SuperAção + InspirAção: Nutricionista de 27 anos enfrenta câncer, mas não desiste de empreender

Já não bastasse buscar vencer diagnóstico em uma das mamas, Renata Sodré também apoia a mãe que está na mesma luta pela segunda vez

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No Brasil, a burocracia sempre desanima muita gente que quer ser dona do próprio negócio. Realizar um sonho nunca é fácil. E para a nutricionista Renata Sodré, de 27 anos, moradora da zona Sul de Porto Velho, isso ainda é um pouco mais difícil.

 

Há oito meses, ela descobriu câncer em uma das mamas. Além disso, cinco dias depois, a mãe dela, Wellida Sodré, recebeu a notícia de que a doença também teria voltado. O peso do fardo duplo fez Renata se abalar, mas não desistir da sua meta: transformar a Doce Rê, marca criada por ela e com foco em brigadeiros de vários tipos e pipocas gourmet, em uma grande empresa.

 

 

Porém, ela conta ao Rondoniaovivo, como tudo isso começou. Tudo baseado apenas em distração para que a saúde mental melhorasse, de um dos primeiros sinais de que ela não está bem: depressão.

 

“Uns sete anos atrás, minha mãe descobriu que estava com câncer. Infelizmente, o histórico da minha família não é bom. Isso me abalou demais, me deixou para baixo. E ela se preocupou muito. Eu já estava com sinais fortes de depressão. Minha mãe inclusive achou que eu poderia dar fim da minha vida. Então, comecei a buscar coisas que eu poderia fazer para ocupar minha mente e já ganhar meu próprio dinheiro. Isso já na faculdade de nutrição”.

 

Variedade de doces feitos por Renata Sodré, na Doce Rê - Foto: Felipe Corona/Rondoniaovivo

 

Ela segue: “Achei umas coisas legais na internet, mas quem me ensinou a fazer doces mesmo foi minha irmã. Minha mãe trabalhava no CPA [antigo Centro Político Administrativo] e eu ficava lá de 07:30 da manhã até 13:30. Rodava tudo aquilo lá, vendia meus doces, conhecia e conversava com muita gente. Isso me ajudou demais nesse processo, de ver o tratamento da minha mãe e para seguir sonhando com meu próprio negócio”.

 

Como muita gente, Renata começou no improviso: ela montava seus doces usando a cozinha de casa, que era pequena, além do quarto dela. Depois, reformou o quarto de um tio (irmão da mãe dela), que hoje virou a linha de produção e a sede da Doce Rê.

 

 

Mas para chegar nesse ponto, ela ainda está enfrentando a doença, por meio de sessões semanais de quimioterapia. E apesar dos desafios diários e a rotina desgastante de exames e vida no Hospital de Amor para vencer esse mal, Renata conta como está sendo esse processo.

 

“Primeiro, não foi fácil receber o diagnóstico. Ainda mais depois que sua mãe teve esse problema. Descobri em um dia comum, tomando banho. Ela olhou e marcamos médico. Fizemos vários exames e infelizmente foi confirmado que era mesmo um CA. Resolvi abrir o exame, às 11 da noite, no aniversário de um amigo. Acabei com a festa dele e vim pra casa. Falei para minha mãe, ela estava estendendo roupas no varal e ela meio que não acreditou”.

 

Renata completa: “Ela não chorou na hora, chorou depois. E eu choro um pouquinho todos os dias. A parte mais complicada nisso tudo é perder o cabelo, as sobrancelhas e até os cílios. Eu tinha um cabelo comprido, lindo. A autoestima da mulher está no cabelo e hoje eu não tenho. Depois da primeira quimioterapia, cerca de 13, 14 dias depois, ele começou a cair muito. Então, decidi raspar logo tudo e enfrentar de uma vez. E estou aqui”.

 

Renata fez pipoca gourmet para atender uma encomenda - Foto: Felipe Corona/Rondoniaovivo

 

Firmeza

 

Renata conta ao jornal eletrônico que tem muita compreensão dos seus clientes, a maioria antigos (cerca de 90%), que querem sempre notícias dela.

 

“Sempre peço pros clientes fazerem suas encomendas com antecedência. Estou trabalhando normal, aceitando pedidos, mas em um ritmo mais lento. Quando faço a quimioterapia, fico muito mal, tenho muitas reações. Mas nunca deixei de atender ninguém. Em um dia normal, vou para o trabalho, chego às 16 horas. Faço algo para comer e por volta das 17 começo a trabalhar. Eu vivo dias bons e ruins, contudo eles sempre perguntam como eu estou”.

 

E sem muito descanso, segundo ela: “Tem dias que vou até 10 da noite direto. Mas em outros vou até 02 até 04 da manhã. Durmo e acordo às 08 para dar conta. Faço mais devagar, mas faço. Não é fácil essa fase. Já teve muitas vezes que fui oito vezes no banheiro para vomitar, ir para o hospital porque fico fraca, não tenho mais o que colocar para fora. Mas nunca vou desistir do meu CNPJ, do meu sonho, porque a Doce Rê será grande um dia”.

 

 

Para Renata, o desejo está se tornando realidade aos poucos, passo a passo, aliado à outra vontade: fazer um curso de psicologia, para ajudar outras pessoas que estão enfrentando o câncer também.

 

“Às vezes as pessoas querendo ajudar, dar uma palavra de conforto, acabam falando algo que não nos deixa bem. Então quero fazer esse curso para poder dar um apoio de forma correta. Eu tenho muito interesse em estudar, saber como a mente humana age. Pode ser que eu não exerça essa nova área, mas quero atuar dessa forma, ajudando os outros”.

 

Ela reforça que vai tentar conciliar o novo caminho com o empreendedorismo de fazer a Doce Rê ser uma grande marca rondoniense.

 

“Quando eu vejo um cliente meu feliz, com o prazer, a satisfação em consumir um produto com qualidade, feito com capricho, além do evento dele dar muito certo, eu fico muito satisfeita. Eu quero que a Doce Rê seja uma empresa grande, que empregue muita gente, onde as pessoas tenham satisfação de trabalhar, que sejam felizes ao vir para cá. Mas tudo com meu toque, com meu jeito. Estarei sempre por perto. Nunca vou desistir disso”, indica Renata Sodré.

 

Painel com contas pagas sempre fica à vista de Renata - Foto: Felipe Corona/Rondoniaovivo

 

Dados

 

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Brasil registrou a abertura de 859 mil micro e pequenas empresas em 2023, uma alta de 6,62% em relação ao ano anterior, quando foram criados 805,6 mil empreendimentos. Os números apontam para uma média de 2,3 mil novos negócios desse porte abertos por dia, segundo levantamento do Sebrae com base no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) da Receita Federal do Brasil (RFB).

 

No caso das novas microempresas (ME), categoria que fatura até R$ 360 mil por ano, o salto foi de 674,5 mil para 715 mil, de 2022 para 2023. Já as novas empresas de pequeno porte (EPP), cujo faturamento anual vai de R$ 360 mil ao teto de R$ 4,8 milhões, passaram de 131 mil para 143,7 mil no mesmo período. Juntas, ME e EPP formam as chamadas micro e pequenas empresas (MPE).

 

egundo o levantamento do Sebrae, a abertura de novos microempreendedores individuais (MEI) ficou estável, caindo 0,9 % em comparação com 2022, o que é considerado uma acomodação sem relevância estatística. Foram 2.908.104 novos MEI em 2023, ante 2.933.809 em 2022.

 

Somando os MEI às micro e pequenas empresas, o total de novos pequenos negócios abertos no Brasil chegou a 3,77 milhões no ano passado. Isso representa 96% do total de empresas, incluindo as de médio e grande porte, criadas no país em 2023.

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