“Morava com a minha irmã na mesma casa, mas ela começou a namorar um homem que usava tornozeleira eletrônica. Eu fiquei curiosa e resolvi saber qual o crime que ele havia cometido, quando descobri, através de amigos, que ele havia ficado preso por feminicídio. Eu avisei a minha irmã sobre o que havia ocorrido, mas ela ignorou. Eu saí da casa, pois tive medo do que ele poderia fazer, caso eu o confrontasse sobre o crime. Ela falou que iria continuar com ele”.
O relato acima é de uma professora, que preferiu não se identificar, e mostra os perigos a que muitas mulheres se expõem ao iniciarem relacionamentos sem procurarem saber quem é a pessoa com quem estão se envolvendo.
O Brasil é um dos países que mais matam mulheres no mundo. Um levantamento feito pela Rede de Observatórios da Segurança, mostra que no ano de 2020, pelo menos cinco mulheres foram mortas ou vítimas de violência por dia.
Esses números foram monitorados nos estados de São Paulo, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Ceará, onde constatou-se 449 casos de feminicídio no ano passado. Ou seja, quando as vítimas foram mortas por serem mulheres.
Ameaças
Em Rondônia, a violência contra mulher tem deixado suas marcas e vítimas. Umas dessas é Ana Marins, que durante quatro anos sofreu em um relacionamento abusivo, onde o ex- companheiro ameaçava fazer algo contra o filho e a avó dela, caso ela o deixasse. “Ele ia no meu ponto fraco”, disse.
Ana contou que até chegou a denunciar o ex na Justiça pelas ameaças e agressões que vinha sofrendo. Essa atitude deu a ela uma medida protetiva contra homem. No entanto, ela se compadeceu da situação dele e retirou a medida protetiva. Doce ilusão! Ele acreditava na impunidade!
“Quando estávamos a sós, ele me torturava dizendo que se eu largasse dele, ele sabia onde meu filho estudava e podia passar na escola e dá um tiro no pé do menino, na perna ou, simplesmente, na cabeça. Depois, disse que fugiria e que até acharem ele, já estaria fora do flagrante. Eu consegui me separar dele e, hoje, estou em uma nova relação. Digo para as mulheres que antes de procurar saber sobre a vida do outro, tem que saber sobre você mesma, se conhecer melhor e qual o tipo de pessoa que quer ao lado”, relatou Ana.
Além disso, ela lembrou que ainda teve que enfrentar a família do ex, que não queria que ela o denunciasse.
Informações
Como uma mulher pode se prevenir de relacionamentos abusivos? Uma formula 100% segura não existe. Mas algumas precauções podem e devem ser tomadas antes de se mudar o status nas redes sociais, de solteiro para relacionamento sério.
O Brasil é um dos países onde mais ocorre agressões e assassinatos de mulheres no mundo
Para Teresa Beni, 32 anos, moradora da região de Pimenta Bueno, nos dias atuais como a quantidade de crimes violentos contra as mulheres crescendo é muito perigoso iniciar um novo relacionamento amoroso sem antes ter algumas informações sobre o pretendente. “Eu procuro saber se tem antecedentes criminais, sobre a família e se demonstra ser violento”, afirmou.
Ela contou que já terminou um relacionamento ao perceber que o rapaz era muito violento com os pais. Isso já acendeu um alerta em Teresa, que confirmou as desconfianças quando conheceu algumas ex namoradas e todas confirmaram que haviam sido agredidas pelo homem, que sempre ficou impune. Ela só vê uma explicação para isso. “Ele era da alta sociedade da cidade”, avaliou.
Mas esse cuidado de Teresa, em saber com quem está se relacionando se deve a um fato ocorrido na vida dela que a marcou. Ela ingenuamente, deixou de checar quem era a pessoa com quem estava se relacionando e sofreu muito por isso.
“Chega a doer em falar sobre isso. Mas era o pai da minha filha. Na época, não ouvi a família dele. Nunca me agrediu fisicamente, mas psicologicamente, sim. Foram dois anos difíceis. Até hoje, vive ameaçando tomar a minha filha. Hoje, procuro conhecer sempre os amigos mais próximos, vejo os antecedentes criminais e, principalmente, a família. A forma como trata os pais, diz muito sobre a pessoa”, acredita.
Militares americanos
A delegada Lucilene Pedrosa de Souza, diretora do Departamento Metropolitano da Polícia Civil de Rondônia, que já atuou na Delegacia da Mulher, observa que muitas mulheres demonstram certa ingenuidade e se tornam presas fáceis de homens mal-intencionados.
“Tive um caso de uma mulher que conheceu um homem pela internet e ele dizia ser oficial do exército americano em combate em um outro país. Começaram o romance virtual e ele disse à ela que iria casar com ela, e que mandaria uma caixa com dinheiro, cerca de 500 mil doláres para que ela recebesse no Brasil. Dias depois, falou que a encomenda estava em Brasília, mas precisava de R$ 5 mil para que fosse liberada. Ela enviou o dinheiro. Algum tempo depois, falou que precisava de mais dinheiro para liberação, ela mandou mais R$ 5 mil. No final, ela gastou R$ 15 mil, até se dar conta que era um golpe. Aì, ela passou a ser chantageada por ele. Foi quando ela foi a delegacia e denunciou”, contou.
A delegada Lucilene Pedrosa de Souza diz que as mulheres devem desconfiar de homens que insistem em relacionamento, pois, se for algo normal, não tem essa pressão toda
A policial aconselha que as mulheres devem sempre conhecer a pessoa, se tem nome limpo, a família e amigos. Ela observa que esses cuidados não são garantias de segurança contra essas situações, mas alertam sobre determinadas situações, antes da mulher se aventurar em um relacionamento.
“Nós temos na internet vários vídeos de mulheres falando sobre esses homens que se dizem do exército americano, e dando dicas de como não cair nessa lábia. Além desses nós temos também os indianos, que querem sair do país deles. Para isso, eles pedem dinheiro, ajuda para vir para o Brasil. Alguns vêm e querem se casar com você, só para ter a cidadania brasileira”, explicou.
Lucilene revelou que uma outra característica desse golpista é que eles nunca mostram o rosto nas conversas, pois, não são quem está nas fotos. “Desconfie quando insistirem em um relacionamento, pois, se foi algo normal, não tem essa pressão toda”, finalizou.