O escrevedor de bobagens – Por Confúcio Moura

O escrevedor de bobagens – Por Confúcio Moura

O escrevedor de bobagens – Por Confúcio Moura

Foto: Divulgação

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 Acordar de madrugada para escrever bobagens,  só pode ser coisa dos mais racionais dos seres.  Porque tem dia que fico diante do computador, olhando para a tela e não me vem nada na cabeça para escrever. Aí desligo. E largo tudo. E vou caçar outra coisa pra fazer. Habitualmente, termino na rua, fazendo uma boa caminhada e olhando a madrugada vazia ou gatos pingados circulando. Para escrever alguma coisa, o pensamento tem que  fluir,  tem que tossir, tem que escorrer. Aí fico pensando, vale a pena escrever qualquer coisa ou dormir mais um pouco?  Eu concluí que é bem melhor dormir. Porque em qualquer lata de lixo da rua,  você encontra tanta coisa escrita, talvez pelas madrugadas, noites ou finais de semana, que tem este triste fim. A lata do lixo. Até acho que é o melhor lugar mesmo, para acomodar tantas inquietudes sem nenhuma importância.

Nicolas Behr está certo. Porque Nicolas brinca com Brasília, de tanto amá-la ele goza nela. E vadia em suas “tesourinhas”. Assim com a exalta,  ele a deprime. E vai tocando a vida fazendo poesia e rodando no mimeógrafo. Vendendo na rua, ali à frente do Conic, como um novo cordel. Fez a sua história assim, na máquina Olivetti, no estêncil ao mimeógrafo.  E foi rodando pelos anos a fio, nos restaurantes, de mesa em mesa, oferecendo poesia como sobremesa, como um doce de coco, um pé-de-moleque. Porque estes devaneios, de arrancadas e freadas na mente, serve mais como uma academia de musculação mental, do que propriamente, como um trabalho. Sei lá, se trabalho, como esforço físico e suor é que mostra que o camarada seja efetivo trabalhador.  Nicolas é um trabalhador com palavras. Com letras. E ele preenche todas as condições para ser um desocupado, no sentido estrito do que seja trabalho, mas, não é. Ele cuida também de plantas, de flores, de verduras e legumes naturalmente sustentáveis. Muitos ipês coloridos para enfeitar Brasília. Tal como o mestre Francisco Ozanan, jardineiro de Brasília, os dois puseram um ritmo especial à cidade, métrica e sentido à capital no meio do cerrado torto.

Muito bem, dei uma volta e já estou em casa. Fui ver a rua como estava. E quando cheguei assisti notícias de atentados terroristas. Mas, há cem anos Jorge Luiz Borges e um pouco mais ou menos, Júlio Cortázar se meteram ao mundo da fantasia na literatura. E no fundo das coisas, tudo é mesmo um filme, um Star, Titanic, túnel do tempo. E nós estamos no túnel do tempo, voando neste espaço, por algum tempo, flutuantes como astronautas sem gravidade, como mariposas nos dias de chuva. Eu fico questionando se poesia não é também filosofia, se fantasia, também não pode ser filosofia ou se tudo isto junto, não venha a ser uma crença. Atrás das coisas tem a busca da razão. E quem sabe não seja a dúvida, o risco  e a inconclusão,  não seja o motivo da própria vida. Enquanto isto, as futilidades ganham todo o espaço e com justiça tanta, porque esta ainda é a maior certeza, que a soma de tudo é um quase nada. Vale a pena vadiar e também se justifica escrever bobagens.

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