"Precisei fazer uma leitura sensível dos meus livros, porque naquela época, quase 20 anos atrás, a gente não tinha essa consciência", afirma a escritora Thalita Rebouças.
Foto: Divulgação
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Não basta ser um leitor voraz: é preciso ter respeito, sentimento, compreensão e percepção do outro para escrever um livro que não agrida as pessoas em suas condições mais básicas como ser humano. Afirmaram os autores Thalita Rebouças, Jim Anotsu e Mayra Sigwalt durante bate-papo na Bienal do Livro, ocorrida de 01 a 10 deste mês, no Rio, sobre a importância da leitura de sensibilidade para a criação de uma literatura inclusiva e respeitosa.
Não se trata de uma censura, como fez questão de frisar a Mayra, mas um cuidado que precisa se ter com o texto, uma ferramenta para que autores - que vão falar de outras vivências - não incorram em termos que agridam o leitor.
"Em inglês, as palavras 'indian' e 'tribe' são comuns, mas não podem ser traduzidas no Brasil por índio ou tribo, porque não se usam mais esses termos para falar sobre os povos indígenas", exemplificou Mayra que é de origem indígena.
Thalita Rebouças lembrou que, só muito recentemente, os autores e as pessoas em geral começaram a se dar conta de que determinadas narrativas poderiam ferir, magoar os leitores. Ela contou que fez uma revisão de toda a sua série "Fala sério, mãe!" (Editora Rocco, 2004).
"Precisei fazer uma leitura sensível dos meus livros, porque naquela época, quase 20 anos atrás, a gente não tinha essa consciência. Entretanto, é preciso ter muito cuidado nessas revisões para que a gente não inviabilize a obra e os personagens deixem de fazer sentido. Suprimi algumas passagens dos meus livros, mas fiz questão de fazer incluir uma carta na qual explico aos leitores que alguns trechos foram mantidos para mostrar como as questões eram vistas dentro daquele contexto histórico", explicou a autora.
Jim destacou que, ao escrever, é sempre importante levar em consideração a individualidade, já que mesmo sendo negro, por exemplo, ele pode ter uma visão diferente de outro negro em determinada situação. O autor está fazendo a releitura para um roteiro de "O Sítio do Pica-pau Amarelo", de Monteiro Lobato, e teve que reler toda a obra do escritor com muito cuidado, pesquisando o perfil de cada personagem.
"Não posso fazer uma adaptação ou uma tradução cortando radicalmente tudo o que é incorreto. Lobato foi agressivo com todas as pessoas. Então, é preciso um trabalho muito cuidadoso, com muita pesquisa, muita sensibilidade para preservar a ideia do autor. Mostrar esse novo olhar é um trabalho extremamente cuidadoso, mas que não pode nunca ser usado para censurar uma obra", concluiu Jim.
Autor: Bienal do Livro
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