aguardando a novidade chegar para poder sair de casa. Se o convidado não aparece, tais encontros acontecem apenas com a platéia diretamente interessada – familiares do organizador e um ou outro vizinho mais chegado.
Há ainda quem desculpe o prefeito Sobrinho pela sua ausência na campanha eleitoral oferecendo como explicação a sua assoberbada agenda de compromissos enquanto administrador municipal, principalmente neste momento, quando uma convergência de circunstâncias o teria deixado praticamente sem alternativa. Não bastasse a, na prática, inexistência de vice (Cláudia Carvalho jamais chegou a assumir esse papel, ainda mais depois de filiar-se nas hostes comandadas pelo governador Ivo Cassol), os auxiliares de confiança capazes de prover uma substituição a contento estão fora de combate – Odair Cordeiro exonerou-se e Miriam Saldanha anda às voltas com problemas de saúde na família.
Há, por fim, os que juram que a ausência de Sobrinho na campanha é puro receio de ser hostilizado. Tal é o caso do deputado Mauro Nazif, para quem o nível de insatisfação com o prefeito nos bairros é muito maior do que a propaganda faz supor. Seja por isso, por aquilo ou por aquilo outro, o fato é que o piloto sumiu.