PIRÂMIDES: 'Fazendas Boi Gordo' usou o agronegócio para dar um golpe

Milhares de brasileiros apostaram na promessa de lucros superiores a 40% em 18 meses, advindos da criação de gado nas Fazendas Reunidas Boi Gordo

PIRÂMIDES: 'Fazendas Boi Gordo' usou o agronegócio para dar um golpe

Foto: Wenderson Araujo/ Trilux

No fim dos anos 90, quem tinha cabeça investia em gado – Ao menos era o que diziam as propagandas das Fazendas Reunidas Boi Gordo nos intervalos da novela O Rei do Gado, da Globo. Elas incentivaram milhares de brasileiros a apostar em títulos da empresa, de olho na promessa de lucros superiores a 40% em dezoito meses, advindos da criação de bezerros nelore em fazendas do Sudeste e Centro-Oeste.
 
 
Como se descobriu depois, tudo não passava de um grande golpe — aliás, um dos maiores já aplicados no país. A pirâmide financeira que remunerava seus clientes com o dinheiro de novos investidores ruiu deixando um rastro enorme de prejuízos: R$ 6 bilhões evaporaram e mais de 30 mil pessoas foram prejudicadas
 
 
A Boi Gordo pertencia a Paulo Roberto de Andrade, que foi capaz de manter o esquema rodando até 2001. Apesar do grande número de vítimas e do barulho que o caso provocou, ninguém foi punido criminalmente. O que restou foi o alerta a futuros investidores. As pirâmides financeiras são esquemas que prometem lucro rápido e, muitas vezes, estão escondidas sob fachadas de negócios respeitáveis, até com carimbo da Comissão de Valores Mobiliários, como a Boi Gordo.
 
 
Em tempos em que fazem sucesso negócios mirabolantes — como o esquema de Glaidson Acácio dos Santos, o “faraó dos bitcoins”, que movimentou 2 bilhões de reais e também enganou celebridades, como o humorista Rafael Portugal —, é interessante olhar para trás. Afinal, como ensina o ditado, é o olho do dono que engorda o boi.
 
 
Quase toda semana, golpes financeiros ganham espaço no noticiário. O último caso envolveu os jogadores brasileiros Gustavo Scarpa, Mayke Rocha Oliveira e Willian Gomes de Siqueira, que alegam ter perdido, juntos, quase R$ 30 milhões em um suposto esquema fraudulento que usava criptomoedas como isca.
 
 
O valor parece alto, mas é discreto perto das perdas registradas na história recente do País. Não há estimativas oficiais, mas um levantamento do InfoMoney mostra que, em cinco anos, pelo menos 23 empresas acusadas de serem pirâmides financeiras envolvendo o suposto investimento em criptoativos deixaram um rastro de prejuízo de cerca de R$ 40 bilhões no Brasil a quase 4 milhões de vítimas.
 
 
“O que a gente vê em análise histórica é que esses tipos de crimes financeiros envolvendo oferecimento de vantagens insustentáveis são antigos e, em comum, trabalham com algo que não é materialmente tangível, como os criptoativos”, disse o Procurador da República Thiago Bueno, integrante do Grupo de Crimes Cibernéticos do Ministério Público Federal (MPF).
 
 
Na década de 1920, por exemplo, o italiano Charles Ponzi (precursor dos esquemas ponzi) prometia pagar juros de 50% em 45 dias ou de 100% em 90 dias em um negócio de cupons de selos postais. Na década de 1980, no Brasil, as Fazendas Reunidas Boi Gordo se valeram de promessas de ganhos com a criação de bois para atrair vítimas.
 
 
As criptos são a bola da vez, segundo Bueno, por causa de algumas características desses ativos digitais, como imaterialidade, falta de conjunto de normas e práticas para negociação (como as do mercado financeiro), o fato de serem novas e ainda pouco compreendidas por parte da população, e o poder de suas valorizações estratosféricas. “Quando o valor do criptoativo está subindo, é o momento adequado para quem quer aplicar golpe poder ganhar fôlego”.
 
 
As promessas de rentabilidade assegurada de até 5% ao mês — ou cerca de 80% ao ano —, algo impossível no mercado financeiro tradicional.
 
 
Entre 2019 e 2023, período em que o Bitcoin (BTC) disparou e chamou atenção de investidores institucionais, o Brasil e o mundo foram inundados de fraudes associadas a ativos digitais. Um dos casos a ganhar destaque nacional foi a Unick Forex, uma fraude com criptomoedas que prometia de 1,5% a 3% ao dia.
 
 
Como não cair em golpes financeiros?
 
O golpe sempre segue um padrão. Primeiro, a promessa de retorno irreal, mesmo para o nível de taxa de juro que temos no Brasil. Depois, sempre colocam como estratégia colocar as criptomoedas, prometendo retorno muito alto. Por último, pegar gente famosa para convencer mais pessoas.
 
 
No mercado financeiro, não existem investimentos com alto potencial de ganhos garantidos. Ainda que seja possível ter bons lucros, eles envolvem maiores riscos nos investimentos. Logo, sempre desconfie de promessas que não apresentam riscos.
 
 
Outra dica para não cair em fraudes no mercado financeiro é pesquisar sobre a legalidade da empresa e sua regulamentação. Quando se trata de um negócio que atua na intermediação de compra e venda de títulos e valores imobiliários, é possível fazer esse tipo de consulta na CVM.
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