Jânio Quadros renunciou à presidência da República alegando que fora compelido por “forças ocultas”. Na época, ninguém entendeu direito a decisão do homem da vassoura.
Collor de Mello (o arauto dos descamisados e pés descalços) disse que o Congresso e a Constituição da República impediam a governabilidade do País.
Agora, vem o vice-prefeito de Porto Velho, Emerson Castro (PMDB), e afirma que vereadores da Câmara Municipal de Porto Velho estariam orquestrando um complô para afastá-lo do cargo, na hipótese de o prefeito Roberto Sobrinho deixar a prefeitura para disputar o governo do estado.
Nem o mais ferrenho partidário do vice-prefeito poderá concordar com uma declaração despropositada dessa natureza, que a nada conduz. Pelo contrário, só mostra que a cúpula governista já nem mais sabe o que dizer, nem fazer diante das dificuldades.
Se há forças conspirando contra o vice-prefeito, essas, certamente, não estão encasteladas nos gabinetes da Câmara Municipal, mas, sim, nas hostes petistas. São exatamente aqueles cujas cabeças estariam mais suscetíveis à decapitação palaciana, caso Emerson assumisse o lugar de Sobrinho.
É absolutamente descabido falar em complô, golpe, conspiração ou qualquer coisa do gênero. Tais substantivos, a experiência tem mostrado, caracterizam-se pela ruptura do texto constitucional por quem ainda não se acostumou a viver no império do direito. Ou, em troca dele, pretenda ver-se beneficiado em suas ambições pessoais.
Emerson não precisaria “cometer um erro do tamanho do mundo” para perde o cargo, caso viesse a assumir a prefeitura, como ele mesmo declarou. Bastaria, por exemplo, que se ausentasse do município ou do estado, por mais de quinze dias consecutivos, sem prévia autorização da Câmara Municipal.
Hoje, desfrutamos de extraordinário clima de liberdade democrática. As dificuldades, atribuíveis, sobretudo, aos percalços econômicos, não têm encontrado no funcionamento das instituições um fator de agravamento.
Por isso, não há motivo para aceitarmos evasivas que pretendem, simplesmente, deslocar o foco das atenções gerais. Ao vice-prefeito deve interessar a resolução dos graves e complicados problemas com os quais se debatem os munícipes portovelhenses, principalmente nos setores da saúde, educação, do transporte coletivo e infra-estrutura, e não picuinhas políticas.