Ela conta que fez uma oração e, naquele momento, sentiu uma mão a puxando pelas costas. E, depois de alguns instantes, começou a sentir as pedras no chão e conseguiu concluir a travessia com a filha nos braços.
Ela diz ter procurado socorro e foi ajudada pela guarda costeira por volta das 6h. Thais conta que não havia outras pessoas próximas. E que sentiu uma "sensação de abandono" ao ver a filha morrendo no hospital após uma sequência de tentativas de reanimação.
Brasileiros ilegais
A região onde a família cruzou a fronteira é conhecida pela travessia ilegal de imigrantes.
O número de brasileiros cruzando ilegalmente a fronteira sul dos Estados Unidos bateu recorde histórico no ano fiscal de 2021 (que vai de 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021). Ao todo, foram 56.881 detidos, um aumento de 700% em relação ao mesmo período de 2020.
Os dados foram divulgados no dia 22 de outubro de 2021 pelo órgão americano de Alfândega e Proteção de Fronteiras.
Hoje, Thais diz que gostaria que o depoimento dela servisse de exemplo para que outros brasileiros não tentem entrar os Estados Unidos de maneira ilegal.
"Queria pedir para essas pessoas não seguirem nesse caminho. Tem que fazer corretamente, ir no consulado. É caro, mas são a segurança e o cuidado que importam", afirma.
Ela diz que, desde que chegou aos Estados Unidos, não recebeu ajuda do governo brasileiro. Houve apenas um contato de uma funcionária do setor de emergência do Itamaraty.
Procurado, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou em nota que "está ciente do caso e, por meio do consulado-geral em Houston, presta a assistência cabível, em conformidade com a legislação local e os tratados internacionais vigentes".
A pasta afirma ainda que "informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros."
A BBC News Brasil também procurou a Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês), mas não houve resposta.
Recomeço nos Estados Unidos
Depois de cruzar a fronteira, Thais agora busca se reerguer emocionalmente e seguir os planos da família de viver nos Estados Unidos.
Após uma decisão judicial, ela diz ter sido autorizada a permanecer no país durante ao menos dois anos, acolhida por uma família. Nesse período, essa família vai apadrinhar Thais e se responsabilizará pela permanência dela.
Thais diz ter se sentido aliviada por ter sido acolhida. Caso contrário, seria enviada a um centro de detenção feminina, para onde são levados os imigrantes ilegais.
"Eu tive até pensamentos suicidas. Tive um sentimento de culpa. Eu só queria agradecer aos brasileiros daqui, à comunidade brasileira no Reino Unido, Portugal e Austrália que me ajudaram, mandaram mensagens", afirma.
Thais afirma que deseja apenas ser respeitada, conseguir um trabalho, estudar e seguir a vida.
"Eu quero que as pessoas olhem com mais amor aos imigrantes. Aqui mesmo foi construído pelos imigrantes. São Paulo só é São Paulo, com mais conhecimento e riqueza, através dos imigrantes. Quantos italianos e japoneses foram para São Paulo para conseguir uma vida melhor? Nenhum país cresce sozinho, sem os imigrantes."