Uma piada de mau gosto pode ter sido a causa da tentativa de homicídio envolvendo um sargento e um soldado da Polícia Militar, ocorrida na noite de quarta-feira no Parque Residencial Caçari, área nobre da cidade. Atingido com três tiros o soldado Electo Fontinelli Nobre, foi internado em estado grave no Hospital-Geral de Roraima e até a noite de ontem continuava na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em coma induzido.
Surgiu ainda a informação que o crime pode ter sido passional, mas nenhuma das duas alternativas foram confirmadas pela polícia. Uma terceira alternativa foi comentada quanto a um possível problema psicológico porque o acusado estaria passando.
O autor dos tiros foi o sargento Valfreres Souza de Moura, 43 anos, que fugiu em seguida em uma motocicleta. O crime ocorreu na porta da casa da vítima, na rua Lívia Bento. Segundo informação da polícia, a filha da vítima, de 12 anos, presenciou o pai ser alvejado pelo colega. Ela contou que, minutos antes da tentativa de homicídio, o pai estava conversando com o sargento do lado de fora da casa. Em seguida, o pai saiu correndo para dentro da casa, mas foi perseguido e baleado já na porta da casa e caiu dentro do imóvel.
Um vizinho contou que, ao ouvir os tiros, saiu da casa para ver o que estava acontecendo e viu um homem correndo com uma arma na mão. Outro vizinho, que é médico. foi quem realizou os primeiros-socorros no soldado ferido até a chegada da equipe do RUA (Resgate Urbano a Acidentados) do Corpo de Bombeiros. Segundo informou aos policiais que chegaram em seguida ao local, enquanto o atendia, Fontinelli citou o nome do sargento Valfreres como o responsável pelos tiros.
Foram feitas diligências por toda a noite e madrugada de ontem na tentativa de encontrar o sargento suspeito, mas até o início da tarde de ontem ele não tinha sido encontrado. Os policiais apreenderam um revólver calibre 38 na residência de um irmão do sargento, que pode ter sido a arma do crime. O familiar teria informado aos militares que seu irmão chegou a sua casa naquela noite e comentou que tinha feito uma “besteira”. Em seguida, deixou a arma no local e saiu sem dizer para onde ia.
Segundo o médico Aderbal Figueredo, que estava de plantão na noite em que o soldado chegou baleado no setor de trauma do Pronto Socorro Francisco Elesbão, um dos tiros entrou na cabeça do militar de cima para baixo e atingiu o olho esquerdo provocando a perda da visão. Outro tiro atingiu o tórax e uma das mãos.
REINCIDENTE – A Folha foi informada que o sargento já seria reincidente. Disse que ano passado o militar teria se desentendido com outro soldado, também por causa de uma brincadeira de mau gosto, quando ele colocara sua arma na cabeça do colega. Outros colegas interferiram e evitaram o pior.
Ainda segundo a fonte, o sargento é tido como “estressado” e na época teria procurado o comando para informar que estava passando por problemas pessoais, mas não foi feito nada.
A Folha conversou com o coronel Amaro Júnior, que está à frente do CPC (Comando de Policiamento da Capital), onde o sargento está lotado. Ele informou que está à frente do CPC há pouco mais de um mês e tomou conhecimento de algo envolvendo o sargento, inclusive conversou com a psicóloga que trabalha para a corporação, mas esta disse que nunca atendeu o sargento.
Explicou adotou algumas medidas com vistas a ajudar seus comandados. “Procurei incentivar atividades de educação física. Também fora adotados sistemas de palestras para aqueles com problemas com álcool e ou entorpecentes”, informou.
Sargento se apresenta na DGH, mas é procurado pela Polícia Militar
Por volta das 16 horas de ontem, o advogado Mamed Abrão apresentou na Delegacia-Geral de Homicídio (DGH) o sargento da Polícia Militar Valfreres Souza de Moura, 43, acusado de tentar matar o soldado Electo Fontinelli, na noite de quarta-feira na porta da casa da vítima, no Parque Residencial Caçari.
Por ter se apresentado espontaneamente na especializada, o militar foi interrogado e indiciado, em seguida liberado para responder o inquérito policial em liberdade. Mas o comandante da Polícia Militar, coronel Márcio Santiago, disse que o sargento cometeu crime militar e está sendo procurado pela PM.
O sargento foi interrogado pelo delegado Lazarft e não respondeu a nenhuma pergunta feita pela autoridade policial. Possivelmente orientado pelo advogado, ele disse apenas que se reservava ao direito de permanecer calado e de só se manifestar em juízo. Logo apos assinar o documento, foi encaminhado ao Instituto de Identificação Criminal e dali voltou para casa com seu advogado.
O delegado explicou que agora irá ouvir as testemunhas. Também vai aguardar que a vítima se recupere para que seja ouvida e possa esclarecer em que circunstâncias ocorreu o crime, já que o acusado não respondeu as suas indagações, nem ao menos o motivo que o levou a chegar ao extremo.
Apesar de ter se apresentado na delegacia de Polícia Civil, ontem à noite o coronel Márcio Santiago, comandante da Polícia Militar, disse que o sargento é considerado foragido e continua sendo procurado por policiais de sua corporação, já que cometeu um crime contra outro militar e terá que responder a um IPM (Inquérito Policial Militar) e será julgado pela Justiça Militar.
A Folha tentou falar como sargento, mas como na polícia ele não quis dar sua versão para o crime, seu advogado também não falou sobre o que conversou com o cliente. Ele informou que o sargento o procurou pouco antes de ser apresentado na delegacia, por tanto ainda não tinha conversado direito com o cliente.