Recentemente, o Ministério Público Estadual (MPE) instaurou um feito extrajudicial, na classe de fatos difusos e coletivos, na área da saúde, para apurar a explosão de mortes no Centro de Diálise de Cacoal, após a Prefeitura assumir o serviço.
No último dia 18 de outubro, o
Rondoniaovivo divulgou a denúncia de uma suposta contaminação de máquinas de hemodiálise em Cacoal. Pelo menos 30 mortes teriam ocorrido em apenas sete meses da intervenção.
Um médico que trabalhava no local antes da intervenção e pediu para não ter a identidade divulgada, analisou a situação, que é considerada grave.
Ministério Público investiga 30 mortes em clínica de hemodiálise assumida pela Prefeitura de Cacoal
“Aumento elevadíssimo de óbitos. Nesse período, de nove meses, foram 30 mortes. Ano passado foram 14. A contaminação está em dois bicos de máquinas e no líquido da máquina de diálise. Isso foi detectado em setembro, mas não sabemos desde quando está acontecendo, nem se isso tem relação com a falta da troca dos filtros. Mas é incontestável. Está presente no laudo de controle da água”, destacou ele.
Segundo um laudo do laboratório Analytical Química e Engenharia (de Cuiabá-MT), especializado em exames microbiológicos de empresas de hemodiálise, emitido no último dia 08 de outubro, confirma a contaminação bacteriana em pelo menos três máquinas da clínica TRS Hemodiálise, assumida pelo Executivo municipal.
Uma médica, que também trabalhava no Centro de Diálise de Cacoal, ainda quando era operado pela empresa TRS Hemodiálise, pontua quais outros problemas que podem gerar a contaminação e morte dos pacientes.
“A mudança profunda de funcionários, onde saiu muita gente, entrou muita gente. Muita gente mal treinada, sem conhecimento do tipo de serviço que ia fazer, isso aumenta muito o número de contaminações por curativos, de fístula, de cateter e da manutenção das máquinas podem ser causas também”, falou ela, que pediu para não ter o nome revelado.
Equívoco
A Prefeitura de Cacoal divulgou um outro laudo produzido pela mesma empresa, que costumeiramente faz as análises das amostras da hemodiálise, alegando ser a contraprova que contradiz o resultado daquele que tinha constatado contaminação.
Mas, o segundo laudo (chamado de contraprova), que chegou a ser exibido em um programa de TV da cidade, na verdade, indicava o dia 16 de setembro como data de coleta do material, enquanto o laudo que certificava a contaminação da água da clínica analisou amostras coletadas em 26/08, mais de 20 dias antes das amostras analisadas na suposta contraprova.
Mais contaminação
O
Rondoniaovivo teve acesso a outros dois laudos de contaminação emitidos pelo laboratório Analytical Química e Engenharia (de Cuiabá-MT), anteriores àquele publicado.
Os Relatórios de Ensaios de Protocolos 21.1694 e 21.1977, o primeiro referente a análise da água utilizada no mês de abril de 2021, e outro referente a água utilizada no mês de maio, na clínica de hemodiálise de Cacoal (em 14 e 24 de maio) apontaram níveis de contaminação bacteriana muito maior, quando a Prefeitura de Cacoal já tinha tomado o serviço da clínica TRS Hemodiálise.
Mortes
Entre fevereiro (quando a Prefeitura assumiu a atividade) e setembro deste ano, entre 110 pacientes crônicos de terapia renal substitutiva, houve 30 mortes em apenas 7 meses.
No mesmo período de 2020, quando a empresa era administrada por seus proprietários, em 136 pacientes da hemodiálise houve 14 mortes.
Os dados mostraram que 30% dos pacientes em tratamento neste ano, morreram. Segundo nefrologistas ouvidos pelo Rondoniaovivo, o índice não é normal.
Eles ainda falaram que dependendo das providências que a Prefeitura tome, podem acontecer mais mortes por causa da contaminação da água, que já foi constatada na clínica.
Detalhes
O serviço de hemodiálise de Cacoal foi assumido pela Prefeitura no dia 10 de fevereiro deste ano. O Executivo municipal não tem experiência na administração desse tipo de procedimento.
A Prefeitura decidiu intervir na hemodiálise em razão da empresa ter anunciado publicamente que não estava em condições de bancar os custos da operação, devido a inadimplência da própria Prefeitura.