LOBÃO em Porto Velho foi do inferno ao paraíso com dois shows marcantes – Por Marcos Souza

LOBÃO em Porto Velho foi do inferno ao paraíso com dois shows marcantes – Por Marcos Souza

Foto: Divulgação

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Vamos lembrar esses versos clássicos de um dos hits do rock Brasil dos anos 80? Vamos:
 
“Chutou



A cara do cara caído, traiu
Traiu seu melhor, seu melhor amigo
Bateu, corrente, soco inglês e canivete
E o jornal não para de mandar
Elogios na primeira página
Sangue, porrada na madrugada”
(Vida Bandida, letra e música Lobão)
 
 
Numa tarde quente em 1988, o seu João Luiz Woerdenbag Filho estava sendo anunciando para subir ao palco montado dentro da quadra do Ferroviário Atlético Clube, um dos points históricos do centro antigo de Porto Velho, tradicional clube esportivo de futebol, que por anos foi um dos melhores times da região ao lado de Moto Clube e Ypiranga. 
 
O seu João era conhecido pelo seu nome artístico e já um grande ídolo do rock nacional, que chegava à Rondônia com fama de mau, de “loucão”, LOBÃO. 
 
Nos anos 80, o cara tinha a mítica de ser persona non grata para a polícia e a ala conservadora cristã de qualquer cidade que fosse cantar, pois enxergavam nele um roqueiro drogado e péssima influência para a juventude com a sua postura política anti sistema, discurso pró maconha, entre tantas ondas que a família brasileira tinha usura com o artista.
 
Naquele ano, final dos anos 80 e início dos anos 90 LOBÃO já tinha sido preso algumas vezes e marcado a sua história pregressa com uma passagem de três meses por uma prisão carioca em 1987, logo após um flagrante de porte de cocaína. Nessa data ele havia acabado de lançar o disco “O Rock Errou”, que tem a famosa capa da sua prima nua ao seu lado e com quem ele casou na época. 
 
Vamos lembrar que nesse período tanto porte quanto posse de drogas eram crimes de mesma natureza condenatória pela legislação penal. Foi um escândalo para o País ver um cantor como Lobão ser preso. Mas ele mesmo sendo levado a um presidio de segurança máxima na época, onde foi jogado em uma cela com figura histriônicas do bandidismo carioca, entre eles membros do Comando Vermelho, acabou fazendo amizade pela sua postura guerrilha e anti-sistema e tirou onda.
 
Com essa peja de “bandido” do rock brasileiro, porém num período em que como músico e compositor estava no seu auge criativo, foi tempo de Lobão lançar discos como “Vida Bandida” (1987), seguido no outro ano por “Sob o Sol de Parador” (1988), ou seja independente da sua fama pregressa ou comportamento, o artista fazia sucesso e tinha um público muito grande. 
 
No livro autobiográfico “Lobão: 50 anos a mil”, feito em parceria com o jornalista Claudio Tognolli, Lobão cita:
 
 
"Fui preso de 1986 até 1992, em tudo que era lugar do Brasil eu era preso: a gente era parado na estrada, nos aeroportos, porque o juiz falava que eu era considerado um mal social. Eu mandava todo mundo se f***. Eu já tinha uma algema que levava. Como eu era muito doidão, todo mundo tinha que ser revistado no meu show. Surreal".
 
Pois é... 
 
Voltamos a Porto Velho, em 1988, quando Lobão foi anunciado com pompa e circunstância divulgando o seu show que percorria o País, tocando músicas como “Vida Bandida”, “Vida Louca Vida”, ou “O Eleito”, do disco “Cuidado”, “Quem Quer Votar” de “Sob o Sol de Parador”. Era o seu período mais político também, quando falava de política, consciência social para as pessoas, principalmente os jovens. 
 
Lobão não tinha papa nas línguas e falava mesmo o que viesse na sua cabeça, seja motivado pelas letras de suas músicas ou pelo momento que o país vivia, recém saído do período do estado de exceção - ditadura militar. 
 
Uma das coisas que eu percebi logo que cheguei na quadra do Ferroviário, além do público jovem lotando o espaço, foi a presença da PM, alguns até próximos ao palco. O que não era normal, pois eu havia assistido o show do Paralamas do Sucesso no Clube do Botafogo e não tinha um aparato de segurança desse, somente seguranças contratados pela organização. 
 
O show iniciou muito bem, com uma banda afiada, bem rock’n’roll, pegada até pesada e Lobão já tinha o povo na mão, cantando. Vez ou outra falava sobre conscientização na hora de votar. Lá pelas tantas ele acendeu uma cigarrilha, e falou da liberação da maconha, que as pessoas que mandam no país ainda eram caretas. As vezes soltava um palavrão e um gritava um “vá se f***”. Foi o gatilho. 
 
Mal acabou o show e Lobão foi abordado pelos policiais e conduzido para a delegacia central para prestar esclarecimentos sobre a sua conduta no palco, linguagem chula e “apologia às drogas”. Foi um meio escândalo, pois o músico já era visado mesmo. Ele tirava de letra, mas acrescentava mais uma condução à polícia na sua carreira.
 
Virou manchete nos jornais no dia seguinte. 
 
11 anos depois... 
 
Em 1999 o Lobão era um “novo Lobão”, se resguardou por um período, saiu da mídia e foi estudar violão clássico, quando então regulou a sua vida, se tornando clean, limpo, careta um cara que amava comer sushi - emagreceu muito - e tomar café sem açúcar. 
 
Ele também estava fazendo um levante proposto por sua independência musical, sem gravadoras, onde podia tomar conta da venda de seus trabalhos. Foi quando lançou o CD “A vida é doce”, pela sua gravadora Universo, vendendo nas bancas de revistas. E foi uma revolução e sucesso para um produto totalmente indenpedente, vendendo 100 mil cópias. 
 
Em vista desse sucesso, Lobão se lançou em uma turnê acústica por todo Brasil em um show chamado “Luau Indoor” - que ressurgiu recentemente. Era ele e os seus violões, cantando todas as faixas do CD “A vida é doce” e clássicos da sua carreira, como “Me Chama”, por exemplo. 
 
Foi o meu penúltimo ano no jornal Alto Madeira como editor de cultura e fui convidado para cobrir esse show acústico, que ocorreria em um palco montado próximo a pérgula da psicina do Hotel Villa Rica, um espaço aberto e bem localizado, próximo a saída da recepção e do salão de acesso ao restaurante. 
 
Uma das organizadoras desse evento musical era a jornalista e produtora Nane Moraes, uma pessoa íncrível e de enorme sensibilidade - posteriormente ela traria ainda o músico Zeca Baleiro em um show inesquecível no mesmo espaço e que ele se indispôs com a Bailarina da Praça quando essa adentrou o palco sem ele perceber - isso cabe outra história.
 
Pois bem, o show do Lobão nessa noite foi uma pintura de Monet, delicada, uma paisagem sonora quase visual do impressionismo, com ele dedilhando o violão com uma carga emocional abrangente. A plateia atenta, não interferiu em nenhum momento, até chegar próximo ao fim e ele cantar “Me chama”, aí mais visceral e entregue. Um show perfeito. 
 
O que me lembro bem antes desse show foi uma coletiva programada com o artista em uma das salas do hotel, onde ele também estava hospedado. 
 
A Nane chamou a imprensa para um bate papo com o Lobão, para falar sobre a sua turnê, o show que faria em Porto Velho. Ou seja, o de praxe como pré show. Esse material poderia ser usado como apoio para a cobertura da apresentação que seria mais tarde. na coletiva estava eu, pelo Alto Madeira, e outro jornalista bastante conhecido, pelo Estado do Norte, não vou citar o nome. Vamos lembrar que em 1999 não existia ainda sites de notícias ou internet para tal suporte. 
 
Dessa coletiva eu perguntei o básico sobre o novo trabalho dele no mercado e o show em Porto Velho, já o outro jornalista lascou uma pergunta sobre a vida pregressa de Lobão quando era “loucão” e a sua primeira passagem em Porto Velho quando quase foi quase preso. 
 
Bom, digamos que Lobão não gostou da pergunta, ficou bem irritado. Acendeu uma cigarrilha preta, pediu um café estupidamente amargo e sem açúcar e deu uma bicada na sua água mineral com gás. Disse que a sua vida naquele momento era outra e que coisas do passado eram do passado, que deveriam focar na sua carreira daquele momento. 
 
A noite após o show, Lobão ficou à disposição para atender a galera, pois logo na entrada do saguão do hotel tinha uma mesa disponível com as cópias do CD “Vida Doce” à venda e com direito a autógrafo, ele sentado em uma cadeira, junto a mesa e recebendo o público. Não fui besta e peguei o meu autógrafo. 
 
Um tempo depois, em 2020, eu vendi esse CD por 200 reais na internet. Estava com ranço do Lobão. 
 
Atualmente o artista está Zen novamente, com a barba grande, como um profeta do apocalipse, restabelecido de novo com o seu espetáculo ‘Luau Indoor”, fazendo show no circuito Rio-São Paulo e agora, nas suas palavras, totalmente antipolítico. 
 
A sua passagem por Porto Velho em dois momentos distintos gerou ótimos recordatórios, para o bem ou para mal, um grande artista.
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