Faleceu aos 91 anos, de causas naturais, o ex-ator e policial rodoviário da reserva, que nos anos 1960 foi protagonista do primeiro seriado brasileiro e da América Latina produzido em película e filmado em preto e branco. Trata-se de "O Vigilante Rodoviário", criado, escrito e produzido pelo cineasta Ary Fernandes, que também fez algumas participações especiais neste e em outra criação sua, "Águias de Fogo", lançado em 1968, e assim como "O Vigilante Rodoviário", foi originalmente transmitida pela extinta TV Tupi.
Talentoso e eclético, Ary Fernandes também compôs a canção tema de abertura da série, intitulada Canção do Vigilante Rodoviário.
Carlos Miranda foi o protagonista dos 38 episódios do seriado, sempre acompanhado do seu fiel pastor alemão chamado Lobo. No início, o policial montava em sua Harley-Davidson, mas um acidente com o cachorro, que teve o rabo queimado no escapamento da moto e não quetia mais subir na garupa. Para resolver o problema, Carlos passou a patrulhar no volante de um Simca Chambord 1959, na altura do km 38 da Rodovia Anhanguera onde a maior parte dos episódios foi filmado devido ao clima que se apresenta ensolarado em grande parte do ano, fator fundamental para as filmagens externas.
À época, como o orçamento era apertado, foram convidados a fazer parte, atores até então em início de carreira, como Fúlvio Stefanini, Rosamaria Murtinho, Ary Fontoura, Stênio Garcia, Juca Chaves, Ari Toledo, Tony Campelo, Mílton Gonçalves, Luiz Guilherme, entre outros.
Pioneira e lendária produção, "O Vigilante Rodoviário ", foi uma resposta nacional aos ditos "enlatados", como eram denominados, de forma pejorativa, os seriados norte-americanos exibidos pelas tvs naquela época. Ary Fernandes, com muita determinação, criatividade e poucos recursos, conseguiu a proeza de realizar o que pode ser chamado de avô das séries e minisséries nacionais. A produção fez muito sucesso e até hoje é lembrado por aqueles que em criança, não perdiam nenhum episódio de "Vigilante Rodoviário".
Em comparação às produções atuais, com muitos tiros, violência, sangue, o seriado de Ary Fernandes pode parecer bobo, lento, com atuações ruins, falas empostadas e cenas de lutas, digamos, infantis, mas naquele tempo era uma verdadeira sensação e o público ficava de olhos vidrados na tela acompanhando as aventuras do patrulheiro Carlos e os perigos e vilões que enfrentava no decorrer de cada episódio. É nostalgia pura.
Produção cem por cento nacional
Desde criança, Fernandes sentia falta de um herói cem por cento brasileiro. A criação da série foi a realização deste antigo sonho. A escolha do tema foi a admiração que ele próprio nutria pela Polícia Rodoviária e pela simpatia que a população sentia por este órgão. Foi ao ar pela primeira vez em uma quarta-feira de março de 1961 na Tupi às 20h05 após o Repórter Esso, patrocinado pela Nestlé do Brasil.
Em 1967, foi novamente exibido pela mesma emissora. Durante a década 1970 a série foi reprisada pela Rede Globo. Até então, a Globo era a única emissora que havia reprisado a série além da Tupi. Para deleite do fãs nostálgicos, o seriado foi lançado em DVD, numa caixa com quatro discos contendo 35 episódios. No total foram produzidos 38, mas um se perdeu e dois se deterioraram.
O começo
O primeiro episódio da série foi O Diamante Grão Mongol, sobre ladrões internacionais que entraram no país pelo porto de Santos. Devido ao pouco tempo disponível entre as filmagens dos episódios, foi necessário que o personagem do Vigilante fosse dublado. Para esta tarefa foi contratado um rádio ator da Rádio São Paulo. A série recebeu os mais expressivos troféus, entre eles, o Troféu Roquete Pinto, o Sete Dias na TV e o Troféu Imprensa.
Refilmagem
Em 1978, Ary Fernandes e a Procitel - Produções Cine Televisão Ltda. como a produtora do seu filme piloto e outros cineastas participantes foram escolhidos por meio de um projeto da Embrafilme que visava incentivar a produção nacional de filmes de alta qualidade. Com o filme piloto para uma nova série de O Vigilante Rodoviário pronto, ele seria encaminhado à censura federal, e consequentemente, seria apresentado às emissoras para que fosse dada a continuidade. O ator escolhido para viver o vigilante Carlos teria sido o galã Antônio Fonzar. Para viver o cão Lobo, foram utilizados cinco cães da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Por problemas enfrentados pela Embrafilme, no entanto, esse projeto não pôde ser concluído, ficando restrito a somente um filme – que jamais exibido.
No ano de 2008, Fernandes e a produtora e o Canal Brasil/Globosat selaram parceria e trouxeram novamente para TV as aventuras deste primeiro herói brasileiro. Dos 38 episódios originais, um deles foi deteriorado (perdido) e os outros dois tiveram problemas e não puderam ser remasterizados e telecinados. Para esta nova temporada, um total de 35 episódios foram relançados a partir de 9 de março de 2009 pelo Canal Brasil, todas às segundas às 20h30, com reapresentação nas terças às 15h30 e domingos às 11h. Em 2013, um projeto de remake foi anunciado. Em março de 2020, passou a ser exibida pela TV Brasil.