Manter uma dieta equilibrada e praticar exercícios regularmente é essencial para o bem-estar. No entanto, quando o desejo por uma “alimentação perfeita” se transforma em obsessão, o resultado pode ser justamente o oposto. Esse comportamento, conhecido como ortorexia nervosa, tem preocupado especialistas por causar ansiedade, isolamento social e até desequilíbrios nutricionais.
Um estudo publicado na revista Psychology, Health & Medicine analisou 1.359 brasileiros fisicamente ativos e identificou características de pessoas mais suscetíveis ao problema. A pesquisa, financiada pela FAPESP e conduzida por universidades como Unesp, Unipam e UFJF, diferenciou indivíduos com interesse saudável em comer bem daqueles com comportamento ortoréxico.
Segundo o coordenador da pesquisa, Wanderson Roberto da Silva, a ortorexia não é oficialmente classificada como transtorno alimentar, mas já é considerada disfuncional. Entre os sinais comuns estão a eliminação radical de alimentos vistos como “impuros”, como ultraprocessados, itens com aditivos e até grupos como glúten ou laticínios muitas vezes sem justificativa médica. Essa rigidez, explica Silva, provoca falta de variedade e pode gerar deficiências nutricionais e abalos emocionais.
O estudo mostrou que o interesse saudável pela alimentação está ligado a maior idade, prática regular de exercícios e uso moderado de suplementos. Já a ortorexia foi mais frequente entre mulheres, pessoas desempregadas, com histórico de transtornos alimentares e adeptas de dietas restritivas voltadas à estética. A prática intensa de exercícios apareceu associada aos dois grupos, revelando o limite tênue entre saúde e obsessão.
Para Silva, é fundamental resgatar o equilíbrio: “Uma alimentação verdadeiramente saudável nutre o corpo, a mente e as relações sociais”. Ele destaca que comer bem não significa seguir regras rígidas, mas adotar hábitos variados, flexíveis e compatíveis com o bem-estar físico e emocional.