Terminou na última quinta-feira (3/3), sob a mira de metralhadoras e pistolas, a passagem, na capital federal, de um dos criminosos mais perigosos do país: Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), ele deixou a Penitenciária Federal em Brasília (PFBRA) para ser transferido à Penitenciária de Porto Velho (PFPV), em Rondônia — unidade onde estava detido antes de vir para o Distrito Federal, ocasião que gerou tensão política entre o Executivo local e o então ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Fontes ouvidas pelo revelaram que, desde o fim do ano passado, equipes de inteligência monitoravam um possível plano de fuga de Marcola.
O criminoso chegou à capital em 22 de março de 2019, transferido da PFPV sob escolta da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e de policiais penais.
Antes de passar por Rondônia, ele estava detido em São Paulo, mas com a descoberta de um plano de fuga e as ameaças ao promotor do Ministério Público de São Paulo (MPSP) Lincoln Gakiya, responsável por combater a facção no interior do estado, houve uma articulação do governo federal para trazê-lo para Brasília.
A detenção exigiu a presença da Força Nacional nas imediações do presídio e reforço na segurança.
Ao Correio, o secretário de Segurança Pública, Júlio Danilo, afirmou que a transferência de Marcola era uma demanda antiga do governo local, desde quando o atual ministro de Justiça e Segurança Pública (MJSP), Anderson Torres, era secretário da pasta.
"Creio que o MJSP cumpriu esse compromisso anterior, com base nas análises apresentadas anteriormente, de se evitar a concentração de líderes de organizações criminosas na capital federal", afirmou.
Nas redes sociais, o ministro Anderson Torres — secretário de Segurança à época da chegada do Marcola — comentou a decisão. "Hoje (quinta-feira), após minucioso planejamento do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), efetuamos a transferência do prisioneiro conhecido como Marcola, da Penitenciária Federal de Brasília. Ação de sucesso total, com apoio da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Senasp", escreveu o ministro no Instagram.
Risco de fuga
No final de 2021, após uma reunião entre autoridades, forças de segurança teriam sido colocadas em alerta a respeito de um novo plano de fuga de Marcola. O site apurou que o chefe da facção queria, ao menos, um sinal de que os "aliados" estariam tentando resgatá-lo na Penitenciária Federal em Brasília e teria dado um prazo até março.
O pedido, repleto de audácias, exigia uma "prova" dos comparsas, incluindo barulho de tiros nas imediações. No entanto, não houve comunicado oficial acerca dessa movimentação junto à Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF).
Ainda em dezembro, uma torre de vigilância ganhou forma em frente à penitenciária. A construção faz parte da política de fortalecimento do sistema de segurança no eixo da penitenciárias federais, segundo afirmou o Depen ao jornal.
O projeto foi licitado em 2020 e, de acordo com o órgão, a "muralha" vai reforçar a barreira perimetral das demais unidades, a começar por Brasília. "A obra vai melhorar a capacidade de vigilância e segurança", frisou o Depen.
Em dezembro de 2019, equipes do Exército Brasileiro, do Comando Militar do Planalto e da Força Nacional montaram uma força-tarefa nas imediações do presídio após suspeita de um plano de fuga. A ação resultou na publicação de um relatório de inteligência com informações sobre uma tentativa de liberação de Marcola
Com a transferência de ontem, Marcola sai da Penitenciária Federal em Brasília, que abrigava 31 criminosos, e segue para a Penitenciária Federal de Porto Velho, unidade que comporta 145 presos de alta periculosidade, principalmente líderes de facções criminosas.
Memória
Discussão política
A transferência de líderes do PCC para o Distrito Federal começou em outubro de 2018, com a inauguração da Penitenciária Federal de Brasília. À época, três chefes da facção criminosa vieram para a prisão, localizada no Complexo Penitenciário da Papuda.
Em fevereiro, três líderes do grupo deixaram São Paulo e tornaram-se internos no DF. A mudança atendeu a uma determinação da Justiça, a pedido do Ministério Público de São Paulo. Em março de 2019, foi a vez de Marcola. A chegada desses presos ao DF gerou mal estar no Executivo local.
Em diferentes ocasiões, o governador Ibaneis Rocha (MDB) reuniu-se com o presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para tratar do assunto.
Além do chefe do Palácio do Buriti, a Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB/DF) se manifestou contra a instalação de uma penitenciária federal em Brasília.
Perfil
Recusa de liderança
Condenado a mais de 300 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, roubo, tráfico de drogas e homicídio, Marcola fundou o Primeiro Comando da Capital (PCC), juntamente com Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, na Custódia de Taubaté, em São Paulo.
À frente da maior facção criminosa do país, Marcola organizou o domínio dos presídios paulistas, que reúnem 231 mil detentos, maior contingente de pessoas reclusas no Brasil.
Marcola sempre negou comandar o PCC. “Não existe um ditador. Embora a imprensa fale, romanticamente, que existe um cara, o líder do crime. Existem pessoas esclarecidas dentro da prisão, que com isso angariam a confiança de outros presos”, declarou o condenado, em audiência pública na CPI do Tráfico de Armas, em 2006.