Além de atirar em civis, as forças israelenses “mataram intencionalmente civis palestinos em Gaza usando munições de amplo impacto que causaram um alto número de mortes”, continua o levantamento.
Essas munições foram usadas apesar da consciência de que matariam civis, reforça a comissão.
“As vítimas do bombardeio não foram identificadas ou alvejadas como civis individuais. Pelo contrário, as vítimas foram alvejadas coletivamente devido à sua identidade como palestinas”, declarou;
Israel há muito tempo acusa o Hamas de usar civis em Gaza como escudos humanos, incorporando infraestrutura militar em áreas civis — alegações que o grupo palestino nega.
Suspensão de ajuda para a população de Gaza
Israel impôs um bloqueio de anos a Gaza antes dos ataques de 7 de outubro, restringindo severamente a entrada de suprimentos no território palestino.
Após o ataque do Hamas, no entanto, o governo israelense lançou um “cerco total” ao local, que teve um “impacto catastrófico nas condições de vida dos palestinos em Gaza”, informa o relatório.
“Israel transformou a retenção de necessidades vitais em uma arma, especificamente cortando o fornecimento de água, alimentos, eletricidade, combustível e outros suprimentos essenciais, incluindo assistência humanitária”, relata o documento.
Uma situação humanitária já desoladora tornou-se ainda mais grave no início deste ano, quando Israel impôs um bloqueio de 11 semanas a toda a ajuda a Gaza no início de março.
Logo após o fim do bloqueio, em meados de maio, um novo grupo apoiado pelos Estados Unidos e por Israel — a Fundação Humanitária de Gaza — assumiu grande parte da distribuição de ajuda no território.
Centenas de palestinos foram mortos posteriormente enquanto tentavam buscar ajuda em locais administrados pela controversa organização.
Em agosto, um painel apoiado pela ONU declarou estado de fome na Cidade de Gaza e arredores, analisando que mais de meio milhão de pessoas foram afetadas.
O resultado da investifgação da ONU, divulgado nesta terça-feira (16), diz que a decisão de Israel de permitir a entrada de uma pequena quantidade de ajuda em Gaza foi uma “fachada” para enganar a comunidade internacional, enquanto continua a “impor fome e condições de vida desumanas aos palestinos”.
Netanyahu negou repetidamente que haja fome em Gaza. No início de agosto, ele declarou: “Israel não tem uma política de fome. Israel tem uma política de prevenção à fome”.
Segundo o premiê, o governo permitiu a entrada de mais de 2 milhões de toneladas de ajuda em Gaza desde o início da guerra.
Infância das crianças palestinas “destruída”
A ONU também questionou os objetivos de guerra de Israel, enfatizando que “o ataque generalizado e deliberado a crianças palestinas” é uma evidência de que as operações militares não estão sendo conduzidas apenas para derrotar o Hamas, mas para “destruir fisicamente o grupo (palestino), eliminando não apenas as crianças de hoje, mas também a possibilidade de elas terem filhos no futuro”.
As crianças de Gaza estão sofrendo tanto mental quanto fisicamente, apontou o documento.
“A essência da infância foi destruída em Gaza”, disse um médico citado pelo comitê.
A fome generalizada também significa que as crianças são “incapazes de desenvolver a fala e atingir marcos da linguagem” e podem enfrentar potenciais problemas cognitivos a longo prazo, continua.
Israel também recusou a entrada de fórmulas e leite especial para bebês em Gaza, resultando na “fome de recém-nascidos e crianças pequenas”, indica a comissão.
Esta é “uma evidência especialmente forte da intenção de destruir a população”, afirmou.
Violência sexual é usada por Israel como arma de guerra
Outro trecho do documento informa que as forças de segurança israelenses “perpetraram violência sexual e de gênero”, incluindo “estupro, tortura sexualizada e outras formas de violência sexual, não apenas como punição contra indivíduos, mas como parte de um padrão de punição coletiva para fragmentar, humilhar e subjugar a população palestina como um todo”.
“Isso fica evidente através do conteúdo dos soldados israelenses nas redes sociais, onde eles se mostram descaradamente cometendo atos para desumanizar os palestinos”, pontua a comissão.
O relatório diz ter ouvido muitos palestinos relatando terem sido submetidos a violência sexual e de gênero enquanto estavam detidos, incluindo o depoimento de um detento querelata ter sido espancado nos genitais com tanta violência que perdeu a consciência.
Líderes israelenses “incitam o genocídio”
A investigação também acusou Netanyahu, o presidente Isaac Herzog e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant de incitarem genocídio.
“Já em 7 de outubro de 2023, autoridades israelenses fizeram declarações que indicavam sua intenção de destruir os palestinos em Gaza como um grupo”, indicou.
“Líderes políticos e militares israelenses são agentes do Estado de Israel; portanto, seus atos são atribuíveis ao Estado de Israel”, continua o comitê, acrescentando que “autoridades israelenses e forças de segurança israelenses tiveram e continuam a ter a intenção genocida de destruir, no todo ou em parte, os palestinos na Faixa de Gaza”.
A CNN entrou em contato com as autoridades acusadas para obter comentários.
Um comunicado de imprensa publicado juntamente com o documento apelou à comunidade internacional para “empregar todos os meios razoavelmente disponíveis para impedir a prática de genocídio em Gaza”.
“O genocídio em Gaza está se desenrolando em tempo real. O dever legal, moral e político dos Estados é claro. O mundo precisa agir agora para impedir a matança, proteger o povo palestino e cumprir suas obrigações de prevenir e punir o crime de genocídio”, enfatiza o comitê.