O Forte tem uma dimensão de 970 metros de perímetros, com quatro baluartes, cada um equipado para receber 14 canhões, suas muralhas laterais medem 7,20 metros de altura, seu portal mede 10 mt.
Foto: Divulgação
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Construído na fronteira entre Portugal e Espanha, os trabalhos no Real Forte Príncipe da Beira começaram no dia 19 de abril de 1775, ainda no reinado de D. José I, na ocasião o seu primeiro ministro era Dom Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal).
Quero lembrar que as fortalezas no Brasil, foram construídas com o propósito de garantir o domínio do espaço, posteriormente surgiram como símbolo de poder e proteção na fronteira portuguesa. (BARROSO, 2015).
A pedra fundamental da fortaleza foi lançada em 20 de junho de 1776, um ano após o início da construção, sendo o primeiro engenheiro da obra Domingo Sambucete, natural de Davagna, perto de Gênova (Itália). Sambuceti teve sua contribuição na engenharia militar na Amazônia entre os anos de 1756 a 1777. Com experiência adquirida por ter sido auxiliar de Brunelli, em 1770 a corte portuguesa lhe confiou algumas obras de certo valor artístico na “cidade imperial” de Alcântara do Maranhão. Junto com Galluzi, Landi, Brunelli e Gronsfeld participou de projetos para ubiquação da fortaleza de São José de Macapá, aos projetos de Vila de Macapá, das fortalezas de Gurupá, de Villa vistosa e Vila Nova Mazagão que receberia os da antiga fortaleza luso-marroquina instalada na costa norte-ocidental africana.
O jovem engenheiro ganhou admiração do 4º Governador do Mato Grosso, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres que o convidou para atuar no Mato Grosso entre 1772 e 1777, em diversos projetos de avaliação do terreno e de estudos de fortificações e, finalmente, vindo a ser diretor do projeto e construção do Real Forte Príncipe da Beira (1775–1783). Sambuceti chega em 6 de janeiro de 1772 cumprindo seis meses de viagem, da foz do Rio Amazonas ao Rio Guaporé.
O engenheiro Sambuceti foi responsável pelo reconhecimento e escolha do terreno onde seria construído a fortaleza, ali criou uma “casa de risco”, uma espécie de centro didático para formação de ajudantes na arte do desenho aplicado a arquitetura e engenharia militar, contribuindo de forma decisiva na reorganização e execução do projeto e construção da fortaleza.
Durante a construção do forte, o jovem engenheiro morreu de malária em 1777, sendo substituído por Ricardo Franco de Almeida Serra.
O Real Forte Príncipe da Beira tem uma dimensão de 970 metros de perímetros, com quatro baluartes, cada um equipado para receber 14 canhões, suas muralhas laterais medem 7,20 metros de altura, seu portal mede 10 mt. Em seu interior havia 15 residências para abrigar os militares que compunham sua guardae um fosso interno que serviria de cisterna para abastecer sua população.
A matéria prima utilizada para a construção da fortaleza, quase todas foram encontradas no próprio local, com exceção do ferro que veio da capitania de Mato Grosso e parte da pedra cal veio da capitania do Grão-Pará e Mato Grosso.
A coroa portuguesa contou com a mão de obra especializada de artífices brancos e escravos de ganho, que foram trazidos de Belém, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso. A coroa procurou qualificar e instruir a mão de obra indígena para diferentes tarefas e ofícios, alguns índios aprendiam o ofício das tarefas empregadas na construção das fortalezas como serviço de carpinteiro, de ferreiro, de serralheiros, dentre outros.
O militarismo foi outra opção para engrossar esse contingente de operários e sua composição obedecia a critérios dentro de uma hierarquia que segue aos dias atuais.
A conclusão da construção do Real Forte se deu no dia 31 de agosto de 1783, sendo a maior fortificação militar construída por portugueses fora do continente europeu e a maior das Américas. Essa obra arquitetônica militar teve a participação de negros, índios e militares portugueses.
Com o surgimento da República em 1889, os últimos militares que resguardavam a fortaleza foram retirados, abrindo espaço para “os bolivianos da fronteira atravessar o rio Guaporé e saquear a fortaleza”.
Num período de 50 anos, o Real Forte ficou totalmente esquecido na região de fronteira, até ser “descoberto” em 1913 pelo almirante José Carlos de Carvalho em uma de suas missões pela região da Amazônia e em 1917 pela Inspeção de Fronteira comandada pelo Marechal Rondon, conforme registro encontrado em sua caderneta de bolso e oficialmente sob os cuidados do exército brasileiro como Fé de Ofício.
Tão logo foi encontrado, Rondon coordenou a limpeza do local em 24 de abril de 1930, e em 1932 o Exército Brasileiro criou o Primeiro Pelotão Especial de Fronteira – PEF. Em agosto de 1950, o Real Forte Príncipe da Beira foi tombado como patrimônio histórico pelo Instituto de Patrimônio Histórico Artístico Nacional – IPHAN, sob o registro Nº 395, sendo o exército seu guardião e que o conserva até os dias atuais.
Aos aventureiros que transitavam pela região oeste da Capitania de Mato Grosso segundo MEIRELES (1989), retratam a visão de um mundo inacabado, em que o isolamento e o abandono aparecem como lúgubres faces da realidade, destruindo um ícone que parecia desafiar a própria temporalidade.
Aos navegantes que se aproximam pelo rio Guaporé não é dado avaliar com orgulho a visão de que se tem do Real Forte, quando chegado ao porto, é somente depois de caminhar subindo a ladeira, que ele se revela aos olhos do viajante, como formidável, majestoso e imponente muralha de pedras perdido e rejeitado na floresta.
Estando abandonada e isolada, essa construção rochosa batizada de Príncipe da Beira, foi esquecida assim como toda região do Guaporé. Aos moradores do seu entorno, será impossível descrever esse contratempo de abandono, muito menos a mudança que acontece de forma silenciosa, traiçoeira e lenta. O clarear do dia, o cair da noite e o silêncio da madrugada, nesse intervalo pode acontecer a transformação inesperada, o desmoronamento.
Após 247 anos de sua construção, a Real fortaleza ainda impressiona os viajantes que se aproximam dela, seja por via terrestre ou fluvial. Quem vem por via terrestre, percorrendo 28 km de estrada de chão aberta pelo exército, quando acaba a mata fechada, se depara de forma inesperada com a fortaleza, sentindo um impacto em sua frente de forma repentina, a grande muralha surge no meio de um clarão aberto. Suas muralhas parecem emergir da terra, se completando com uma paisagem ao fundo que impressiona o visitante no entardecer do dia no Vale do Guaporé. Quem vem pelo ar, o paredão da serra dos Reis serve como cortina e alerta ao viajante, a fortaleza está logo ali na frente. Quem vem pelo rio, não tem a visibilidade da fortaleza, porém é surpreendido assim que faz a curva do rio, dando de frente com fortaleza que tem seus canhões apontado ao invasor.
Pela geografia do local, a Fortaleza Príncipe da Beira foi construída em uma área estratégica, sem visualização de quem passava pelo rio, os militares presentes na guarda da fortaleza poderiam usar o poder de fogo do canhão ao inimigo. A sentinela de serviço, tinha uma visão privilegiada de quem passava pelo canal que fica bem em frente ao forte. Com um horizonte limpo, sem interferência de qualquer obstáculo natural, os militares não sofreriam qualquer ataque surpresa, de longe o invasor se surpreendia com a imensa construção de pedras ferruginosas.
Em tempos atuais não conseguimos ver as mensagens que foram gravadas nas paredes da masmorra, deixadas pelos ocupantes daquela prisão em tempo de confinamento. Essas gravuras foi uma forma de registro diário que ficou por muito tempo exposto no silêncio da escuridão.
Esses registros se tornam monumentos, ou seja, ele é rastro deixado pelo passado, construído intencionalmente pelos homens e pelas circunstâncias históricas das Gerações anteriores. O documento não é mais a encarnação da verdade, nem mesmo pode ser considerado simplesmente “verdadeiro” ou “falso”. O Ofício do Historiador deixa de ser o de cotejar o documento para verificar sua veracidade, e passa ser o de marcar as condições políticas da sua produção. O documento/monumento é o engenho político, é o instrumento do poder e, ao mesmo tempo, uma manifestação dele. PEREIRA/SEFFNER (2008).
Seus relatos mencionam a forma de como eram tratados, com correntes grossas ao pescoço e cravadas nas paredes. Algumas paredes das residências internas já vieram ao chão, outras estão sendo sustentadas por intervenção humanas para que possam resistir ao tempo, alguns baluartes sofrem com infiltração da água da chuva em seu interior, o que compromete ainda mais sua estrutura. Além disso, as árvores de vários tamanhos e espécies crescem em suas muralhas rasgando a pedra cal.
Para muitos, ainda restam a esperança de ver um dia o Real Forte restaurado, assim como foi feito com a Fortaleza de São José de Macapá no Amapá, a Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção em Fortaleza Ceará, o Forte do Brun em Recife, o Forte de Cabedelo em João Pessoa, o Forte de Orange em Itamaracá e o Forte dos Reis Magos em Natal. Todos em perfeito estado de visitação e aberto ao público. Para o Príncipe da Beira, é uma questão de tempo.
Autor: Lourismar Barroso - historiador
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