EXCLUSIVO: Indígenas denunciam suposto desvio de combustível no DSEI de Porto Velho

Segundo documentos, uma motosserra que cabe apenas 2 litros de gasolina, recebeu quase 300 litros do produto

EXCLUSIVO: Indígenas denunciam suposto desvio de combustível no DSEI de Porto Velho

Foto: DSEI de Porto Velho já foi alvo de diversas operações policiais; o registro dessa foi em maio de 2019 - Divulgação/PF

Desde 2020, o povo indígena Tenharim, que vive no Médio Rio Madeira, entre Rondônia e o Sul do Amazonas, denuncia um suposto desvio de combustíveis no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Porto Velho, que atende aquela região. 

 

Segundo eles, que procuraram o Rondoniaovivo, em setembro daquele ano, foi enviada uma denúncia formal ao então coordenador do DSEI, Eloy Bernal, onde em mais de dois anos, nada foi feito.

 

“Ao invés de apurar, ele fez foi abafar todo o caso grave. Ainda enviamos o mesmo documento para o secretário especial de Saúde Indígena [Sesai], Reginaldo Ramos, em Brasília. Mas o coordenador do DSEI escondeu isso dele também”, desabafou Tarigá Tenharim, um dos denunciantes que procurou o Rondoniaovivo.

 

Movimentação mostra que em 20 minutos (entre 16:54 e 17:14) a denúncia foi arquivada no DSEI - Reprodução de tela

 

Eles contam que, em setembro de 2020, foi feita uma primeira denúncia oficial sobre o desvio de combustíveis dentro do DSEI, na capital de Rondônia. O DSEI é ligado a Sesai, órgão especializado em saúde indígena do Ministério da Saúde, à época comandando pelo general reformado do Exército, Eduardo Pazuello.

 

Em março do ano de 2021, a empresa Medição, responsável pelo contrato do aluguel de veículos e motoristas fez um ofício questionando o coordenador do DSEI sobre o abastecimento de veículos feito por profissionais já desligados da empresa.

 

Empresa Medição enviou ofício ao coordenador do DSEI em Porto Velho questionando abastecimento de veículos por motoristas que não eram mais contratados

 

O documento ainda destaca também que foram abastecidos automóveis enviados para Manaus (Amazonas), recolhidos pela empresa em julho de 2020, conforme ofício repassado ao jornal eletrônico. Os cartões de crédito usados estariam em Porto Velho, sob responsabilidade do DSEI.

 

Um motorista, conforme os indígenas, falou que usaram os documentos pessoais dele indevidamente. “Estavam usando meu CPF e cartões com senha pessoal dos motoristas que nem trabalhavam mais lá”, afirmaram.

 

Documento também destaca incoerências no abastecimento de caminhonetes que eram da empresa e estavam alugadas para o DSEI

 

Os indígenas afirmaram que esse motorista ainde pensou em procurar os meios judiciais para denunciar o uso ilegal dos documentos dele. Porém, relataram, o profissional se conformou com a explicação dada sobre a situação e resolveu não mover nenhuma ação.

 

“Eu queria entrar com um processo de danos morais, mas me fizeram um apelo e deixei quieto, pois me disseram que foi um erro da secretária”, falou ele por meio de áudios de WhatsApp.

 

Mais detalhes

 

Ainda de acordo com essas gravações, a secretária do coordenador Eloy Bernal era responsável pelo sistema de cartões de abastecimento, sendo que ela tinha acesso irrestrito ao sistema.

 

“Ela tinha todas as senhas e podia alterar os acessos. Ainda fazia o cadastro, a transferência de combustíveis. Tudo ficava na mão dela”, explicou Tarigá, que também é uma das lideranças do povo Tenharim.

 

Demonstrativo de fiscais destaca que "motor serra só pega 2 litros" e mostra abastecimento com 264 litros de gasolina

 

Segundo as lideranças dos indígenas, que reforçam que foram prejudicadas com esse suposto desvio de combustíveis, havia um possível esquema de “rachadinha” com postos de abastecimento de Porto Velho.

 

“Todos esses abastecimentos sempre aconteciam em um determinado posto. Os documentos que enviamos para a Sesai mostram uma motosserra que abasteceu 264 litros, sendo que cabe só dois litros nela. Tem caminhonetes que abasteciam 558 litros, enquanto o tanque só cabia 150 litros. Tudo um absurdo”, disse Tarigá Tenharim.

 

Desdobramentos

 

O povo Tenharim informou ao Rondoniaovivo que somente no dia 28 de junho de 2021, ou seja, um ano depois da primeira denúncia, o DSEI de Porto Velho fez a abertura do processo para apuração.

 

“O coordenador Eloy no mesmo dia encerrou o processo. Mais de dois anos se passaram e não teve nenhuma apuração, nenhuma resposta. Inclusive a secretária dele que estaria envolvida continua lá, trabalhando normalmente. Houve um desligamento apenas do esposo dessa secretária”, afirmou Tarigá Tenharim.

 

Outro apuração mostra caminhonetes com tanque de 150 litros sendo abastecidas com mais de 500 litros de combustível 

 

E seguem os relatos das supostas irregularidades: “Foi descoberto há pouco tempo que esse marido da secretária fez desvio de peças de carros de lá. Somente o demitiram para abafar o caso e a esposa continuou lá e pode estar cometendo as mesmas falhas”.

 

Não bastasse o suposto desvio de combustíveis comprados com dinheiro público, além do possível desvio de peças, os indígenas ainda dizem que os responsáveis pelo DSEI ainda fazem ameaças.

 

“Essa secretária fez ameaças a pessoas que trabalham no distrito, dizendo que serão demitidas porquê ela é íntima do coordenador e ele faz tudo o que ela quer ou manda ela fazer. Sendo que até uma reunião foi feita com os servidores para defendê-la”, pontuou o indígena que conversou com o jornal eletrônico.

 

Outra motosserra que só caberia dois litros de gasolina recebeu pelo menos 250 litros do produto

 

Nos documentos enviados à Sesai em Brasília foram feitas algumas exigências que foram reproduzidas ao Rondoniaovivo:

 

“Solicitamos a demissão dessa secretária em poucos dias, além da exoneração do coordenador. Caso isso não seja atendido, vamos encaminhar todos esses documentos para o Ministério Público Federal e Polícia Federal. Vamos tomar as providências do nosso jeito, com fechamento do DSEI de Porto Velho por tempo indeterminado, além de bloquear a BR-364 para que a imprensa saiba do descaso e roubo que estão acontecendo dentro do DSEI”.

 

Anotações dos fiscais do contrato: "Motor de Alta Floresta sendo abastecido aqui em PVH, o cartão se encontra no gabinete desse DSEI; Tão usando a senha dos servidores, a senha do coordenador, tem a possibilidade de ver a senha de todos os servidores"

 

Respostas

 

Tentamos contato com o coordenador Eloy Bernal, mas não conseguimos. Procuramos se ele tinha perfis em redes sociais, porém, também não foram encontrados.

 

Durante um mês, tentamos falar via WhatsApp com o então secretário especial de Saúde Indígena, Reginaldo Ramos, por meio do número (61) 99176-**** e não tivemos nenhum tipo de resposta.

 

E desde a última segunda-feira (16) o Rondoniaovivo esteve em contato com a assessoria de comunicação do Ministério da Saúde em Brasília.

 

Na última resposta, limitaram-se a apenas nos informar por e-mail que “seu pedido está com a área responsável, mas ainda não tivemos retorno. Responderemos o mais rápido possível”. De lá para cá, não houve mais nenhum tipo de posicionamento.

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