A transcrição do diálogo entre os tripulantes do Airbus da TAM que se acidentou no dia 17 de julho, lida nesta quarta-feira em voz alta na CPI do Apagão Aéreo na Câmara dos Deputados, revela que pilotos sabiam que havia um problema no reverso da aeronave.
Em um determinado momento, um dos pilotos diz: "Lembre-se: nós só temos um reverso." Um outro tripulante da aeronave responde: "Sim, nós só temos o esquerdo."
Antes de pousar, os pilotos perguntaram à torre de controle sobre as condições da pista do aeroporto de Congonhas. O controlador de vôo informou: "A pista está molhada e escorregadia". Entretanto, o pouso foi liberado.
Após o avião tocar a pista, um dos pilotos diz: "reverso 1 apenas. Spoiler nada. Olha isso". Em seguida, ouve-se som de gritos. Um dos pilotos diz: "desacelera, desacelera". O outro responde: "eu não consigo".
O primeiro piloto exclama: "Ó meu Deus". Desesperado, o segundo piloto grita: "Vai, vai, vira, vira". Ouve-se, em seguida, um barulho de batida (provavelmente o toque do trem de pouso com a mureta de proteção do aeroporto) e a última frase da caixa-preta, emitida pela torre de controle: "Ah, não". Os registros seguintes são de sons de gritos e o barulho do choque do avião com o prédio da TAM.
A CPI do Apagão Aéreo na Câmara dos Deputados continuará reunida nesta quarta-feira. A sessão, que conta com a presença do brigadeiro Jorge Kersul, da Aeronáutica, pretenderia discutir a revelação dos dados. Entretanto, como reportagem exclusiva publicada pela Folha de S.Paulo nesta quarta antecipou o conteúdo das caixas-pretas, indicando que houve falha humana no acidente, os deputados abriram a reunião desta manhã para a imprensa e leram em voz alta a transcrição dos diálogos entre os pilotos e a torre de controle.
Os outros dados da caixa-preta, relativos aos instrumentos da cabine, que em conjunto com as conversas poderão determinar quais foram as ações tomadas durante a aterrissagem, serão discutidos em sessão fechada na tarde desta quarta-feira.
O relator da CPI do Apagão Marco Maia (PT-RS) avaliou que a transcrição dos diálogos da caixa-preta mostra que houve uma falha mecânica. No entanto, ponderou que ainda é prematuro afirmar que esse tenha sido o motivo do acidente.
"Vamos precisar ainda cruzar os dados da caixa-preta de voz com a caixa de dados para que possamos definir os motivos do acidente. Não dá agora para responsabilizar os pilotos ou ter pré-concebida a idéia de que houve um problema da aeronave. Está claro que os freios não funcionaram, mas o que precisamos saber é porque não funcionaram".
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