Em maio de 2020, veio uma boa notícia. Uma família de Barrow, uma cidade industrial no litoral da Cúmbria, demonstrou interesse em adotá-lo.
Scott e Laura Castle sabiam que queriam ter filhos logo após se conhecerem em uma noite de Natal em 2005.
Mas não foi um processo fácil e problemas de fertilidade levaram Laura a sofrer de depressão, e ela acabou deixando seu emprego em uma casa de repouso.
O casal passou a considerar adotar uma criança e iniciou formalmente o processo em 2019.
Eles passaram por entrevistas, visitas e treinamentos. Seus familiares e amigos também foram escrutinados por assistentes sociais.
Tudo estava encaminhado para que Leiland-James ganhasse um lar permanente.
Day disse que gostou do casal quando os Castle vieram à sua casa para conhecer Leiland-James em julho.
No mês seguinte, o menino foi morar com a nova família, e as esperanças eram grandes de que ele tivesse enfim encontrado um abrigo duradouro.
Mas essas esperanças duraram pouco.
'Dificuldade de relacionamento'
Leiland-James chorou muito, especialmente durante a noite, disseram os Castles, e o casal teve muita dificuldade para se relacionar com ele.
"Não acho que ele gostasse de nós", lembrou Laura durante sua audiência no tribunal.
Era Laura quem cuidava praticamente sozinha de Leiland-James, uma vez que Scott trabalhava à noite em uma fábrica.
Nas semanas após a chegada de Leiland-James, ela trocou várias mensagens com marido reclamando da criança e dizendo que precisava parar de bater nela porque um dia, temia não conseguir parar.
No tribunal, os Castles tentaram minimizar o teor da linguagem que usavam. Não era isso o que realmente estava acontecendo, disseram. Eles alegaram que não espancavam o menino — no máximo, davam uma única palmada em sua mão ou nas suas nádegas para "chocar em vez de machucar".
Laura também disse que a expressão "devil spawn" ("filhote do demônio"), usada durante as conversas com seu marido, era apenas uma forma bem-humorada de descrever Leiland-James — e que não refletia, portanto, a forma como tratava o filho.
Em sua defesa, os dois disseram que educavam Leiland-James da mesma maneira como foram educados e admitiram dar palmadas nele, mesmo tendo concordado com abordagem de tolerância zero do Conselho do Condado de Cúmbria para castigos corporais.
Laura disse que chegou a tentar a abordagem terapêutica exigida pelo conselho, mas ela nem sempre funcionou.
Os assistentes sociais estavam cientes da dificuldade de relacionamento entre os Castle e Leiland-James.
Morte
Em novembro, eles demonstraram preocupação quando souberam que Laura disse não sentir que amava Leiland-James e, no mês seguinte, notaram que o casal não parecia "alegre em tudo o que precisava fazer".
Naquele momento, contudo, não havia preocupações com a segurança da criança, pois não havia marcas suspeitas ou hematomas nele.
Nem tudo era ruim. Os Castle disseram que também desfrutavam de bons dias na companhia do filho, mas, "para cada passo à frente parecia que davam dois passos para trás", afirmou o casal à Justiça.
Começou-se a discutir então o fim da adoção. Scott disse que não sabia se poderia devolver a criança ao conselho tutelar, enquanto Laura, por sua vez, afirmou que sua família já amava o menino.
O primeiro aniversário de Leiland-James teve bolo e presentes, e, quatro dias depois, a família comemorou o Natal posando para fotos, todos radiantes em trajes festivos.
Ainda havia mensagens ocasionais de Laura para o marido reclamando de ser incapaz de lidar com a criança e criticando seu humor. Ele respondia dando apoio à mulher, alegando que não a considerava uma mãe abusiva e que era o menino que estava estragando as coisas.
Scott voltou para casa pouco depois das 6h de 6 de janeiro ao fim de uma longa jornada de trabalho. Foi direto para a cama, colocou uma máscara de dormir e protetores auriculares.
Duas horas depois, acordou com Laura agarrada ao corpo do menino.
Segundo ela, o menino havia caído do sofá e perdido sua consciência. Sua respiração desacelerou e seus braços e suas pernas amoleceram.
Ela repetiu a história para os paramédicos que correram para sua casa e para os médicos primeiro no Furness General Hospital e depois no Alder Hey Children's Hospital, onde Leiland-James foi levado para tratamento emergencial.
Mas o corpo médico não acreditou nela.
'Assassina de bebês'
Os exames mostraram lesões extensas no cérebro, inchaço e sangramento, e o bebê de 13 meses foi declarado morto por volta das 15h de 7 de janeiro.
Laura Castle repetiu sua alegação de queda do sofá para a polícia, mas a essa altura suas mentiras já estavam sendo desvendadas por patologistas que examinavam o cadáver de Leiland-James.
Seu pequeno corpo mostrou a "tríade" de sinais do que já foi chamado de síndrome do bebê sacudido, mas agora é chamado de traumatismo craniano abusivo.
Havia sangramento extenso e generalizado em seu cérebro e olhos, danos na coluna e efeito chicote cervical.
Dada a sua idade e tamanho, apenas sacudi-lo agressivamente não teria sido a causa provável dos ferimentos. Os legistas acreditavam que houve um impacto, por exemplo, com um móvel, para explicar todos eles.
No dia em que seu julgamento deveria começar, Laura admitiu homicídio culposo dizendo querer "justiça" para seu filho.
Ela disse que sacudiu Leiland-James para fazê-lo parar de chorar, sobrecarregada de frustração pelo barulho, e ele bateu com a cabeça no braço do sofá.
Os promotores disseram que o que aconteceu foi muito mais sinistro, que os vizinhos ouviram um ruído alto, mas nenhum bebê gritando.
A acusação afirmou que Laura Castle perdeu sua paciência quando Leiland-James cuspiu seu cereal, pegou-o e bateu com força a cabeça dele contra um móvel.
Laura admitiu tê-lo matado, mas negou que tivesse a intenção de causar danos realmente sérios ou a morte.
Seus advogados argumentaram que ela perdeu a cabeça, mas nunca pretendeu tirar a vida da criança.
Também afirmaram que ela sempre seria conhecida como uma assassina de bebês, mas não deveria ser rotulada de tal forma, disseram eles.
O júri discordou e a considerou culpada pelos crimes de assassinato e crueldade infantil contra Leiland-James. No entanto, a inocentou de uma segunda acusação de crueldade infantil.
Seu marido foi considerado inocente de causar ou permitir sua morte e dois crimes de crueldade infantil.
Scott começou a chorar ao dizer ao tribunal que estava "com o coração partido" e "devastado" ao ouvir sua esposa confessar o assassinato, sem saber que ela havia mentido sobre o que havia acontecido até se declarar culpada de homicídio culposo.
"Ela é o amor da minha vida e eu nunca pensei que ela mentiria para mim", disse ele enxugando as lágrimas do rosto, enquanto sua esposa chorava alto no banco dos réus a uma curta distância.
Os assistentes sociais tinham algumas preocupações sobre a viabilidade da adoção e uma revisão foi planejada para o início de janeiro, mas Leiland-James foi assassinado antes que isso pudesse acontecer.
O Conselho do Condado de Cúmbria disse que uma Revisão de Práticas de Salvaguarda independente estava em andamento, que deverá ser publicada nos próximos meses.
Muitas perguntas ainda não foram respondidas, incluindo se alguém poderia ter feito alguma coisa para impedir o que aconteceu.
Seja qual for a resposta, segundo o próprio advogado de Laura, David McLachlan QC, Leiland-James merecia uma chance na vida.
E isso lhe foi roubado pela mulher que queria criá-lo.