DATA SIMBÓLICA: Estrada de Ferro completa 110 anos e continua fechada ao público

01 de agosto marca inauguração do complexo que deu origem a Porto Velho

DATA SIMBÓLICA: Estrada de Ferro completa 110 anos e continua fechada ao público

Foto: Prefeitura divulga que EFMM está pronta, mas não divulga data de reabertura - Leandro Moraes/PMPV/SMC

O primeiro dia do mês de agosto marca os 110 anos da inauguração da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM) para o mundo. Em 1912, o complexo entrava em atividades, com o principal foco de levar a borracha da Bolívia e da região de Guajará-Mirim para os mercados internacionais, especialmente Estados Unidos e Europa.

 

Passado um século e uma década, a população de Porto Velho tem pouco frequentado ou aproveitado o conhecimento histórico e o lazer que a EFMM poderia proporcionar: nostalgia para os mais antigos e informações importantes para os mais novos.

 

Apesar de matérias institucionais da prefeitura comemorando os resultados de uma reforma iniciada em 2019, que já consumiu mais de 20 milhões de reais, não há data prevista para reabertura do complexo ferroviário.

 

Foto: Leandro Moraes/PMPV/SMC

 

Lamentações

 

De forma oficial, ainda na gestão Roberto Sobrinho (PT), em 2010, foram gastos 12 milhões de reais. Já em 2019, sob a administração Hildon Chaves (PSDB), foram mais R$ 20 milhões, fruto de compensações sociais da Hidrelétrica de Santo Antônio.

 

Mas, segundo o ativista e pesquisador da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, Anderson Leno, foram direcionados R$ 18 milhões em 2010 e outros 30 milhões de reais gastos nos últimos três anos, na administração do PSDB.

 

“Houve contrapartida da prefeitura de R$ 7 milhões nessa última obra. Até pouco tempo atrás, ainda tinha a placa do Roberto Sobrinho e lá apareciam esses 18 milhões, também de compensações sociais. Fizeram basicamente o que estão fazendo hoje: pintaram tudo, deram um grau, apararam o mato. Tem um calçamento que já está quebrando e se desgastando. Tem o enrocamento, mas é muito recurso para pouco serviço efetivo”, lamentou o ativista.

 

Anderson Leno critica obras que duram pelo menos 12 anos - Foto: Arquivo Pessoal

 

O ativista ferroviário também acredita que os administradores públicos vão dar um “jeitinho” para fazer uma comemoração pelo aniversário de inauguração da EFMM.

 

“São 12 anos parada, vendo as locomotivas sem uso, peças sendo furtadas, cortadas, derretidas, sendo presenteadas como adorno. Ninguém faz nada. Acho que vão fazer uma queima de fogos, com bandas de axé, pagode. E um palanque com muitos políticos. Uma inauguração meia-boca para dizer que estão inaugurando antes das eleições e talvez fechem novamente”, falou Leno.

 

Lembranças

 

Por outro lado, quem realmente ama e tem memória dos bons tempos da EFMM, pode contar com a memória viva dos ferroviários e ex-ferroviários que lutam para manter acesa a chama dos conhecimentos e da importância que as locomotivas tiveram no surgimento de Porto Velho e no desenvolvimento de Rondônia.

 

Uma dessas figuras é Antônio Moisés Cavalcante. Ferroviário há 40 anos, para ele, o surgimento da capital só veio em decorrência da construção da EFMM. Ele entende que ali está o início não só da história do município, mas de todo estado de Rondônia.

 

Antônio Moisés Cavalcante trabalha há 40 anos na EFMM e destaca importância do complexo para a história de Porto Velho - Foto: Saul Ribeiro/PMPV/SMC

 

Antônio conta que não alcançou o auge da Madeira-Mamoré, já que começou a trabalhar no local em 1982, quando o trem fazia apenas viagens turísticas até a comunidade de Santo Antônio, em um trecho de 12 quilômetros.

 

“Eu era ajudante do seu José Evaristo. O seu Nicanor era o condutor principal da litorina e me ensinou a trabalhar. Foi uma experiência muito boa e que nos traz muitas saudades”.

 

Pouco tempo depois, Moisés se tornou o condutor da litorina e um apaixonado pela Madeira-Mamoré. Tanto que ainda hoje trabalha no complexo da EFMM ajudando a preservar o patrimônio histórico.

 

“A EFMM é tudo para mim, faz parte da minha vida. Eu vivo mais aqui no pátio da ferrovia do que na minha casa, então ela representa tudo”.

 

O ferroviário segue no comando da litorina, que ainda faz pequenos passeios dentro da Estrada de Ferro - Foto: Saul Ribeiro/PMPV/SMC

 

Histórico

 

De acordo com o doutorando em história Célio Leandro, a origem da lendária ferrovia está no Século XIX, quando a Bolívia tentou emplacar a construção da EFMM, mas acabou desistindo por conta das inúmeras dificuldades.

 

Anos mais tarde, quando o Brasil conquistou o Acre, através do Tratado de Petrópolis, é que o audacioso projeto começou a se tornar realidade. “Com o Tratado de Petrópolis o Brasil assume a responsabilidade de construir esse grande empreendimento, iniciando em 1905 e tendo sua conclusão em 1912”.

 

O grande interesse do Brasil era a exportação da borracha, já que na época o País era o maior produtor de borracha do mundo.

 

Trabalhos

 

Com o Brasil no comando da obra, a construção da ferrovia começou a se tornar realidade e uma grande estrutura foi montada. Percival Farquhar, o responsável pelo empreendimento, começou a trazer pessoas de mais de 50 países para trabalhar na EFMM. Com isso, foi montado o primeiro hospital, o primeiro restaurante industrial, energia elétrica e até fábrica de gelo.

 

“Foi montado todo um grande aparato para recepcionar esses trabalhadores e, a partir daí, deu início a construção dessa ferrovia”, afirma Célio.

 

Historiador Célio Leandro resume a saga para a construção da EFMM, responsável pelo surgimento de Porto Velho - Foto: Saul Ribeiro/PMPV/SMC

 

Desenvolvimento

 

A grande importância da ferrovia na época da sua inauguração, na visão de Célio Leandro, foi o surgimento da cidade de Porto Velho, já que o ciclo da borracha, seu grande objetivo, estava em decadência, pois os ingleses estavam produzindo a borracha na Ásia.

 

“Lucro mesmo, de fato, ela só vai dar na década de 1940, quando vem o segundo ciclo da borracha e o Brasil vai investir novamente; novos vagões, novas ferrovias, mas todas as primeiras décadas do seu período de inauguração foram deficitárias”, destacou o historiador.

 

Já atualmente, a importância se dá pelo valor histórico da Madeira-Mamoré: “Pessoas que aqui viveram, que aqui trabalharam, que aqui morreram são as responsáveis por tudo o que somos hoje. A importância da Estrada de Ferro é a origem de Porto Velho”, explicou Célio Leandro.

 

*Com informações divulgadas pela Prefeitura de Porto Velho, sob responsabilidade de Augusto Soares, da Superintendência Municipal de Comunicação (SMC).

 

Foto: Leandro Moraes/PMPV/SMC

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