ESPECIAL - Reminiscências rondonienses - por Amadeu Bocatios - capítulo 1

ESPECIAL - Reminiscências rondonienses - por Amadeu Bocatios - capítulo 1

ESPECIAL -  Reminiscências rondonienses - por Amadeu Bocatios -  capítulo 1

Foto: Divulgação

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O Rondoniaovivo publica a história de vida de Amadeu Bocatios, jovem na época em que viveu em Rondônia, no fim dos anos 80. Um depoimento forte sobre as drogas. Situações reais, com personagens conhecidos no estado, entre eles, o ortodontista Francisco Andreoli ( falecido), pai de um dos sócios deste portal de comunicação. * Bocatios faz uma descrição física e de personalidade de seu conselheiro espiritual, Francisco Andreoli. Suas manias, a perfeita pintura da expressão facial que o dentista fazia ao rir, sua rotina familiar, seus sonhos e pensamentos politicos. A família do saudoso Chicão ficou feliz em ver uma homenagem tão intima e verdadeira. * A autobiografia de Amadeu narra a busca da recuperação do vicio, a decisão de ir atrás de ajuda, o contato inicial com Andreoli, o inicio da nova vida, as crises de abstinência, sua força de vontade em superar a dependência química, vontade essa, fortalecida e embasada no evangelho. *A vida de Amadeu mostra que existe vida fora do poço escuro das drogas. É antes de tudo, um alerta para repensar as ações públicas em relação ao consumo de drogas licitas e ilícitas. Atenção na publicidade do Álcool, que passa despercebido no contexto, mas é a porta de entrada para as outras drogas. * Com uma familia bem estruturada, Amadeu Bocatios hoje mora no Rio de Janeiro. Com a autorização do autor, o jornal vai publicar o texto em três capítulos, que se encontra disponível também no seu Blog, no link : http://sons.festim.net *Nota de redação: Paulo Andreoli * POR AMADEU BOCATIOS... * 01 de dezembro, 2003 *
Passou...
*Alguns sabem. Outros não. *Fui viciado em drogas durante 13 anos da minha vida. Parte de minha infância e toda a minha adolescência foram perdidas naquele mundo de trevas. Dos dez aos vinte e três anos minha vida apenas passou, sem muita coisa interessante acontecendo além de subir morros, tomar dura de polícia, algumas vezes enfrentar tiroteio cerrado entre polícia e bandidos. *Talvez eu tenha partido prá esse caminho pela soma de fatores relatados nos dois primeiros posts da série 'Meus Homens e Minhas Mulheres', sobre meu pai e minha mãe, meus dois primeiros amores ou pela junção de destino com opção própria. A verdade é que eu simplesmente não posso culpar ninguém pelo que aconteceu. Nem o traficante do morro onde morava, nem os amigos da rua, e muito menos o baleiro na porta da escola. Foi um opção minha. Um dia, subi na boca de fumo, comprei o que tinha que comprar, fui pro quarto, apertei o baseado e fumei. Assim. Só isso. Simples e rápido. O vício me pegou pesado. Aos 12, talvez 13 anos eu já estava viciado também em cocaína, e havia experimentado quase todos os tipos de droga. Ácido, chás de todos os tipos, bolas, o que viesse eu estava aceitando. Menos pico. De tudo, sempre me orgulhei de ter mantido os 'canos' limpos. *Um dia minha mãe me disse: "Amadeu, 'acho' que seria melhor vc sair do Rio", com a ordem implícita: Ou Curitiba ou Rondônia, onde já morava o meu irmão mais velho, o Leo. E lá fui eu prá Rondônia. Quatro noites e três dias de viagem prá encontrar em Ji-Paraná as drogas mais pesadas que eu já vi. Cocaína quase pura, maconha sem mistura, a mela (o crack nacional). Era o meu passaporte visado prá morte. E eu sabia que morreria logo. Eu tinha então 22 anos, e sabia desde os 18 que não passaria dos 23. *Eu trabalhava pácas nesta época. Era contato publicitário da única rádio FM do estado e onde meu irmão era locutor - tínhamos uma agência de publicidade chamada Núcleo Idéia Nova. Além disso, escrevia prá um jornal chamado "O Imparcial" e fazia freelance prá outro chamado "A Notícia". Pro Imparcial eu cobria a Câmara dos Vereadores, Prefeitura, delegacias, Casa Civil e ainda fazia algumas matérias soltas. Me lembro que era inspirado, e atribuía isso ao uso da mela, principalmente. Era considerado na cidade que tinha, na época, pouco mais de 60 mil habitantes. A maioria das pessoas com quem eu convivia sabia do meu vício, mas fazia vista grossa. Eu nunca havia dado razões prá me virarem a cara. Era bem recebido onde quer que eu fosse. Desde gabinetes de vereadores até o do prefeito sempre mantiveram portas abertas prá mim. Outros lugares também estavam de portas abertas. O taxi do Almeida era um deles. E o taxi do Almeida era a maior boca de fumo ambulante que eu já vi. Prá onde quer que você quisesse ir, o Almeida levava. E o que quer que você quisesse, o Almeida trazia. Bastava ligar pro ponto da Rodoviária e em 10 minutos estava ele na porta de casa. Entrega em domicílio. Eu preferia ir buscar, apesar de todos saberem onde eu morava e o próprio Almeida, em uma das centenas de brigas com a mulher ter passado uma semana dormindo no colchão que tínhamos na sala. Mas mesmo assim eu preferia ir buscar. *Numa destas idas à Rodoviária, o Almeida estava numa corrida e eu pedi que avisassem que eu o estaria aguardando no Forró do Halley, um barraco com música ao vivo da pior espécie e putas piores ainda, mas que era freqüentado por políticos, médicos, operários, professores e casais de namorados, noivos e gente que já havia comemorado bodas de todos os tipos, simplesmente por que tinha um dos melhores caldos de mocotó do mundo e a cerveja mais gelada que vc possa imaginar. *Da ponta do balcão em que eu estava, vi alguns rostos conhecidos. Entre eles o do Álvaro, que era tipógrafo dos mais competentes do estado e trabalhava comigo no Imparcial. Era sempre prá ele que eu entregava as minhas matérias, por que sabia que elas viriam prontas com poucas correções à fazer. Ele era foda no que fazia, e fazia sempre de cara fechada, não se dava a amizades nem superficiais, quanto mais profundas. Pouco nos falávamos, mesmo dentro do jornal, e nunca havíamos nos falado fora. Nem mesmo acenos de cabeça em cumprimento quando nos cruzávamos na rua. Mas naquela noite, ele me viu, largou a dona com quem estava dançando e veio em minha direção, cambaleante, bêbado que nem um gambá. Parou na minha frente e disse, sem rodeios: *-- Amadeu, o que é que você está querendo fazer com a tua vida? *-- Como assim, Álvaro? *-- Você está se acabando, menino. Com essa merda de mela. Você quer o que, afinal? *O sangue me subiu. Que merda era aquela? Um bêbado me questionando daquela forma? *-- Álvaro. O que eu faço ou deixo de fazer com a minha vida é problema meu. Você não tem nada com isso. Nunca te dei essa liberdade. *-- Eu sei que não me deu liberdade nunca. Mas se você quiser, vamos lá em casa. Eu tenho um trezoitão, te dou ele e você vai se matar logo de uma vez. É melhor assim. *Virou as costas e saiu. Voltou prá dona e continuou dançando, como se nada houvesse acontecido. Mas eu sabia. *CONTINUA...
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