A secretária municipal de Saúde de Cacoal, Janayna Gomes, esteve na Câmara de Vereadores na segunda-feira (03) para responder perguntas sobre as mais de 30 mortes ocorridas na clínica de hemodiálise que está sob a gestão da Prefeitura da cidade desde fevereiro deste ano. Ela foi incoerente e mostrou desconhecimento sobre diversos assuntos durante sua participação.
Janayna fez uma apresentação no telão do auditório, onde minimizou as notícias que divulgaram que havia superbactérias na unidade sob a gestão do município.
Afirmou que na hemodiálise, há pacientes que sentem febre ou calafrios são submetidos a exames de “homocultura” (na verdade, a secretária errou o nome, que é hemocultura). Repetiu o erro de português várias vezes, demonstrando não conhecer o procedimento.
Ela disse ainda que a presença das superbactérias mencionadas em reportagem do Rondoniaovivo não significa que as contaminações teriam acontecido pela água da hemodiálise, já os organismos podem ter sido contraídos pelos pacientes em outros lugares.
Janayna ainda sugeriu que os pacientes teriam se contaminado por conta própria pela gaze ou atadura que cobre o catéter.
A secretária ainda culpou a gestão anterior da clínica por outras ocorrências, mesmo que não tenha acontecido a quantidade atual de mortes. Ela não pontuou quais medidas teria adotado para diminuí-las desde quando a Prefeitura de Cacoal assumiu o centro de diálise.
Janayna fez uma proposta estranha: para diminuir as infecções e mortes, um profissional de fora da clínica deveria ser convocado para cuidar da situação, ignorando o conhecimento que as médicas responsáveis pelos pacientes infectados têm do assunto.
Mortos
Quando questionada sobre o alto número de mortes entre fevereiro e setembro deste ano, a secretária de Saúde reconheceu que foram 33 pessoas morreram contra 15 do ano passado.
Entretanto, Janayna Gomes apontou que apenas 23 pessoas de Cacoal. Ela não mencionou as 10 de outros municípios que morreram desde a intervenção da Prefeitura.
A titular da pasta apresentou que atualmente há 47 pacientes em tratamento na clínica. O que significa que considerando os 23 cacoalenses mortos desde fevereiro, 33% ou 1/3 dos moradores da cidade morreram durante a administração da Prefeitura. Ou seja: havia 70 pessoas frequentando o local.
Recursos
O vereador Paulo Henrique (PTB) questionou a forma de gestão da clínica pelo município por meio da TRS Diálise, cujo contrato está vencido desde maio e suspenso desde 10 de fevereiro (dia da intervenção municipal).
A secretária falou que a manobra orçamentária é realizada com autorização judicial concedida na ação civil pública nº 7000793-72.2021.8.22.0007 e que o município está prestando contas de todos os gastos.
O vereador desmentiu que não existe nenhuma autorização judicial para o gerenciamento da contabilidade dos serviços de diálise por empresa sem contrato.
Ele explicou que houve uma liminar para que o município e o estado garantissem a continuidade do serviço, seja por meios próprios ou dando suporte financeiro para que o serviço continuasse pela TRS ou ainda por outra empresa e não que fosse feita requisição administrativa e na gestão da empresa particular.
A decisão judicial refere-se exclusivamente à continuidade do serviço, não tendo o juízo especificado o meio para que a Prefeitura e o Governo do Estado resolvessem o problema.
Em audiência de conciliação, o Governo ofereceu uma ajuda de 720 mil reais para custeio da hemodiálise. É em relação a esse repasse que a Prefeitura tem prestado contas no referido processo.
Já a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) se manifestou no sentido de que a Prefeitura deveria se habilitar ao Ministério da Saúde para receber os recursos que custeiam as atividades na hemodiálise.
Absurdo
Em uma defesa esdrúxula, o vereador Paulinho do Cinema (PSB) chegou a insinuar que os pacientes testados como positivos para as infecções teriam sido contaminados em outros lugares como rios, lagos, torneiras etc.
O parlamentar destacou que a imprensa publica mentiras, que há pessoas querendo tumultuar e tornar mais grave um assunto que é simples: a morte de 1/3 dos pacientes cacoalenses que faziam hemodiálise em 2021.
Paulinho do Cinema falou que possui um documento provando que alguém estaria sabotando a gestão da Prefeitura na hemodiálise. Essa afirmação foi respaldada por Janayna Gomes, sem que o tal papel fosse apresentado na sessão da Câmara.