Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Da Redação

19 de Dezembro de 2007 às 10:39

Compartilhar via

Siga a gente no Google News

Compartilhar no Whatsapp

Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.

ENTRAR NO GRUPO

1 – OSCAR NIEMEYER Poucas vezes o Brasil terá sido tão lembrado pelo mundo afora como nos dias que antecederam este 15 de dezembro de 2007 – se é que algo assim tenha ocorrido. Pudera! Neste sábado, o planeta inteiro e uma banda da lua celebraram o centenário do “único brasileiro que será lembrado no século 30”, na expressão de uma das incontáveis obras que se ocupam da extraordinária figura de Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares, seguramente, o mais universal dos talentos que a nação tapuia produziu e, de longe, o mais importante criador brasileiro vivo reconhecido em escala planetária. E, no entanto, no começo da semana, conforme noticiou o site “BBC-Brasil”, Oscar Niemeyer disse, em entrevista ao jornal britânico “The Times”, que não se sente particularmente importante. "A data não é importante. A idade não é importante. O tempo não é importante. A arquitetura não é importante. O que nós criamos não é importante. Somos muito insignificantes. O que é importante é ser tranqüilo e otimista.", disse. A reportagem contém a entrevista com Niemeyer intitulada “O Rei das Curvas” e ocupa duas páginas do caderno cultural do diário britânico. Nela, o jornalista Tom Dyckhoff compara seu encontro com o arquiteto, no Rio, como um esbarrão com uma lenda, um nome saído dos livros de história, como Rodin ou Picasso. “Este titã da arquitetura,... que definiu a fisionomia do Brasil pós-guerra,... que prefigurou o pós-modernismo na arquitetura,... que em sua juventude era a cara de Marlon Brando, é hoje tão encolhido e antigo quanto um vaso Ming", descreve Dyckhoff. O detalhe tomado pelo jornalista para fazer dele rei é bastante apropriado, porquanto do arquiteto já se disse que o que atrai Oscar Niemeyer é a curva livre e sensual, a curva que encontra nas montanhas do Brasil, no curso sinuoso de seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu e no corpo da mulher preferida. "De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein", diz o arquiteto apontando o Pão de Açúcar. 2 – DIMENSÃO ARTÍSTICA Aliás, segundo escreveu o professor de Artes David Underwood no livro "Oscar Niemeyer e o Modernismo de Formas Livres no Brasil” - "O Pão de Açúcar tem sido para Niemeyer o que a montanha Santa Vitória foi para Cézanne: uma imagem da permanência da natureza, uma obsessiva presença formal e espiritual que continuaria a inspirar sua arte". Cézanne, leitor, fez mais de 60 telas retratando essa montanha, perto de onde nascera, o que torna o paralelo mais verossímil – Niemeyer é carioca da gema. "De um traço nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte", afirma o arquiteto. Esse momento de inspiração, quando uma idéia se impõe e se eleva até a categoria de obra de arte, é o que Le Corbusier alcançou, segundo Niemeyer, quando desenhou o Centrosoyus de Moscou, Picasso, com o croqui de Guernica, Einstein, com sua teoria da relatividade, e Manuel Bandeira, com seu verso sobre a morte: "Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa no seu lugar". Na autobiografia, publicada também em vários idiomas, Niemeyer revela as paixões da vida e que são a chave de sua arquitetura: a filosofia, sua grande família, seus amigos, a terra sensual e o céu azul do Brasil, as mulheres, o comunismo, a arte e a literatura. O jornal britânico "The Guardian", por exemplo, descreveu o livro como uma "obra esplêndida" de "um homem sagaz que escreve sem hipocrisias e desenha como um anjo picassiano". Em inúmeras ocasiões, abriu mão de receber honorários, na maioria das vezes alegando motivos éticos, ou se as amizades falassem mais alto. Apesar de sua produção monumental, sempre teve vida comedida e trabalha até hoje para viver. Niemeyer, que despreza o dinheiro a ponto de afirmar que teria "vergonha de ser um homem rico", teve a generosidade de presentear Astúrias (Espanha), em 2005, com o projeto de um centro cultural que levará seu nome e que ficará junto à foz de Avilés. 3 – POSIÇÃO POLÍTICA Para se ter uma idéia da monumentalidade do projeto, basta dizer que o centro fará parte do que está sendo chamado de "G8 da cultura", uma aliança que incluirá o Centro Pompidou de Paris, o Barbican Center de Londres, o Lincoln Center de Nova York, a Ópera de Sydney, a Biblioteca de Alexandria, o Fórum Internacional de Tóquio e o Centro Cultural de Hong Kong, com o objetivo de programar eventos de forma coordenada. Impossível enumerar sua obra. Mas no Brasil até os candirus do Madeira já ouviram falar em Brasília e no conjunto Pampulha, em Belo Horizonte (MG) – marco inicial da carreira. Merecem destaque também o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, a sede do Partido Comunista Francês, em Paris, o Centro Cultural de Le Havre, os escritórios da editora Mondadori em Milão e, em Argel, o zoológico, a Universidade de Constantino e muitos mais. O arquiteto das curvas sinuosas é, ideologicamente, um dos mais retos e fiéis comunistas da história do Brasil. O comunismo de Niemeyer andou-lhe custando caro nos anos da ditadura militar no Brasil, pois seu escritório foi saqueado, a sede da sua revista “Módulo” destruída, seus projetos pouco a pouco começaram a ser misteriosamente recusados e clientes a desaparecer. Neste período, a Europa o recebeu de braços abertos e Niemeyer produziu obras que o tornaram ainda mais conhecido no mundo Não há ente honesto na face da terra que deixe de ficar admirado como, aos 100 anos, Niemeyer consegue preservar uma integridade ideológica e moral esplendidamente intacta - como se fosse um jovem estudante inebriado pelos primeiros conhecimentos das coisas do mundo, mas já crente que será possível resgatar uma vida mais digna para toda a humanidade. Ao ser indagado sobre as personalidades da sua predileção na entrevista de que se falou no início, por exemplo, disparou: “Fidel e Chávez, eles representam a luta de hoje. O capitalismo domina, mas ele vai fracassar. Tenho fé nisso. A revolução não pode parar”. Sinceros e calorosos parabéns!

Direito ao esquecimento

Opiniões dos Assinantes (0)

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!