Índia e Paquistão mantêm um histórico de confrontos militares desde a partição do subcontinente, em 1947. A disputa pela região da Caxemira, administrada pelo governo indiano mas reivindicada pelos paquistaneses, é o principal ponto de tensão entre os dois países.
As duas nações já travaram três guerras (1947–1948, 1965 e 1971), além de conflitos menores, como o episódio de Kargil, em 1999. Ambos são potências nucleares reconhecidas, com arsenais ativos desenvolvidos desde os testes realizados em 1998.
De acordo com o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), a Índia possui entre 150 e 200 ogivas nucleares, enquanto o Paquistão detém de 160 a 180.
Ambos operam mísseis balísticos de curto, médio e longo alcance, com capacidade para atingir centros urbanos e bases estratégicas em território adversário. A Índia mantém sistemas como o Agni-V, enquanto o Paquistão opera o Shaheen-III.
As doutrinas militares vigentes indicam cenários possíveis em caso de escalada. A Índia adota a estratégia conhecida como Cold Start, que prevê ataques convencionais rápidos e limitados contra posições paquistanesas.
Em resposta, o Paquistão desenvolveu táticas que preveem o uso de armas nucleares de baixa potência, como o míssil Nasr, em seu próprio território, caso perceba ameaça existencial.
A possibilidade de um ataque nuclear limitado, com o uso de ogivas táticas contra alvos militares, é considerada por analistas um dos caminhos mais prováveis para uma escalada.
A doutrina indiana de "retaliação massiva" prevê uma resposta nuclear em larga escala a qualquer ataque do tipo. Isso pode levar a uma troca de ataques nucleares contra centros populacionais e infraestrutura crítica.
Guerra causaria destruição

Um estudo publicado na Science Advances em 2020 projetou que um conflito nuclear entre Índia e Paquistão envolvendo 100 ogivas de 15 quilotons poderia causar entre 50 e 125 milhões de mortes imediatas, com base nos efeitos combinados de explosões, incêndios e radiação. Cidades densamente povoadas como Nova Délhi, Mumbai, Karachi e Lahore seriam prováveis alvos.
O especialista em Relações Internacionais Marcelo Alves, ouvido pelo Portal iG, afirma que “o equilíbrio entre Índia e Paquistão é sustentado por uma lógica de dissuasão mútua, mas essa estabilidade é frágil.
Diferente da Guerra Fria, em que havia canais robustos e permanentes entre Washington e Moscou, no sul da Ásia o tempo de resposta é mais curto e a confiança mútua é quase inexistente. Isso aumenta o risco de decisões precipitadas baseadas em percepções equivocadas”.
A destruição de centros urbanos comprometeria redes elétricas, abastecimento de água, sistemas de comunicação, hospitais e centros de emergência.
Os impactos da radiação se estenderiam por décadas, com aumento de casos de câncer e contaminação de áreas agrícolas e fluviais. Rios como o Indo, que abastecem milhões de pessoas, estariam sujeitos à contaminação por material radioativo.
Marcelo Alves destaca que “mesmo um ataque nuclear limitado teria efeitos catastróficos. Estamos falando de milhões de mortes em questão de horas, colapso total de infraestrutura básica e um sistema de saúde incapaz de lidar com a dimensão da tragédia. Cidades como Karachi ou Nova Délhi se tornariam zonas de desastre irreconhecíveis, com consequências que se estenderiam por gerações”.