Enquanto aguarda os desdobramentos da denúncia sob a acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado e que pode levá-lo à cadeia, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem andado acompanhado por um apoiador que usa um distintivo policial em viagens pelo país.
O pecuarista Bruno Scheid, 41, segundo vice-presidente do PL em Rondônia, divulgou uma foto ao lado do ex-presidente em um grupo de apoiadores bolsonaristas, convocando aliados para o ato pela anistia aos presos de 8 de janeiro e contra o presidente Lula (PT), marcado para 16 de março.
O integrante do partido do ex-presidente, que não é segurança, afirma que a insígnia traz a inscrição "agente de segurança" e serve para "facilitar a circulação e evitar embaraços em deslocamentos e eventos".
Apesar das vantagens que o uso do emblema lhe traz, o pecuarista nega que as pessoas que o veem sejam induzidas ao erro de confundi-lo com um policial.
"Não há qualquer intenção de simular ou induzir a uma função que não exerço, assim como não há qualquer propósito nesse sentido em relação a outros assessores", disse.
Scheid é próximo do ex-presidente e se aproximou de Bolsonaro por meio da ex-primeira-dama Michelle.
Na última eleição, organizou eventos para arrecadação para a campanha presidencial entre ruralistas das regiões Norte e Centro-Oeste.
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, que obteve dados por meio da Lei de Acesso à Informação, entre o fim de 2021 e o início de 2022, antes do período eleitoral, ele esteve 11 vezes no Palácio do Planalto.
O empresário, de Ji-Paraná, não é policial nem agente de segurança. Ele já foi sócio de uma empresa de comércio de móveis em São Paulo e atualmente é pecuarista em Ji-Paraná.
Em 2019, ocupou um cargo em uma diretoria da Secretaria de Agricultura de Rondônia, na gestão de Marcos Rocha (hoje no União Brasil), e fez campanha, nas últimas eleições, para o senador Marcos Rogério (PL), candidato derrotado ao governo do Estado.
A assessoria de imprensa do PL não comentou o fato e orientou a reportagem a procurar o diretório de Rondônia para obter informações.
O partido é presidido por Marcos Rogério no Estado. A assessoria do senador, por sua vez, afirmou que a atitude era uma "questão pessoal" de Scheid, "uma relação pessoal dele com o presidente Bolsonaro e a [executiva] nacional".
Scheid disse que a foto foi tirada nesta segunda-feira, 24, quando o ex-presidente viajou para encontrar apoiadores em Pernambuco.
Segundo o pecuarista, o distintivo traz a inscrição "agente de segurança", mas não se confunde com um distintivo policial. Ele afirma que o objeto é "uma identificação utilizada para facilitar o acesso às reuniões e deslocamentos de membros próximos em eventos".
"Essa identificação foi adotada para evitar ruídos de comunicação entre os assessores e os profissionais responsáveis pela segurança dos eventos, facilitando a circulação. Poderia ser um crachá ou qualquer outra forma de identificação", disse o pecuarista em uma conversa via WhatsApp.
Scheid, que é cotado para disputar o Senado no ano que vem, concorrendo a uma das duas vagas para o cargo com o apoio de Bolsonaro, afirmou que os distintivos dos agentes da Polícia Federal que acompanham o ex-presidente são diferentes do que ele usa.
"Essa identificação específica que estou utilizando é amplamente usada no Brasil inteiro para facilitar acessos, sendo comum entre assessores parlamentares, deputados federais e senadores em viagens e eventos estaduais."
"Sua venda não é vedada e pode ser adquirida livremente em locais especializados, como casas militares, sem necessidade de qualquer comprovação", disse o apoiador do ex-presidente.
"Sou fã das polícias, mas não faço parte delas e, evidentemente, jamais me passaria por um policial."