Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz
1 – POLÍTICOS OPACOS
Bem verdade que não se sabe se esta é uma decisão dos marqueteiros, dos estrategistas políticos da campanha ou do próprio candidato à reeleição Roberto Sobrinho (PT), prefeito de Porto Velho. Uma coisa é certa – do partido é que não pode ser. Fala-se, leitor, do formato dos programas do representante petista que estão sendo veiculados pela televisão no horário gratuito do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Na hipótese de que o leitor ainda não tenha se dado conta, do dia 13 para cá, até o momento em que estas estavam sendo digitadas, o único político que está aparecendo nos programas de TV da coligação “Trabalho de Novo com a Força do Povo” (PT, PMDB, PP, PRTB e PSC) tem sido o próprio Roberto Sobrinho.
Tem mais: afora o companheiro presidente Lula da Silva (PT), nenhum outro político teve o nome pronunciado durante toda a emissão de cada um dos programas do PT, seja por parte dos apresentadores ou das vozes gravadas em “of”, que dirá por iniciativa do próprio Roberto Sobrinho. Para se ter uma idéia, a única exceção que está sendo feita diz respeito ao nome do candidato a vice-prefeito, o vereador Emerson Castro (PMDB). Mesmo assim, depois que, provocada pela assessoria jurídica do deputado Mauro Nazif (candidato do PSB à Prefeitura), a Justiça Eleitoral suspendeu a primeira versão levada ao ar e exigiu que o nome do companheiro de chapa do candidato petista fosse mencionado claramente na peça publicitária.
Quer dizer, o candidato a vice-prefeito só teve o nome incluído no programa de TV da candidatura situacionista por força da lei, porque a legislação não permite que nos horários cedidos pela Justiça Eleitoral as campanhas sejam encaminhadas sem menção aos candidatos a vice, mesmo assim porque a concorrência reclamou. Mas até agora, diversamente do que ocorre com os demais programas televisivos exibidos no mesmo horário, quem não conhece a fisionomia do vereador Emerson Castro, no que depender da propaganda eleitoral petista, vai permanecer sem conhecer.
2 – SUPER SOBRINHO
Propaganda eleitoral tão centrada assim apenas na figura isolada do prefeito Roberto Sobrinho está gerando controvérsias. Dentro do PT, as queixas partem daqueles que exercem elevados cargos eleitorais e, de olho na renovação dos respectivos mandatos, precisam aparecer, ser percebidos. Aí até que poderiam ficar de fora, conceda-se, o deputado federal Anselmo de Jesus (cuja base eleitoral é a região de Ji-Paraná/Ouro Preto) e os deputados estaduais Néri Firigolo e Professor Dantas (ambos representantes de regiões do interior).
Mas se o deputado Ribamar Araújo (6 mil 655 votos na Capital) não merecia que se lhe abrissem espaço para dar uma palhinha, para petistas de alto coturno como a senadora Fátima Cleide (85 mil 55 votos na Capital) e o deputado federal Eduardo Valverde (16 mil 820 votos na Capital) um tal desdém é como um pedaço de costela de tambaqui atravessado na garganta. Deles.
Aliás, diz-se que o procedimento só veio piorar as coisas. Na verdade, as relações entre o prefeito petista e a representação federal do partido já andavam algo azedas, precisamente porque Sobrinho estaria a omitir sistematicamente os nomes dos deputados e o da senadora nos créditos dos programas de repasses de recursos do governo federal, mormente no que diz respeito aos mais volumosos, os do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Oportunidade melhor não poderia apresentar-se para os congressistas locais do PT, até porque na campanha de 2004 foi pelas mãos de Fátima Cleide e Eduardo Valverde que Sobrinho deu-se a conhecer nos horários da propaganda gratuita. Agora, bau bau.
O que ameaça virar uma encrenca dos diabos, porém, é o limbo a que foi relegado o candidato a vice-prefeito, o já citado Emerson Castro. Consta que certo pessoal do PMDB porto-velhense está uma arara, ameaçando armar um fuzuê em plena campanha. Mais especificamente, os grupos que postularam candidatura peemedebista própria e, por isso mesmo, assumiram posturas contrárias à coligação com o PT.
3 – PROJEÇÕES SOMBRIAS
A tese é a de que o hábito do cachimbo terminou por entortar de vez a boca dos atuais administradores do Município. Ou seja, Sobrinho e os petistas mais influentes empoleirados na administração municipal acostumaram-se de tal modo com a figura de uma Cláudia Carvalho absolutamente afastada que, como o vazio deste concurso não fez a menor diferença na qualidade da gestão, concluíram ser essa história de vice e a lambança que o gato enterra tudo a mesma coisa.
As projeções não poderiam ser mais sombrias. De acordo com esse raciocínio, se com Cláudia, que apareceu em pé de igualdade com Sobrinho do começo ao fim da propaganda gratuita no rádio e na TV em 2004, deu no que deu, a Emerson Castro, que estaria sendo considerado desnecessário já na fase de campanha, na hipótese da reeleição consumada, estariam reservados não mais que um tamborete e um tabuleiro em que eventualmente despachar.
O certo é que a auto-suficiência de Sobrinho que emerge da TV tem dado o que falar. Há quem diga que aí o poder produziu um misto de onipotência e narcisismo. Teria passado a acreditar que é imprescindível, que faz tudo melhor do que qualquer pessoa, imaginando que se algum empreendimento tiver que dar certo, tem que ser feito por ele. Assim, se fosse um corredor de revezamento, só revezaria consigo mesmo, porquanto o medo de perder a corrida não permitiria mais que confiasse em qualquer parceiro.
Na Roma antiga, para combater essa ilusão onipotente, diz-se que os Césares, quando voltavam das vitórias, eram saudados com tal entusiasmo pela turba que um sacerdote era escalado para acompanhá-los nas bigas e ficar repetindo: "Lembra-te de que és mortal! Lembra-te de que és mortal!". Tratava-se, segundo escreveu há tempos João Melão Neto numa referência a Lula (“O Estado de S. Paulo”- 02.07.2003), de uma advertência prudente: o poder e o sucesso inebriam de tal forma que não raro levam os homens a perder o senso, se julgar infalíveis, desafiar os deuses e o destino. Seria isso?