FILME - Cineasta Luiz Leite leva à USP a agonia do trem

FILME - Cineasta Luiz Leite leva à USP a agonia do trem

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Foto: Divulgação

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Convidado pela Universidade de São Paulo (USP), o arquiteto Luiz Leite de Oliveira mostrará seu filme O delírio – Dreams and Tracks (Trilhos e Sonhos) segunda-feira (28),  na abertura do 11º Seminário Internacional NUTAU 2016, que debaterá o tema Águas: projeto e tecnologias para o território sustentável.

“Para minha surpresa, quando participei em 16 de setembro deste ano, do Congresso Brasileiro de Arquitetos em Manaus (AM), com participação internacional, recebi e me sinto honrado com o convite para mostrar em São Paulo o que considero a eclosão de uma guerra desencadeada na região do Alto Madeira, na Amazônia”, disse Luiz Leite.

NUTAU é a sigla do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da USP.

Para Luiz Leite, participar desse evento é importante, na medida em que convergem ao seminário “a suficiente sensibilidade para transmitir ao público do sudeste do País uma luta ainda desconhecida”.

Segundo o arquiteto e cineasta, independentemente da crueza dos fatos narrados em 35 minutos do filme, as pessoas irão se deparar com fatos “vividos e reais, numa história de amor pela Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, a mais lendária da Amazônia”.

Inconformado com o sucateamento do patrimônio que restou da ferrovia desde o encerramento definitivo de suas atividades em 1972, o arquiteto acusa o município e o Serviço de Patrimônio da União de permitirem o furto de peças e a guarda de peças leves e pesadas, “sem o devido cuidado no recolhimento e no transporte”, em diferentes locais de Porto Velho.

O arquiteto lamenta “o conformismo e o silêncio de pessoas e autoridades em Rondônia”. “Até no período da ditadura houve melhor reação”, afirmou.

Águas amazônicas

“O delírio – Dreams and tracks entra justamente no aspecto das águas amazônicas represadas em Porto Velho a ponto de provocarem o primeiro grande dilúvio, um tsunami no rio Madeira, após a construção das hidrelétricas Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira e afluentes”.

“Nesse grito vale tudo: espionagem, trama, corrupção, morte que silencia inocentes, prisões e todo infortúnio da perseguição a ribeirinhos, índios, destruição de cardumes de peixes, de animais e da floresta amazônica”.

Da Madeira-Mamoré, o arquiteto lembrou numa carta à ex-presidente Dilma Rousseff que a ferrovia “fora cassada pela ditadura militar”. “Em vão, o povo brasileiro e a comunidade internacional exigiram a sua reativação ainda naquele período truculento, mas nos legaram um patrimônio dilapidado e enferrujado”.

Tombamento desrespeitado

O arquiteto lembra que a Lei nº 1.776 assinada pelo ex-governador Ivo Cassol adulterou o artigo 264 da Constituição, que tombou a ferrovia. “Da mesma maneira, desrespeitou o tombamento decretado pelo Iphan [nº 1220-T-87], colocando Santo Antônio para dentro do espaço tombado, ou seja, a sete quilômetros do Centro da Capital, na Cachoeira de Santo Antônio”.

E ainda, que a subprocuradora da República Sandra Cureau indagou certeiramente um dia, a respeito de erros no nos projetos das represas: “Santo Antônio e Jirau já não são suficientes para demonstrar o que acontece quando se licencia irresponsavelmente”?

O rio Madeira perdeu trechos encachoeirados. Entre 2015 e 2016 a vida útil das hidrelétricas começou a ser debatida por ambientalistas e cientistas no âmbito universitário e na Assembleia Legislativa de Rondônia.

O filme mostra o tsunami de 2014. E o assoreamento dos reservatórios pode ser considerado assustador, alerta o especialista em sedimentos Sultan Alan, contratado pelo governo para confirmar a tese contida nos estudos de Furnas e da Odebrecht.

Ladrões de vagões e sinos estão soltos

Quando se refere a prisões, o arquiteto menciona a sua própria situação e à da economista Eliana Menezes. Ambos integrantes da Associação de Preservação do Patrimônio Histórico e Amigos da Madeira-Mamoré, eles foram condenados à prisão, em 2015, pela 3ª Vara da Justiça Federal, pelo ato de denunciarem irregularidades com o patrimônio e negociatas políticas.

“Sentenciaram-nos com cadeia, colocando-nos numa vala comum, mas essa sentença não serviu para punir ladrões de vagões e sinos”, desabafou.

Protestando: “Para destruidores do sítio histórico da Candelária e facilitadores do apetite insaciável de imobiliárias, nada! Para contrabandistas de trilhos da EFMM e responsáveis por seu uso na construção civil em Porto Velho, nada! Para o patrocínio de sexo, drogas, vagabundagem e rock and roll na ‘praça’ da Madeira-Mamoré, nada! Para ladrões de peças leves e pesadas, nada! Para nós, o e o calabouço!”.

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