Peculiaridades do mundo ribeirinho – por Marquelino Santana

Os tradicionais povos ribeirinhos metamorfosearam o seu espaço de ação

Peculiaridades do mundo ribeirinho – por Marquelino Santana

Foto: Reprodução

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Na volúpia da imaginação ribeirinha, a mãe terra na sua briosa generosidade jamais se negou a fecundar o pão da vida para suntuosamente alimentar os filhos seus. Apesar do ódio e aversão oriundos de uma sociedade envolvente hostil, a mãe terra continua sobrevivendo na sua iniludível benevolência, mesmo sendo cotidianamente obliterada pela delinquência humana doentia.
 
Na divergência clarividente entre a mácula escabrosa das forças externas hegemônicas e o mavioso e deslumbrante mundo ribeirinho, a resistência pelo apego ao lugar tradicional está condenada ao malogro e ao descalabro desmoralizante da vida. Nessa incessante degradação da vida, o sentimento e o pertencimento pelo lugar estão sendo cruelmente ceifados pela catástrofe degradante dos velórios florestais.
 
A concatenada relação divinal entre o homem e a terra está sendo visivelmente dilacerada, o ecoequlíbrio está entrando em extinção, e os devaneantes símbolos da imaginação ribeirinha estão sendo extirpados e desalojados dos valores ontológicos da alma. Sem a maviosidade das águas, sem o remanso irradiante de suas lindas manobras, sem os encontros imensuráveis de suas exuberantes cores, e sem esse alimento materno mais precioso, o homem ribeirinho aos poucos vai sentindo a angustiante dor do ecocídio planetário.
 
A relação plurissignificante de harmonia estesiante entre as populações ribeirinhas e a viscosidade poética das águas são de fato indissociáveis, e esse fenômeno holístico, cosmopolita e transcendental é uma dádiva herdada a história da humanidade. O geógrafo e escritor Eric Dardel nos diz que o domínio das águas, inseparável do espaço verde, está do lado da vida. Para ele as águas exercem sobre o homem uma atração que chega à fascinação: há uma palavra que encanta e uma substância que atrai. 
 
Os tradicionais povos ribeirinhos metamorfosearam o seu espaço de ação, construíram e reconstruíram os modos de vida do lugar, e nessa fenomenológica rede de ação, continuam fecundando com respeito e brandura, o precioso e imaculado útero da mãe terra divinal. 
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